Parceria entre FAPESP e The Museum of Fine Arts, Houston aproveita reflexões feitas nos últimos 50 anos para avaliar movimento concretista no Brasil (Foto: Quadro de Maurício Nogueira Lima - Objeto rítmico número 2, 1970)

Utopias geométricas
31 de julho de 2007

Parceria entre FAPESP e The Museum of Fine Arts, Houston aproveita reflexões feitas nos últimos 50 anos para avaliar movimento concretista no Brasil. Resultados serão apresentados em seminário internacional nos Estados Unidos

Utopias geométricas

Parceria entre FAPESP e The Museum of Fine Arts, Houston aproveita reflexões feitas nos últimos 50 anos para avaliar movimento concretista no Brasil. Resultados serão apresentados em seminário internacional nos Estados Unidos

31 de julho de 2007

Parceria entre FAPESP e The Museum of Fine Arts, Houston aproveita reflexões feitas nos últimos 50 anos para avaliar movimento concretista no Brasil (Foto: Quadro de Maurício Nogueira Lima - Objeto rítmico número 2, 1970)

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Depois de meio século, um dos momentos históricos mais importantes para a arte brasileira passa por uma ampla revisão crítica. Parte importante dessa reflexão será apresentada, nos dias 13 e 14 de setembro, em Houston, nos Estados Unidos, durante o Seminário Internacional Concretismo e Neoconcretismo 50 Anos Depois.

O seminário, que pretende gerar quadros teóricos e novas linhas de pesquisa para a interpretação do concretismo, é fruto do projeto Arte no Brasil: textos críticos do século 20, resultado de parceria entre a FAPESP e o Museum of Fine Arts, Houston (MFAH). O projeto foi lançado em maio e coordenado pela historiadora da arte Ana Maria de Moraes Belluzzo, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).

O Arte no Brasil, por sua vez, integra o projeto Documentos do século 20 – arte latino-americana e latino-norte-americana, coordenado desde 2003 pelo MFAH em parceria com instituições da Argentina, Chile, México, Colômbia, Peru e Venezuela, além dos Estados Unidos.

De acordo com Belluzzo, a revisão historiográfica apresentada no seminário em Houston se apoiará no testemunho de alguns dos artistas que participaram daquelas tendências artísticas e de críticos que identificaram, na época, sua contribuição em relação à arte latino-americana de vanguarda e às modalidades abstratas internacionais.

"O seminário procurará atualizar o debate em torno das utopias geométricas e construtivas, aproveitando o distanciamento e a compreensão que podemos ter hoje daquele período", disse à Agência FAPESP.

Segundo a pesquisadora, o seminário é uma expansão do trabalho realizado no Brasil com o projeto Arte no Brasil, que tem feito um aprofundamento da pesquisa sobre o tema por meio de um levantamento seletivo de textos de época.

"O grupo brasileiro estabeleceu o processo de pequenos seminários temáticos como forma de trabalho. Em um primeiro momento, tínhamos uma visão geral e, agora, estamos em uma etapa de estudos individualizados a respeito da contibuição dos críticos e artistas que atuaram no período", explicou.

Participarão do seminário especialistas como o artista e designer paulista Alexander Wollner, a curadora Aracy Amaral, os professores Ronaldo Brito (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RJ), Francisco Alambert (USP), Paulo Sérgio Duarte (Universidade Cândido Mendes), María Amalia García (Universidade de Buenos Aires), Nicolau Sevcenko (USP) e Paulo Venâncio Filho (UFRJ).


Reinterpretando divergências

Ao se debruçar sobre o período, os pesquisadores ligados ao projeto Arte no Brasil começaram a corrigir algumas interpretações tradicionais. Com o distanciamento de 50 anos, foi possível, por exemplo, lançar sobre o período um olhar que relativiza as supostas divergências entre o neoconcretismo dos artistas cariocas e o construtivismo dos artistas e desenhistas industriais de São Paulo.

"Agora, podemos ver que já havia nos dois lugares uma concepção diferente da arte – mais ligada à produção em São Paulo e mais voltada para a expressão no Rio de Janeiro. As semelhanças os aproximaram, mas, quando houve o encontro, as diferenças é que foram ressaltadas. Não houve uma divergência do grupo concreto, houve um estranhamento proveniente de fundamentos diferentes para utopias comuns", afirmou Ana Belluzzo.

A chamada fase das utopias geométricas e construtivas, de acordo com a professora da FAU, coincide com um momento em que o Brasil tinha grandes esperanças de construção de uma nova realidade social.

"No pós-guerra, as sociedades passavam por uma fase de transição na qual não havia uma hegemonia tão grande no controle internacional. Os países se voltaram para a busca de suas próprias soluções e formularam utopias. Não é à toa que o concretismo é contemporâneo do projeto desenvolvimentista de Juscelino Kubitscheck", destacou.

Naquele momento, segundo a pesquisadora, havia uma crença generalizada de que a modernidade e a industrialização poderiam colaborar para a transformação social do mundo. O projeto construtivo abriu as perspectivas para a superação do ser humano por meio da criação, seja pelas artes plásticas, desenho industrial, mobíliario ou arquitetura.

"A arte construtiva é fascinante porque estava a serviço da construção – as utopias não se restringiam ao universo artístico. Parte desses grupos via a arte apenas como expressão, mas outra parte queria buscar aplicações na sociedade", disse.

A importância desse capítulo da história da arte no Brasil, de acordo com Ana Belluzzo, é que, talvez, ele tenha sido o último grande movimento formulado em conjunto por poetas, artistas plásticos, críticos e desenhistas industriais. "Foi uma pequena brecha em um processo que conduzia à difusão de massa. Foi uma utopia que não aconteceu, como o desenvolvimentismo. As razões disso são um dos objetos de estudo."


Publicação em breve

O tema do seminário vem sendo aprofundado gradualmente. Em junho, o projeto Arte no Brasil realizou, em São Paulo, o colóquio fechado Utopias gemoétricas e construtivas, sobre a atuação crítica e o movimento construtivo brasileiro.

O evento de dois dias foi gravado e transcrito e os organizadores pretendem publicar o conteúdo debatido. "As contribuições foram de um nível excepcional do ponto de vista da qualidade. O projeto continuará realizando este tipo de colóquios", disse Ana Beluzzo.

No evento, o professor Franklin Leopoldo, da USP, relacionou o pensamento filosófico do francês Henri Bergson aos artistas construtivos brasileiros. Francisco Alambert discorreu sobre o papel da crítica nas tendências experimentais e de vanguarda. Ronaldo Brito, da PUC-RJ, discutiu o tema "Concretos e neoconcretos, 50 anos depois".

Lorenzo Mammi, da USP, falou sobre a reedição da exposição de arte concreta de 1956. Paulo Venâncio Filho, da UFRJ, apresentou o projeto "O neoconcretismo e a arte contemporânea brasileira: presença e transformação" e Luiz Camillo Osório, da PUC-RJ, falou sobre arte e tecnologia na obra de Abraham Palatnik.


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