Após analisar o movimento de veículos de carga em rodovias paulistas, pesquisadores da USP calcularam o possível efeito de substituir o diesel por gás natural liquefeito. Modelo matemático aponta discreta redução dos óbitos (foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Trocar combustível de caminhões é insuficiente para evitar mortes por poluição, sugere estudo
06 de agosto de 2021

Após analisar o movimento de veículos de carga em rodovias paulistas, pesquisadores da USP calcularam o possível efeito de substituir o diesel por gás natural liquefeito. Modelo matemático aponta discreta redução dos óbitos

Trocar combustível de caminhões é insuficiente para evitar mortes por poluição, sugere estudo

Após analisar o movimento de veículos de carga em rodovias paulistas, pesquisadores da USP calcularam o possível efeito de substituir o diesel por gás natural liquefeito. Modelo matemático aponta discreta redução dos óbitos

06 de agosto de 2021

Após analisar o movimento de veículos de carga em rodovias paulistas, pesquisadores da USP calcularam o possível efeito de substituir o diesel por gás natural liquefeito. Modelo matemático aponta discreta redução dos óbitos (foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

 

Agência FAPESP* – A substituição completa do diesel usado como combustível nos caminhões de carga pesada por gás natural liquefeito (GNL) salvaria vidas, mas não seria o suficiente para evitar a maior parte das mortes hoje atribuídas aos efeitos da poluição do ar, indicou estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Imperial College London, no Reino Unido.

De acordo com a pesquisa, publicada na revista científica Atmospheric Environment, o GNL ajuda a reduzir as emissões de material particulado, mas não o suficiente para evitar todas as mortes atribuíveis à poluição nas cidades vizinhas às rodovias estudadas.

A pesquisa foi desenvolvida no âmbito de um projeto do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Escola Politécnica da USP.

A proposta era avaliar a viabilidade de criar um “Corredor Azul” no Estado de São Paulo, conceito que prevê a implantação de uma infraestrutura para o uso do gás natural como combustível em veículos rodoviários.

Para chegar à conclusão do estudo, os pesquisadores levantaram o fluxo dos caminhões entre São Paulo e Campinas no sistema rodoviário Anhanguera-Bandeirantes e, em seguida, estimaram a emissão de poluentes proveniente dos veículos de carga, analisando a dispersão atmosférica, em especial as concentrações de material particulado.

Além disso, foram levantadas estatísticas de mortes por câncer de pulmão e por doenças cardiovasculares e respiratórias em 12 cidades lindeiras às rodovias, utilizando o banco de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (Datasus). Utilizando a metodologia da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi estimada também as possíveis mortes que seriam evitadas com a troca de combustível.

Os pontos de maior concentração de poluentes, segundo o estudo, que observou apenas as emissões provenientes dos caminhões, estão em Jundiaí, próximo à rodovia dos Bandeirantes, e em Cajamar, nas proximidades da rodovia Anhanguera. A menor concentração foi registrada em Campinas, em um local distante de ambas as rodovias.

De acordo com os estudos analisados no artigo, os veículos movidos a gás natural produzem entre 70% e 85% menos poluentes que aqueles a gasolina ou a diesel. Além disso, promovem uma redução de 10% na emissão de gases de efeito estufa (GEE) em comparação com os caminhões a diesel. Portanto, era de se esperar uma correlação entre mortes e poluição do ar.

Mas o impacto da mudança no combustível, de acordo com os modelos usados no estudo, foi menor do que o esperado. “Achávamos que haveria uma redução maior nas mortes atribuíveis à poluição do ar proveniente dos veículos pesados”, afirmou Ana Carolina Rodrigues Teixeira, pesquisadora do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP e bolsista da FAPESP, em entrevista à Assessoria de Comunicação do RCGI.

“No caso de mortes por doenças respiratórias em crianças, por exemplo, não haveria nenhuma redução nos óbitos após a substituição total do diesel por gás natural nos caminhões. Ou seja, precisamos avaliar outras fontes poluidoras, como veículos de passeio e indústria, para entender melhor como seria o impacto da redução de emissões de poluentes na saúde da população”, comenta Teixeira.

Pelos cálculos dos pesquisadores, as mortes anuais por doenças cardiovasculares atribuíveis à poluição atmosférica podem ter uma variação de 8 a 296 óbitos, com uma média aproximada de 188. Para doenças respiratórias em pessoas idosas a variação é de 52 a 190 mortes e para câncer de pulmão variou entre 18 e 62 mortes no ano de 2016.

Pela simulação, a mudança no combustível dos caminhões para gás natural liquefeito poderia evitar menos de cinco mortes por ano para câncer de pulmão. Com relação às doenças cardiovasculares, a redução máxima seria de 14 mortes, mas com 90% de chance de menos de cinco mortes serem evitadas. Para as doenças respiratórias em idosos, menos de dez mortes seriam evitadas anualmente.

“Consideramos esse estudo um pontapé inicial para a discussão de políticas públicas relacionadas ao tema”, disse a pesquisadora do IEE-USP.

O artigo PM emissions from heavy-duty trucks and their impacts on human health pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1352231020305483.

*Com informações da Assessoria de Comunicação do RCGI.
 

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