Um novo mundo a explorar
21 de junho de 2004

Estudo feito por cientistas brasileiros, que será publicado na revista Oncogene, da Nature, abre uma nova porta para a pesquisa de doenças como o câncer, ao descobrir que pedaços de moléculas até então considerados inúteis interferem no funcionamento celular

Um novo mundo a explorar

Estudo feito por cientistas brasileiros, que será publicado na revista Oncogene, da Nature, abre uma nova porta para a pesquisa de doenças como o câncer, ao descobrir que pedaços de moléculas até então considerados inúteis interferem no funcionamento celular

21 de junho de 2004

 

Por Heitor Shimizu

Agência FAPESP - Uma descoberta feita por cientistas brasileiros acaba de trazer uma nova luz na pesquisa do câncer. A possibilidade até então desconhecida foi aberta após os pesquisadores terem estudado 27 tumores de próstata e verificado que metade dos genes marcadores de malignidade são mensagens novas.

"São mensagens emitidas pela fita de DNA oposta aos genes. Até agora, pensava-se que ela não emitia mensagens úteis para o funcionamento das células, mas nosso trabalho não só mostrou que esses sinais são emitidos pela próstata normal, como também revelou que existe uma modificação da quantidade de mensagens da fita oposta aos genes, emitidas pelos tumores mais malignos de próstata", disse Sergio Verjovski-Almeida, professor titular do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP) e líder da pesquisa que teve financiamento da FAPESP.

Os pesquisadores mostraram que fragmentos de moléculas antes consideradas sem função interferem na produção de proteínas nas células. A presença dessas mensagens pode estar relacionada ao estágio de desenvolvimento de doenças como o câncer. O grupo brasileiro é o primeiro a relacionar essas mensagens a doenças.

"A descoberta aumenta a chance de fazer um diagnóstico e prognóstico da evolução do câncer mais eficaz, pois permite olhar para uma grande quantidade de mensagens que eram emitidas pelo tumor e tinham função, mas que não eram medidas", disse Verjovski-Almeida. "Algumas dessas mensagens podem ser usadas como alvo para o tratamento, coisa que não havia sido feito. Estamos olhando para um mundo que ninguém conhecia."

Os cientistas usaram um microarray de DNA, construído no IQ-USP, para estudar tumores com diferentes graus de malignidade (de 5 a 10 na escala de Gleason), obtidos por prostatectomia radical e utilizados com consentimento dos pacientes. Cada amostra foi congelada em nitrogênio líquido logo após a extração e examinada por um patologista para a determinação do grau de malignidade.

O microarray de DNA é um chip no qual as amostras são dispostas ordenadamente para análise em computadores. Trata-se de uma tecnologia que tem revolucionado a genômica, por oferecer informações sobre milhares de genes ao mesmo tempo. Técnicas tradicionais na biologia molecular geralmente funcionavam na base do "um gene, um experimento", o que impediria as complexas análises feitas em estudos mais recentes.

O trabalho está sendo publicado no site da revista Oncogene (www.nature.com/onc), do grupo editorial inglês Nature, e deve sair na próxima edição impressa do periódico. O artigo, Antisense intronic noncoding RNA levels correlate to the degree of tumor differentiation in prostate cancer, é assinado por Verjovski-Almeida e outros 25 pesquisadores do IQ-USP, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, dos hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês e do Instituto Nacional do Câncer.

Para ler a reportagem da revista Pesquisa FAPESP sobre o estudo, clique aqui.


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