Para alguns pesquisadores, o início da vida é o principal nó filosófico a ser enfrentado na questão das células-tronco
(foto: Un. Harvard)

Vida em questão
22 de outubro de 2004

Mesa-redonda realizada na Unifesp como um dos eventos oficiais da Semana Nacional de C&T levanta questões éticas, legais e filosóficas do uso de células-tronco embrionárias humanas em pesquisas

Vida em questão

Mesa-redonda realizada na Unifesp como um dos eventos oficiais da Semana Nacional de C&T levanta questões éticas, legais e filosóficas do uso de células-tronco embrionárias humanas em pesquisas

22 de outubro de 2004

Para alguns pesquisadores, o início da vida é o principal nó filosófico a ser enfrentado na questão das células-tronco
(foto: Un. Harvard)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O principal nó filosófico que deve ser desatado na questão do uso de células-tronco embrionárias humanas em pesquisas científicas pode ser resumido em uma única pergunta que, apesar de simples, nem sempre é fácil de ser respondida: quando começa realmente a vida?

A questão esteve nas discussões da mesa-redonda "Células-tronco – Aspectos científicos, legais e éticos", realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) na quarta-feira (20/10), evento que fez parte da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

"Esse é o principal problema. Não podemos esquecer que questões filosóficas como essa apresentam desde componentes científicos a religiosos", disse Dante Gallian à Agência FAPESP. O historiador, um dos participantes da mesa-redonda, é diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da Universidade Federal de São Paulo (USP).

Para Gallian, o fato de o cientista muitas vezes querer separar pesquisa e problemas de bancada das questões da filosofia acaba provocando um recorte distorcido da realidade. "Essa separação não existe", afirma. No caso específico do uso de células-tronco embrionárias para pesquisas científicas, o historiador defende uma posição que vai contra a de muito cientistas que estudam o tema e que são totalmente favoráveis ao uso de tais células.

"Tenho uma opinião clara sobre esse nó. Para mim, a vida começa no momento da fecundação e não quando se desenvolve, por exemplo, o sistema nervoso do embrião", afirma Gallian. Ele justifica a opinião com um argumento retirado da genética: "É na fecundação que ocorre o encontro de dois códigos genéticos diferentes para a formação de um terceiro, totalmente novo e que só vai pertencer àquele embrião."

Do ponto de vista prático, os cientistas que defendem o direito à pesquisa com células-tronco embrionárias humanas costumam dizer que não irão produzir embriões novos para os estudos, mas que serão usados os milhares de embriões congelados que serão descartados de qualquer maneira no futuro, nas clínicas de fertilização in vitro. Também nesse ponto, o diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da USP defendeu, durante a mesa-redonda, uma posição diferente de parte de seus colegas.

"Primeiro, no meu modo de ver, houve um erro lá atrás. A regulamentação que permitiu as fertilizações não deveria ter liberado uma produção tão grande de embriões. É preciso, também, que a técnica seja melhorada", afirma. Como o problema está no presente, e não no passado, Gallian vai mais à frente. "Também não é ético deixar esse embriões congelados no nitrogênio. O que se deve fazer é dar a eles, também, o direito de viver, desde que o desenvolvimento seja viável."

Também participaram da mesa-redonda a cientista Alice Teixeira Ferreira, coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Bioética da Unifesp, e Telma Tiemi Schwindt, pesquisadora do laboratório de neurofisiologia também da Unifesp.

Todos concordaram em um ponto: as pesquisas com células-tronco adultas, além de driblar o problema filosófico que envolve o embrião, também podem dar excelentes resultados científicos ou clínicos. O problema, como relataram diversos médicos presentes no evento, é a questão do tempo. Muitos doentes não têm tempo para esperar.


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