Equipe da brasileira Regina North trabalha no desenvolvimento do suporte à missão tripulada a Marte (ilust.: Nasa)

Vida em ambientes radicais
14 de abril de 2005

Regina North, da Nasa, fala à Agência FAPESP sobre as dificuldades da sobrevivência em locais inóspitos. A equipe da cientista brasileira trabalha no suporte à missão tripulada a Marte

Vida em ambientes radicais

Regina North, da Nasa, fala à Agência FAPESP sobre as dificuldades da sobrevivência em locais inóspitos. A equipe da cientista brasileira trabalha no suporte à missão tripulada a Marte

14 de abril de 2005

Equipe da brasileira Regina North trabalha no desenvolvimento do suporte à missão tripulada a Marte (ilust.: Nasa)

 

Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP - Nos últimos 20 anos, a pesquisadora brasileira Regina North acostumou-se a passar períodos em locais inusitados, como estações no gelo, plataformas de petróleo ou submarinos. O motivo: estudar o comportamento humano nesses ambientes.

"O que mais me atrai é a grande aventura humana", disse a pesquisadora, que está no Rio de Janeiro como uma das conferencistas do 4º Congresso Mundial de Centros de Ciência, à Agência FAPESP. A experiência em lugares inóspitos a levou a ocupar o posto de pesquisadora sênior de Estudos Avançados em Ciências da Vida no Centro Espacial Johnson, da Nasa, a agência espacial norte-americana.

A equipe da qual faz parte a pesquisadora brasileira, com base em Houston, será a responsável pela formulação do conhecimento dos elementos necessários à sustentação da vida dos tripulantes da nave que a agência está construindo e que deve ir a Marte até 2020. "Nosso trabalho é criar mecanismos de diminuição de riscos", conta. Mecanismos que tornarão possível a sustentação da vida humana no espaço.

Segundo Regina, muita coisa muda quando alguém vai para uma expedição na Antártica ou viaja num submarino. "O vínculo com o mundo é cortado. Começa então a haver um declínio no nível de vida sensorial. O cérebro assimila essa situação e exige cada vez menos percepção cognitiva", explica.

No caso de uma viagem espacial, segundo ela, a situação é ainda pior: "Adicione a isso tudo a microgravidade, que ocasiona perda muscular, óssea e da capacidade de metabolismo. Além disso, existe ainda a suscetibilidade à radiação".

Os mecanismos de contramedida ou de diminuição de riscos variam. Na Nasa, os astronautas são obrigados a fazer duas horas diárias de exercícios para combater a perda muscular.

Regina North afirma que a biologia molecular pode ilustrar os possíveis benefícios das viagens espaciais à ciência e à sociedade. "Já observamos que células atuam de maneira desorganizada em ambientes com ausência de gravidade. Também estão em andamento pesquisas cardiovasculares e da resposta do ser humano à radiação", revela

Segundo ela, tais estudos podem significar também a cura de algumas doenças. "As mulheres, por exemplo, tendem a perder massa óssea depois dos 30 anos. Já observamos que o espaço acelera o ciclo de perda óssea e os dados obtidos podem fornecer conhecimento para o desenvolvimento de medicamentos contra o problema", disse.


Apoio da FAPESP

Regina fala de expedições a locais inóspitos com conhecimento de causa. Há 20 anos, depois do mestrado em sociologia pela Universidade de São Paulo, ela obteve apoio da FAPESP para conduzir um projeto de pesquisa na Antártica. Ficou quatro meses entre a estação polonesa Archoviski, a estação brasileira Comandante Ferraz e a chilena, então chamada estação Marshall. Posteriormente, quando esteve no Centro de Estudos Árticos do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França, comandou uma expedição ao Ártico com franceses e noruegueses.

Em 1988, a cientista brasileira passou num concurso para a Universidade Internacional do Espaço, com sede na França, cujo prêmio era uma bolsa de estudos para o Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), nos Estados Unidos.

Dois anos depois, Regina chegou à Nasa. Foi convidada pelo governo russo para examinar os astronautas que estavam há 195 dias num simulador. "No MIT, percebi que tudo que havia desenvolvido tinha uma aplicação direta na área do comportamento humano no espaço", afirmou.

Mais informações e a programação completa do 4º Congresso Mundial de Centros de Ciência: www.museudavida.fiocruz.br/4scwc.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.