A mancha do desmatamento em São Paulo

Verde agonizante
27 de agosto de 2003

O crescimento desordenado, com o avanço de favelas e loteamentos clandestinos, fez com que São Paulo perdesse, em dez anos, um quinto de sua vegetação nativa. Hoje, restam pouco mais de 200 km2 de vegetação intacta no município, revela o Atlas Ambiental do Município de São Paulo, financiado pela FAPESP

Verde agonizante

O crescimento desordenado, com o avanço de favelas e loteamentos clandestinos, fez com que São Paulo perdesse, em dez anos, um quinto de sua vegetação nativa. Hoje, restam pouco mais de 200 km2 de vegetação intacta no município, revela o Atlas Ambiental do Município de São Paulo, financiado pela FAPESP

27 de agosto de 2003

A mancha do desmatamento em São Paulo

 

Por Ricardo Zorzetto - Pesquisa FAPESP

A cidade de São Paulo perdeu cerca de um quinto de sua vegetação nativa na última década. De 1991 a 2000, loteamentos clandestinos e favelas avançaram sobre 53,6 quilômetros quadrados da área verde paulistana, sobretudo na periferia das regiões leste, norte e sul. Hoje restam pouco menos de 200 quilômetros quadrados de vegetação intacta no município, o equivalente a 13% do território ocupado pela maior metrópole brasileira. A dimensão da devastação do verde da cidade é uma das principais conclusões do Atlas Ambiental do Município de São Paulo, financiado pela FAPESP, dentro do Programa Biota, e previsto para ser publicado em outubro na forma de um livro com 250 páginas e 38 mapas.

Elaborado ao longo de quatro anos a partir de imagens de satélite, fotos aéreas e pesquisas de campo, trata-se do mais recente e completo levantamento da vegetação natural paulistana. O trabalho revela que o processo contínuo de crescimento desordenado vem levando a população carente a morar cada vez mais distante do centro e a avançar sobre as principais áreas de proteção da vegetação natural e de mananciais, situadas em regiões ainda hoje oficialmente classificadas como rurais. É o que se verifica nos distritos de São Miguel Paulista e Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital; na região da Serra da Cantareira e das rodovias Bandeirantes e Anhangüera, no norte da cidade; ou ainda em Parelheiros, Grajaú e Jardim Ângela, na zona sul.

Desse modo, o pouco que resta do verde paulistano se concentra nos 32 parques municipais salpicados pela cidade e nos sete estaduais - a maior parte da vegetação nativa está na Área de Proteção Ambiental Capivari-Mono, ao sul das represas Billings e Guarapiranga. "O objetivo principal do trabalho foi analisar os danos à vegetação nativa para orientar a implantação de novas áreas de preservação nas regiões ameaçadas e conservar as unidades de preservação já existentes", disse a geóloga Harmi Takiya, coordenadora do atlas e atualmente subprefeita da Mooca, zona leste da capital paulista.

Mas os danos do crescimento desordenado não recaem apenas sobre o ambiente. Afetam também a qualidade de vida de toda a população, em especial, da mais carente, que nesse período migrou dos bairros centrais da cidade - em que já existia infra-estrutura instalada - para as regiões mais afastadas do município, próximo às áreas de vegetação preservada, em que o solo e o relevo favorecem a ocorrência de erosão e deslizamentos.

O levantamento apresenta ainda informações sobre os tipos de solo e relevo sobre o qual a metrópole cresceu e o perfil de ocupação da cidade, com a definição das áreas em que se concentram as indústrias, os prédios comerciais e residenciais formados predominantemente por casas ou por ocupação vertical.

Analisados em conjunto com as informações sobre a temperatura da superfície da cidade (avaliada a partir de uma imagem de satélite), o Atlas Ambiental do Município de São Paulo permitiu também distinguir a existência de ao menos quatro grandes tipos distintos de clima no município. O mais quente aparece na região central e em parte das zonas leste e oeste da cidade, onde quase não existe mais verde e a temperatura no dia da medição chegou a 31ºC . As temperaturas mais amenas, de cerca de 25º C, aparecem no extremo sul, próximo às represas, e na área menos ocupada da região norte, junto à Serra da Cantareira.

Mas o atlas também apresenta boas notícias: os pontos verdes paulistanos preservam uma variedade de espécies de plantas e animais difícil de imaginar. Somada a dados de estudos recentes, a coleta de dados em 1,2 mil pontos de cerca de 60 áreas revelou que o município de São Paulo abriga quase 900 espécies de plantas e 312 espécies distintas de animais, dados que alimentaram o SinBiota, o Sistema de Informação do Programa Biota-FAPESP - responsável pelo levantamento da biodiversidade e dos recursos naturais do Estado. Desse total, 215 são aves, algumas facilmente vistas na cidade, como o pardal, e 18 espécies ameaçadas de extinção, entre elas o gavião-pomba e a araponga, encontrados na porção rural do município.

O atlas tem uma versão on-line com mais informações sobre o projeto e dados da devastação em São Paulo, em http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.