Violência fragmentada
23 de outubro de 2003

Cientistas sociais devem desconstruir a dramatização presente no cinema e na televisão para compreender os mecanismos que a mídia utiliza para transformar a violência em espetáculo, defendem especialistas na 27ª Reunião Anual da Anpocs

Violência fragmentada

Cientistas sociais devem desconstruir a dramatização presente no cinema e na televisão para compreender os mecanismos que a mídia utiliza para transformar a violência em espetáculo, defendem especialistas na 27ª Reunião Anual da Anpocs

23 de outubro de 2003

 

Agência FAPESP - O atentado que derrubou o World Trade Center, em Nova York. As cenas reais, que depois viraram documentário, do assalto ao ônibus 174, no Rio de Janeiro. Os dois exemplos mostram como a questão da violência contemporânea está revestida de dramatização, segundos os cientistas sociais que participaram do debate "Violência e construção de significados: gênero e mídia", na 27ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG).

Alex Teixeira, estudante de pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresentou um trabalho em que analisa o programa Linha Direta, da Rede Globo. "O programa não chega a se sobrepor às instituições públicas de segurança, mas se apresenta como uma opção para a sociedade resolver seus problemas", disse.

Desconstruir a dramatização presente no cinema e na televisão, para compreender os mecanismos que a mídia utiliza para transformar a violência em espetáculo é o caminho que deve ser seguido para que as Ciências Sociais possam contribuir com esse debate, na opinião da antropóloga Esther Hamburger, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.

A pesquisadora lembrou como os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos também foram pensados para atingir a mídia. Para ela, a sincronia entre o choque dos dois aviões também foi calculada com esse objetivo

"A linguagem presente é a do espetáculo midiático", disse Esther. Segundo a antropóloga, o próprio caso do ônibus 174 mostra isso. Enquanto exibia cenas do documentário, ela mostrou como o seqüestrador mudou de comportamento ao perceber que sua imagem estava sendo transmitida para todo o país.

"A pergunta que devemos responder é ‘Como falar de violência, por intermédio da mídia, sem estimular esses processos?’", disse a antropóloga.


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