Velocidade dobrada
28 de novembro de 2005

Estudo mostra que os níveis dos oceanos têm subido duas vezes mais rápido do que há 150 anos. A culpa, arriscam os pesquisadores, é do aquecimento global

Velocidade dobrada

Estudo mostra que os níveis dos oceanos têm subido duas vezes mais rápido do que há 150 anos. A culpa, arriscam os pesquisadores, é do aquecimento global

28 de novembro de 2005

 

Agência FAPESP - Mais uma para ser discutida em Montreal, no Canadá, na conferência das Nações Unidas sobre o impacto das mudanças climáticas, que começa nesta segunda-feira (28/11) e termina em 9 de dezembro.

Um estudo publicado na edição atual da revista Science mostra que os níveis dos oceanos estão subindo a uma velocidade duas vezes maior do que há 150 anos. E, ao que tudo indica, a culpa é do homem.

A elevação atualmente está em 2 milímetros por ano, o dobro do 1 milímetro anual mantido por milhões de anos. De acordo com os autores da pesquisa, apesar de a velocidade de subida dos oceanos não ser suficiente para levar a um cenário como o de filmes do tipo O dia depois de amanhã (2004), em que metrópoles inteiras são inundadas, ela é suficiente para aumentar a preocupação com o aquecimento global.

No artigo publicado agora, os pesquisadores liderados por Kenneth Miller, professor de ciências geológicas da Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos, descrevem que a atual elevação no nível do mar é recorde para os últimos 100 milhões de anos.

Baseados em perfurações feitas a 500 metros de profundidade na costa leste norte-americana e em imagens de satélite, os cientistas verificaram que o aumento de 1 milímetro para 2 milímetros é um fenômeno recente. O motivo? Miller arrisca: "A principal mudança desde o século 19 é o aumento generalizado no uso de combustíveis fósseis e da emissão de gases estufa."

Os resultados obtidos no novo estudo também contradizem alguns conceitos geológicos estabelecidos. Um deles é a indicação de que os níveis oceânicos há mais de 100 milhões de anos eram de 150 metros a 200 metros menores do que se acreditava.

A explicação mais simples para tamanha diferença seriam movimentos nas placas oceânicas, mas o grupo responsável pelo novo estudo aponta algo a mais. Segundo eles, durante o final do período Cretáceo (de 146 milhões a 65,5 milhões de anos atrás), variações de dezenas de metros foram freqüentes, sugerindo que a Terra tinha muito mais gelo em sua superfície do que se imaginava.

O estudo publicado na Science vem reforçar a preocupação crescente na comunidade científica a respeito do aquecimento global. Para Lord May, presidente da Royal Society, no Reino Unido, os efeitos potenciais das mudanças climáticas podem ser comparados aos de "armas de destruição em massa", disse em comunicado divulgado para coincidir com a abertura da conferência em Montreal.

"A ciência nos diz claramente que precisamos agir agora para reduzir a emissão de gases estufa, mas, a menos que todos os países entrem em ação (em proporções equivalentes), os virtuosos terão desvantagens econômicas e todos sofrerão as conseqüências da omissão dos pecadores", afirmou Lord May.

O artigo The Phanerozoic record of global sea-level change, de Kenneth Miller e colegas, podem ser lidos no site da Science, em www.sciencemag.org


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