Resultados dos primeiros ensaios com o imunizante desenvolvido na Bélgica foram apresentados durante o FAPESP/EU-LIFE Symposium on Cancer Genomics, Inflammation & Immunity (Imagem: Wikimedia Commons)

Vacina contra o vírus sincicial respiratório é testada em humanos
17 de junho de 2016

Resultados dos primeiros ensaios com o imunizante desenvolvido na Bélgica foram apresentados durante o FAPESP/EU-LIFE Symposium on Cancer Genomics, Inflammation & Immunity

Vacina contra o vírus sincicial respiratório é testada em humanos

Resultados dos primeiros ensaios com o imunizante desenvolvido na Bélgica foram apresentados durante o FAPESP/EU-LIFE Symposium on Cancer Genomics, Inflammation & Immunity

17 de junho de 2016

Resultados dos primeiros ensaios com o imunizante desenvolvido na Bélgica foram apresentados durante o FAPESP/EU-LIFE Symposium on Cancer Genomics, Inflammation & Immunity (Imagem: Wikimedia Commons)

 

Karina Toledo  |  Agência FAPESP – Teve início a primeira etapa de ensaios clínicos com uma vacina experimental contra o vírus sincicial respiratório (VSR) desenvolvida no The Vlaams Instituut voor Biotechnologie (VIB), na Bélgica.

Em parceria com a empresa canadense Immunovaccine Inc., o imunizante está sendo testado em 40 adultos saudáveis com o objetivo de avaliar sua segurança. Os primeiros 20 voluntários que receberam a formulação não apresentaram reações adversas. Na fase pré-clínica, a vacina experimental se mostrou capaz de reduzir em cerca de 100 vezes a carga viral em roedores.

Os resultados foram apresentados no dia 8 de junho, na sede da FAPESP, pelo pesquisador do VIB Xavier Saelens. A palestra integrou a programação do evento “FAPESP/EU-LIFE Symposium on Cancer Genomics, Inflammation & Immunity”, que teve como objetivo fomentar a colaboração entre cientistas do Estado de São Paulo e da Europa.

“O VSR é um dos principais causadores de infecções das vias respiratórias e pulmões em recém-nascidos e crianças pequenas, podendo causar bronquiolite. Todos os anos, 200 mil crianças no mundo morrem em decorrência dessa infecção e mais de 3 milhões são hospitalizadas. Há clara necessidade de uma vacina”, afirmou Saelens em entrevista à Agência FAPESP.

Segundo o pesquisador, diversos grupos haviam tentado anteriormente, sem sucesso, encontrar um antígeno capaz de induzir uma resposta imunológica eficaz contra o vírus.

“No meu laboratório temos estudado as 11 proteínas codificadas por esse vírus. Inclusive algumas muito pequenas, que são normalmente negligenciadas pelo nosso sistema imune e, até agora, também pelos pesquisadores da área. Três dessas proteínas ficam na membrana das células infectadas e são acessíveis ao nosso sistema de defesa. Decidimos focar em uma delas, conhecida como pequena proteína hidrofóbica [SHe, na sigla em inglês]”, contou Saelens.

Em experimentos feitos com camundongos e com ratos, o grupo da Bélgica mostrou que o antígeno induziu uma resposta capaz de proteger contra o VSR. Embora não tenha eliminado totalmente o vírus do organismo, reduziu fortemente sua replicação – oferecendo mais tempo para o organismo hospedeiro desenvolver uma resposta imune adaptativa capaz de erradicar definitivamente o patógeno.

“A proteína SHe ajuda o vírus a driblar a resposta imune do hospedeiro. Mas o curioso é que, quando analisamos os animais infectados ou humanos que já foram expostos ao VSR, não vemos uma grande resposta contra esse alvo. Então pensamos: vamos induzir uma resposta imune da qual o vírus ainda não aprendeu a se esquivar”, contou Saelens.

O mecanismo de ação do imunizante foi elucidado na fase pré-clínica e está descrito em artigo publicado na revista EMBO Molecular Medicine. Segundo Saelens, os resultados preliminares dos ensaios clínicos de fase 1 indicam que a vacina é bem tolerada pelo organismo humano.

Na próxima etapa, a segurança do fármaco será testada em um número maior de voluntários e também será avaliada sua capacidade de induzir uma resposta imunológica duradoura.

Candidato a fármaco brasileiro

Ainda durante o simpósio realizado pela FAPESP e pela EU-LIFE – organização europeia que reúne centros de pesquisa da área de Ciências da Vida de 13 países – foi apresentado o mecanismo de ação de um promissor candidato a fármaco brasileiro conhecido como P-MAPA (abreviação de agregado polimérico de fosfolinoleato-palmitoleato de magnésio e amônio proteico), que em testes pré-clínicos mostrou ação contra tumores e doenças infecciosas.

Descoberto há mais de 50 anos pelo médico paulista Odilon da Silva Nunes, o composto vem recentemente sendo estudado no âmbito da rede Farmabrasilis, entidade sem fins lucrativos criada em 2001 e constituída por cientistas brasileiros, chilenos, europeus e norte-americanos.

“Com o uso de modelos animais para câncer de bexiga, conseguimos elucidar completamente o mecanismo de ação do imunomodulador P-MAPA”, contou o pesquisador Wagner José Fávaro, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Conforme explicou, o fármaco ativa receptores da membrana celular conhecidos como toll-like – particularmente os subtipos 2 e 4. Isso induz uma resposta imunológica mediada pela citocina interferon-gama e estimula a produção e a função da proteína p-53. Em conjunto, esses efeitos induzem a morte das células tumorais.

“Em consequência da ativação dos receptores toll e p-53 pelo P-MAPA é produzido um tipo de colágeno conhecido como endostatina, que diminui a formação de novos vasos sanguíneos necessários para nutrir o tumor. Secundariamente, o composto regula os receptores dos hormônios sexuais (andrógenos e estrógenos) e, desse modo, altera o metabolismo das células tumorais. A partir desses efeitos o sistema imune pode reconhecer e combater o tumor”, explicou Fávaro.

De acordo com Iseu Nunes, diretor-geral da Farmabrasilis, os ensaios clínicos com o P-MAPA para o tratamento de câncer de bexiga não músculo invasivo devem começar em breve (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/22905).

O segundo dia do evento contou ainda com a participação do pesquisador alemão Stephan Preibish, do Berlin Institute of Medical Systems Biology, que tem empregado uma nova técnica de microscopia conhecida como light-sheet ("folha de luz") aliada à modelagem computacional para investigar como é regulada a transcrição de genes na espécie Caenorhabditis elegans.

O nematoide é considerado um organismo modelo para diversos tipos de estudo por possuir curto ciclo de vida, ter todo o genoma sequenciado e 60% dos genes homólogos a outros organismos eucariotos.

“Essa nova técnica de microscopia permite visualizar organismos inteiros com alta resolução e rastrear células vivas durante o seu desenvolvimento. Isso nos abre a possibilidade de fazer perguntas completamente inovadoras”, disse Preibish.

Leia mais sobre pesquisas apresentadas durante o FAPESP/EU-LIFE Symposium on Cancer Genomics, Inflammation & Immunity em: http://agencia.fapesp.br/23355
 

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