Após estudar os Pirahã, Peter Gordon, da Universidade de Colúmbia, reforça uma teoria polêmica ao verificar que a falta de palavras em uma língua afeta a capacidade de compreensão (foto:arquivo pessoal)

Vida sem números
20 de agosto de 2004

Após estudar indivíduos da tribo Pirahã, no Amazonas, o norte-americano Peter Gordon, da Universidade de Colúmbia, reforça uma teoria polêmica ao verificar que a falta de palavras em uma língua afeta a capacidade de raciocínio

Vida sem números

Após estudar indivíduos da tribo Pirahã, no Amazonas, o norte-americano Peter Gordon, da Universidade de Colúmbia, reforça uma teoria polêmica ao verificar que a falta de palavras em uma língua afeta a capacidade de raciocínio

20 de agosto de 2004

Após estudar os Pirahã, Peter Gordon, da Universidade de Colúmbia, reforça uma teoria polêmica ao verificar que a falta de palavras em uma língua afeta a capacidade de compreensão (foto:arquivo pessoal)

 

Agência FAPESP - Indivíduos que não tiveram contato com um sistema numérico preciso enfrentam problemas para executar tarefas nas quais é preciso comparar objetos. A afirmação é de um novo estudo, que está sendo publicado na edição de 19 de agosto da revista Science.

A pesquisa, conduzida por Peter Gordon, da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, envolve uma antiga dúvida entre os linguistas: se a linguagem pode ou não determinar o raciocínio. Os resultados sugerem que a ausência de palavras em uma determinada língua pode efetivamente limitar a função cognitiva.

Os participantes na pesquisa são representantes da tribo Pirahã, povo isolado com cerca de duzentos integrantes na região entre os rios Maici e Marmelos, no sul do Amazonas.

Segundo Gordon, que estuda há vários anos os Pirahã, apesar de a linguagem da tribo ser complexa em outros aspectos, as únicas palavras que possuem para números são "um" e "dois". Quantidades maiores são referidas como "muito" e não há palavra para "número". Os indivíduos fazem "estimativas análogas" para quantidades acima de três, mesmo que não tenham as palavras exatas para tais números.

Ao participarem de tarefas dadas pelo pesquisador norte-americano, nas quais deveriam comparar pequenos conjuntos de objetos em configurações variadas, membros adultos da tribo amazônica responderam corretamente ao se depararem com até três itens. As respostas corretas, entretanto, foram caindo à medida que os conjuntos continham mais objetos e chegaram a zero nos grupos com acima de dez itens.

"Os participantes entenderam bem as tarefas e realmente se esforçaram para responder com precisão", disse Gordon, em comunicado da Universidade de Colúmbia. Outro ponto interessante notado pelo pesquisador é que, enquanto os adultos tinham dificuldade em aprender números maiores, as crianças não tinham o mesmo problema. Os resultados da pesquisa mostram, segundo o cientista, que ter os recursos lingüísticos certos pode esculpir a realidade de um indivíduo.

No final da década de 1930, o lingüista norte-americano Benjamin Lee Whorf (1897-1941) lançou a polêmica hipótese de que a linguagem pode determinar a natureza e o conteúdo do raciocínio. Mas ninguém, até hoje, provou se há realmente conceitos em uma cultura que indivíduos de outra cultura não conseguem compreender pela falta de palavras.

O artigo Numerical Cognition Without Words: Evidence from Amazonia, de Peter Gordon, pode ser lido no site da revista Science, em www.sciencemag.org.


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