2025 é o terceiro ano consecutivo em que o Nobel de Economia destaca contribuições no campo da história econômica (ilustração: Niklas Elmehed/Nobel Prize Outreach)
Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt buscaram entender o papel da tecnologia no desenvolvimento
Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt buscaram entender o papel da tecnologia no desenvolvimento
2025 é o terceiro ano consecutivo em que o Nobel de Economia destaca contribuições no campo da história econômica (ilustração: Niklas Elmehed/Nobel Prize Outreach)
Eduardo Magossi e Ana Paula Orlandi | Pesquisa FAPESP – Três economistas foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia, divulgado na manhã de segunda-feira (13/10). São eles: o holandês naturalizado norte-americano Joel Mokyr, de 79 anos, da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos; o francês Philippe Aghion, 69, do Instituto Europeu de Administração de Empresas (Insead), na França, e da London School of Economics, no Reino Unido; e o canadense Peter Howitt, 79, da Universidade Brown, nos Estados Unidos.
A Academia Real de Ciências da Suécia, que seleciona os indicados, ofereceu ao trio um prêmio de 11 milhões de coroas suecas, aproximadamente R$ 6,23 milhões. Metade do valor vai para Mokyr, que em sua trajetória de pesquisador identificou “os pré-requisitos para crescimento sustentável por meio de progresso tecnológico”. Os demais economistas ficaram com a outra parte por terem desenvolvido uma “ teoria de crescimento sustentado através do conceito de destruição criativa”, segundo o comitê do Nobel.
“Esse é o terceiro ano consecutivo que o Nobel de Economia destaca contribuições no campo da história econômica”, observa o historiador Leonardo Weller, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP-FGV). “Nas duas últimas décadas, o meio acadêmico tem reconhecido cada vez mais os limites da teoria econômica e que para explicar o mundo de hoje é preciso entender o passado. Isso acaba reverberando nas escolhas do prêmio.”
No caso da premiação de 2025, um dos laureados é Mokyr, cujo percurso acadêmico tem como foco a história econômica da Europa. Segundo o economista Thales Zamberlan Pereira, da EESP, um dos maiores feitos do pesquisador são os estudos sobre a Revolução Industrial, iniciada no século 18, e também sobre o período que a antecedeu. “Mokyr é o mais conhecido defensor da relação entre a expansão do Iluminismo, a partir do século 17, e a Revolução Industrial”, afirma Pereira. “Ele não olhou para esse período por acaso. A Revolução Industrial representa um marco na história moderna, pois é quando se começa a ter desenvolvimento econômico sustentado, de longo prazo, no mundo.”
Para compreender esse processo, Mokyr desenvolveu duas linhas de pesquisa. Em uma delas, investigou por que o Iluminismo, cujas ideias formam a base científica da Revolução Industrial, brotou na Europa e não em outra parte do mundo. “Ele constatou que na Europa existia um fecundo espaço para a troca de ideias, era a chamada República das Letras”, diz Pereira. “Essas ideias circulavam livremente naquele cenário político fragmentado e desembocaram em certa medida nas grandes inovações ligadas ao Iluminismo.”
Além disso, Mokyr buscou entender por que a Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra e não em outros países europeus, como a França. “Suas pesquisas mostram, por exemplo, que a expansão da rede de transporte inglesa a partir do final do século 17 permitiu que as regiões do país explorassem outras possibilidades de desenvolvimento”, conta Pereira, autor do artigo “O debate sobre as causas da Revolução Industrial”, publicado no ano passado, na revista História Econômica & História das Empresas.
Assim, áreas com baixo potencial agrícola, como o Noroeste inglês, passaram a apostar em atividades manufatureiras. “O desenvolvimento de algumas ‘proto-indústrias’, como no setor de metais, criou grupos de trabalhadores qualificados, cujas habilidades foram adaptadas e transferidas para as máquinas que se sofisticavam no início da Revolução Industrial”, prossegue Pereira.
De acordo com o trabalho de Mokyr, a qualidade desses artesãos era fruto do sistema de treinamento profissional iniciado na Inglaterra no século 17. No começo do século seguinte, mais de um quarto dos homens com 21 anos de idade tinha completado esse processo por meio do sistema de apprenticeship (ou aprendizagem). “Mokyr defende que o pulo do gato da Inglaterra foi ter conseguido implementar o que ele chama de microinovações. Ou seja, dar uso prático às macroinovações, as grandes criações que emergiram no Iluminismo”, conta Pereira. Weller concorda. “Esse foi o caso da máquina a vapor. A versão moderna, ligada à indústria, foi criada na Inglaterra no século 18, mas já existiam versões rudimentares na Europa continental”, ilustra o historiador. “Entretanto, foram os ingleses que desenvolveram, por exemplo, roldanas e outras peças para a máquina ganhar vários usos e impulsionar o ciclo industrial.”
Pereira lembra que o economista inglês Adam Smith (1723-1790) escreveu no final do século 18 que o crescimento econômico dependia da maior especialização do trabalho. “Mokyr diz que, além disso, é preciso haver ideias disruptivas, que gerem choques de produtividade.” É o que também postulam Aghion e Howitt, os outros dois laureados deste ano. “Eles buscam mostrar que a inovação tecnológica é fundamental para explicar o crescimento econômico de longo prazo”, explica Luciano Nakabashi, professor da Faculdade de Economia e Administração do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEARP-USP).
A dupla é conhecida pelos estudos em macroeconomia e crescimento econômico. Formado pela Ecole Normale Supérieure de Cachan (França), em 1980, Aghion fez sua formação acadêmica ao longo daquela década na Universidade Paris 1 e na Universidade Harvard (EUA). Por sua vez, Howitt se graduou na Universidade de Western Ontario (Canadá) no final dos anos 1960. Pouco mais tarde, em 1973, defendeu pesquisa de doutorado na Universidade Northwestern.
Na década de 1990, os dois pesquisadores introduziram em um modelo de crescimento econômico o conceito de “destruição criativa”, desenvolvido na primeira metade do século 20 pelo economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950). “Por meio desse modelo matemático, eles conseguiram mostrar de forma clara que a geração de tecnologia é uma das fontes de crescimento econômico”, diz Nakabashi, atualmente pesquisador visitante na Universidade Brown, instituição de Howitt. “Ao mesmo tempo, constaram que esse processo é disruptivo e não por acaso foi nomeado de ‘criação destrutiva’ por Schumpeter. Isso porque as novas tecnologias acabam suplantando as antigas, provocando impactos sociais e econômicos.”
Na avaliação de Nakabashi, o trabalho da dupla se aproxima das contribuições do economista norte-americano Paul Romer, agraciado com o Nobel de 2018. “Os estudos de Aghion e Howitt possibilitaram que outros pesquisadores produzissem novos modelos de crescimento econômico. Esses parâmetros vêm ajudando os economistas a entender as tendências futuras desse processo de geração de tecnologia, cada vez mais complexo.”
Para o economista Vladimir Teles, da EESP, os achados de Aghion e Howitt podem contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas. “Eles revelam que, ao invés de subsidiar e proteger as grandes empresas, os governos deveriam apoiar as empresas de menor porte, que apostam na criatividade”, diz Teles, que foi supervisionado em estágio de pós-doutorado pelo economista francês entre 2007 e 2008, em Harvard, com apoio da FAPESP. “Quando uma grande empresa ganha crédito subsidiado, ela aumenta seu monopólio sem precisar inovar e isso acaba atrapalhando as novas iniciativas.”
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