Microscopia eletrônica de varredura mostra superfície de filme biodegradável estudado na Unicamp. Na foto, filme de gelatina com 60% de surfactante e ajuste de pH: mudança de morfologia grante baixa permeabilidade
Pesquisa feita na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp testa o uso de surfactantes e do ajuste de pH para produzir filmes biodegradáveis com propriedades funcionais mais próximas às do plástico tradicional
Pesquisa feita na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp testa o uso de surfactantes e do ajuste de pH para produzir filmes biodegradáveis com propriedades funcionais mais próximas às do plástico tradicional
Microscopia eletrônica de varredura mostra superfície de filme biodegradável estudado na Unicamp. Na foto, filme de gelatina com 60% de surfactante e ajuste de pH: mudança de morfologia grante baixa permeabilidade
Agência FAPESP – Filmes plásticos biodegradáveis não agridem o meio ambiente, mas dificilmente conseguem competir com as propriedades dos polímeros sintéticos. Um estudo realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que a adição de surfactantes pode ser uma alternativa para superar a dificuldade e produzir um biofilme que possa substituir ao menos parcialmente a produção atual de embalagens.
De acordo com o coordenador da pesquisa, Carlos Grosso, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, proteínas, polissacarídeos, lipídios e a mistura deles têm sido utilizados para a produção de biofilmes com boas propriedades mecânicas.
"Mas os filmes produzidos a partir desses materiais ainda apresentam muitas limitações, como alta absorção de água, e se mostram heterogêneos quando misturados a vários constituintes utilizados na formulação", disse Grosso à Agência FAPESP.
Segundo ele, as embalagens plásticas tradicionais apresentam excelentes propriedades funcionais, uma vez que impedem a entrada de vapor de água, de ar e, portanto, de oxigênio, que provoca oxidação de alguns compostos presentes em alimentos como os lipídios, além de servirem como barreira à entrada de luz.
"Em contrapartida, o ciclo para serem quebrados e reincorporados ao sistema natural biológico na terra é muito longo e, por isso, eles poluem o meio ambiente", explicou. O objetivo do trabalho, publicado na revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, foi obter alternativas que unissem a eficiência do plástico à qualidade ambiental do biofilme.
O desafio é produzir filmes com menos permeabilidade ao vapor d’água, o que evitaria a ocorrência das reações de deterioração nos alimentos. "Uma alternativa usada para diminuir a permeabilidade foi a incorporação, na matriz protéica (gelatina), de substâncias hidrofóbicas, ou seja, que não se dissolvem na água, como o ácido esteárico e o ácido capróico."
O problema, segundo Grosso, é que a incorporação não ocorre de forma homogênea. Para melhorar a incorporação dessas substâncias, foram adicionados dois tipos de surfactantes (SDS e tween 80), elementos capazes de interagir com a proteína e com o ácido graxo, tornando a matriz do filme menos heterogênea.
"Proteínas em geral são solúveis em água enquanto os lipídios são, na sua maioria, insolúveis. É difícil misturá-los de forma homogênea, o que é necessário na fabricação dos filmes. A adição do surfactante SDS reduziu a permeabilidade ao vapor de água, contendo ácido esteárico, ou ácido capróico", disse.
O ajuste de pH nos filmes sem adição de surfactantes também produziu matrizes mais homogêneas. "Filmes lipídicos são excelentes barreiras à água, mas são pobres mecanicamente, ou seja, muito frágeis e quebradiços. Por outro lado, filmes protéicos são resistentes mecanicamente, mas são bastante higroscópicos, ou seja, absorvem água. A intenção na mistura é aproveitar ao máximo as vantagens individuais dos constituintes", explicou o pesquisador.
De acordo com o estudo, esses materiais não conseguem substituir funcionalmente os sintéticos, mas podem estar associados a eles, permitindo uma forma mais amena de tratamento de resíduos poluentes.
"Muitos desses materiais, como as ceras, por exemplo, são utilizados na cobertura de frutas, especialmente as cítricas, realçando o brilho e evitando a perda de água e conseqüentemente de peso, além de controlar o processo respiratório da fruta, aumentando, assim, a vida útil delas", disse Grosso.
Segundo ele, a pesquisa prosseguirá com a inclusão de novos outros materiais na formulação, incluindo outros lipídios e surfactantes. "À medida que diferentes grupos nacionais e internacionais se empenhem nessa pesquisa, a tendência é que as informações básicas apareçam mais rapidamente e que, portanto, desenvolvimentos bem-sucedidos ocorram em menor tempo", afirmou Grosso.
Para ler o artigo Filmes compostos de gelatina, triacetina, ácido esteárico ou capróico: efeito do pH e da adição de surfactantes sobre a funcionalidade dos filmes, de Carlos Grosso e outros, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (FAPESP/Bireme) clique aqui.
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.