Maria Guimarães, da Secretaria de Saúde do Recife, apresentou no Congresso Brasileiro de Epidemiologia estudo sobre a violência na capital pernambucana (foto: E.Geraque)

Violência econômica
24 de junho de 2004

Estudos sobre homicídios no Recife, de Maria Guimarães (foto), da secretaria de saúde do município, e em Campinas mostram que as classes menos favorecidas do ponto de vista socioeconômico são as maiores vítimas das armas de fogo

Violência econômica

Estudos sobre homicídios no Recife, de Maria Guimarães (foto), da secretaria de saúde do município, e em Campinas mostram que as classes menos favorecidas do ponto de vista socioeconômico são as maiores vítimas das armas de fogo

24 de junho de 2004

Maria Guimarães, da Secretaria de Saúde do Recife, apresentou no Congresso Brasileiro de Epidemiologia estudo sobre a violência na capital pernambucana (foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Nos principais centros urbanos do país, o número de mortes registrados por disparos de armas de fogo nunca esteve tão alto. Na última década, ainda que em algumas cidades as taxas tenham se estabilizado, isso ocorreu em patamares bastante elevados.

Dois casos apresentados durante o 6º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, encerrado nesta quarta-feira (23/6), em Olinda (PE), mostram que olhar com profundidade a epidemia da violência é a única forma que os profissionais de saúde coletiva têm para ajudar o Estado e a polícia, para tentar alterar os números de homicídios das cidades.

Um estudo realizado na cidade do Recife, que tem quase 1,5 milhões de habitantes, mostrou que os homens não são as únicas vítimas dos crimes por arma de fogo. Dados de 2000 a 2002 revelaram que dos 2.871 homicídios que ocorreram na cidade – o Recife é o quinto do ranking nacional em morte a tiros – 191 era de mulheres. A distribuição dessas mortes é heterogênea tanto em regiões da cidade como pela distribuição em faixas etárias.

O estudo apresentado pela Secretaria de Saúde da Cidade do Recife revelou que do total de mortes entre mulheres maiores de 10 anos de idade, 52,9% ocorreu entre vítimas de 20 anos a 39 anos. Outro problema detectado é que vários casos atribuídos à violência sexual deveriam ter entrado na coluna dos homicídios. Os pesquisadores descobriram que muitas mulheres que morreram no hospital foram agredidas por seus parceiros a tiros.

"É muito importante saber o local e a forma das ocorrências. Temos uma necessidade grande de investigar melhor os óbitos. Essa é a única forma que temos para que as intervenções feitas na sociedade possam ter bons resultados", disse Maria Guimarães, autora do estudo e funcionária da secretaria de saúde do Recife.

Na região metropolitana de Campinas, conforme demonstrou Tirza Aidar, do Núcleo de Estudos da População da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um outro fenômeno, também importante na radiogradia da violência, foi percebido pelos pesquisadores.

Cidades que antes tinham uma situação mais tranqüila, em termos de morte violenta, registraram uma explosão em suas taxas no fim da década de 1990. Aparecem com altos indíces de homicídio municípios como Monte Mor e Cosmopólis. A situação também é preocupante na própria Campinas e na vizinha Sumaré.

"As camadas menos favorecidas da população estão sendo as principais vítimas da violência por arma de fogo. Isso sem falar do medo ou dos transtornos psicológicos que eles estão sofrendo", disse a pesquisadora da Unicamp. Segundo Tirza, nessas mesmas áreas existe uma grande exclusão social, como a falta da presença do Estado que se verifica por exemplo, na ausência de escolas.


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