Experimento feito em Ribeirão Preto mostrou que a presença desses insetos em lavouras de cana e de milho reduziu o dano causado por espécies predadoras, como a Diatraea saccharalis e a Spodoptera frugiperda (foto: Seirian Sumner / UCL)
Experimento feito em Ribeirão Preto mostrou que a presença desses insetos em lavouras de cana e de milho reduziu o dano causado por espécies predadoras, como a Diatraea saccharalis e a Spodoptera frugiperda
Experimento feito em Ribeirão Preto mostrou que a presença desses insetos em lavouras de cana e de milho reduziu o dano causado por espécies predadoras, como a Diatraea saccharalis e a Spodoptera frugiperda
Experimento feito em Ribeirão Preto mostrou que a presença desses insetos em lavouras de cana e de milho reduziu o dano causado por espécies predadoras, como a Diatraea saccharalis e a Spodoptera frugiperda (foto: Seirian Sumner / UCL)
Agência FAPESP * – Espécies comuns de vespas podem ser valiosas no manejo sustentável de pragas agrícolas, entre elas a broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) e a lagarta Spodoptera frugiperda, que ataca principalmente plantações de milho.
Resultados de um experimento controlado mostraram que a presença de vespas na lavoura reduz efetivamente as populações dessas duas espécies de pragas e também o dano às plantas. O estudo foi realizado por pesquisadores da University College London (Reino Unido), da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal. Os dados foram publicados na revista Proceedings of The Royal Society B.
A pesquisa recebeu apoio da FAPESP e do Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial do Reino Unido, no âmbito de um acordo da Fundação com o British Council e Newton Fund.
Os autores lembram que as vespas são encontradas em todo o mundo e podem ser usadas facilmente em pequena ou grande escala para controlar uma série de pragas comuns. “Existe uma necessidade global de métodos mais sustentáveis para controlar pragas agrícolas e reduzir dependência excessiva de pesticidas. Vespas são muito comuns, mas pouco estudadas. Com esta pesquisa, fornecemos evidências importantes de seu valor econômico como controladoras de pragas”, disse o autor principal do estudo, Robin Southon, da University College London.
O experimento foi o primeiro do gênero realizado em condições controladas e ao ar livre. Foi usado milho infestado pela Spodoptera frugiperda, popularmente conhecida como verme do exército, e cana-de-açúcar contendo Diatraea saccharalis. A eficiência de algumas espécies de vespas nas culturas e na dieta de lagartas já havia sido demonstrada, explicaram os pesquisadores, “mas sem o controle minucioso feito nesta pesquisa, com infestação controlada dentro e fora da planta”.
A parte experimental do estudo foi feita em Ribeirão Preto, conta o professor da FFCLRP-USP Fábio Nascimento, e realizada em estufa, com a inserção de vasos com as plantas; primeiro, de cana-de-açúcar e depois de milho, já infestados com as larvas das pragas de forma aleatória, e de outras duas maneiras: externamente e internamente na planta. Na estufa estavam os ninhos com as vespas comuns, denominadas Polistes satan. “As vespas mostraram eficiência acima do que esperávamos nas duas culturas – 90% e 100% sobre as lagartas expostas nas folhas, e 40% e 60% sobre as lagartas abrigadas dentro da cana e do milho”, disse Nascimento.
O pesquisador brasileiro comemora os resultados: “Diferentemente do que se pensava, elas são capazes de encontrar as lagartas entre as junções das folhas das plantas. Assim, a eficiência delas como controladoras é significativa.”
Manejo de pragas
O grupo pretende continuar o trabalho com ensaios maiores e em atividades agrícolas ativas. Mas os pesquisadores já defendem que as vespas devam ser consideradas controladoras de pragas, em um esquema integrado de manejo.
Os cientistas acreditam na eficiência de uma abordagem multifacetada de combate às pragas. “Não estamos dizendo que os agricultores precisam parar o que estão fazendo e começar a usar vespas em suas estratégias atuais de manejo de pragas; em vez disso, estamos adicionando ao kit de ferramentas um novo elemento”, disseram. “Vespas sociais, como as que estudamos, são caçadoras generalistas e complementam as abordagens existentes. Esses insetos poderiam reduzir a probabilidade de uma praga desenvolver resistência a um pesticida ou agente de biocontrole específico”, diz Southon.
Segundo o professor Nascimento, o uso de vespas nativas, que já fazem parte do ecossistema local, tende a ser mais sustentável por preservar a biodiversidade daquela área. “Nosso estudo fornece evidências de que as vespas podem ser uma forma barata e acessível de controle de pragas, particularmente útil para agricultores de pequena escala ou de subsistência em países como o Brasil, que poderiam atrair e incentivar vespas a se estabelecerem.”
Já Seirian Sumner, do Centro de Biodiversidade e Meio Ambiente da University College London, afirma que, ao usar pesticidas químicos, os agricultores podem matar também os insetos que atuam como controle natural de pragas. “Temos que aproveitar ao máximo o que já temos ao nosso redor.”
Sumner espera que a pesquisa realce o valor das vespas. “Não se trata apenas de agricultura, trata-se de vespas em geral e de seu papel na regulação de outras populações de insetos”, disse Sumner.
Na segunda etapa do estudo, as vespas serão testadas em área aberta de cultivo. Nascimento e o professor Odair Aparecido Fernandes, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Unesp, orientam estudante de pós-graduação que vai testar a eficácia das vespas nas áreas de cultivo orgânico em Jaboticabal.
“As vespas estão em declínio em todo o mundo, assim como as abelhas, que são mais queridas. O resultado da perda desses insetos seria o aumento de pulgões, moscas e outros incômodos”, alertam os pesquisadores. Eles afirmam que quintal e jardim também podem se beneficiar de uma atitude mais favorável à vespa.
*Com informações do Jornal da USP e da Assessoria de Comunicação da University College London.
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.