Estudo feito na UnB demonstra que o samário-153, elemento radioativo produzido no Brasil pelo Ipen, reduz sangramentos em articulações de portadores de hemofilia (foto: Un. Hartford)
Estudo feito na Faculdade de Ciências da Saúde da UnB demonstra que o samário-153, elemento radioativo produzido no Brasil pelo Ipen, reduz sangramentos em articulações de portadores de hemofilia
Estudo feito na Faculdade de Ciências da Saúde da UnB demonstra que o samário-153, elemento radioativo produzido no Brasil pelo Ipen, reduz sangramentos em articulações de portadores de hemofilia
Estudo feito na UnB demonstra que o samário-153, elemento radioativo produzido no Brasil pelo Ipen, reduz sangramentos em articulações de portadores de hemofilia (foto: Un. Hartford)
Por Thiago Romero
Agência FAPESP – Um estudo feito pelo especialista em medicina nuclear José Ulisses Calegaro, pesquisador da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB), demonstrou a eficiência do samário-153 – elemento radioativo produzido no Brasil pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) – no tratamento de articulações de portadores de hemofilia.
Calegaro, que também é chefe do Núcleo de Medicina Nuclear do Hospital de Base do Distrito Federal, analisou a ação da substância em 31 pacientes, que durante um ano receberam sucessivas injeções em juntas para cessar o processo inflamatório. O samário-153 se mostrou eficiente para o tratamento da artropatia hemofílica, caracterizada pelo rompimento de vasos sangüíneos que leva ao acúmulo de sangue nas articulações.
“No estudo utilizamos o material para o tratamento da artropatia hemofílica, o que ainda não havia sido feito no país. A doença resulta na hemorragia em vasos sangüíneos, levando à reação inflamatória da sinóvia [revestimento interno das juntas] intra-articular, dor e imobilidade articular” disse Calegaro à Agência FAPESP.
Segundo ele, a repetição desses episódios resulta em atrofia muscular, destruição do revestimento cartilaginoso e posterior lesão óssea, podendo ocasionar a perda do movimento articular (artrose). Os derrames nas articulações são um dos principais problemas das cerca de 8,2 mil pessoas que sofrem de hemofilia no Brasil.
De acordo com o estudo, o samário-153 impede a inflamação da sinóvia intra-articular, uma vez que a substância ajuda a tornar as células mais fibrosas (com menos vasos sangüíneos), diminuindo a circulação e a possibilidade de sangramento nas articulações.
“O samário-153 irradia as células sinoviais fazendo com que elas sejam substituídas gradativamente por tecido fibroso, mais resistente e menos sensível à ocorrência de sangramentos”, explica Calegaro.
O pesquisador lembra que o uso da sinovectomia radioativa, a injeção intra-articular de radioisótopos em células e tecidos humanos, teve início em 1971 em institutos de pesquisa na Alemanha. “O mecanismo de fibrose nas articulações foi constatado em testes em animais de laboratório antes da aplicação humana realizada nessa época.”
O novo estudo verificou redução de hemartroses (derrames de sangue em uma articulação) de 78% para os cotovelos e de 82% para os tornozelos dos pacientes que receberam o material radioativo.
“Essa análise foi efetuada levando em conta o percentual de redução das hemartroses, o uso de fatores de coagulação sangüínea e as manifestações clínicas que ocorreram nas articulações comprometidas dos indivíduos”, explicou.
Terapia e diagnóstico
A medicina nuclear envolve dois usos distintos de radioisótopos. No uso terapêutico, a radiação é empregada na tentativa de curar doenças como o câncer, que pode ser tratado por radioterapia para que as células do tumor sejam destruídas pelos efeitos da radiação.
Os isótopos radioativos podem ainda ser empregados no diagnóstico para fornecer informações sobre o tipo ou extensão de diversas doenças. Segundo Calegaro, é importante ressaltar que, para alcançar os objetivos terapêuticos com os hemofílicos, foi preciso fazer uma pequena modificação no samário-153, que foi misturado à hidroxiapatita, um dos elementos da matriz óssea no organismo humano.
Essa mistura, aponta o pesquisador, resultou no baixo escape do material, permitindo que ele se concentrasse o máximo possível na região de estudo sem irradiar e afetar outras células sadias, causando menos efeitos colaterais.
“Agregado à hidroxiapatita, o samário-153 fica com o tamanho de uma partícula apropriada para ser incorporada pelos macrófagos existentes na sinóvia inflamada, com menor possibilidade de escapar da articulação”, disse.
“A associação resultou na 153-samário-hidroxiapatita, um material que consegue permanecer maior tempo dentro da articulação e confere um perfil de segurança muito grande aos pacientes”, contou.
Os hemofílicos têm déficit em um dos 13 fatores sangüíneos que atuam na coagulação do sangue. Em casos leves, o paciente apresenta sangramentos ligeiramente elevados em pequenas cirurgias. Nos mais graves, alguns movimentos do corpo já são responsáveis pela ocorrência de hemorragias internas.
Segundo Calegaro, o samário-153 tem potencial de uso em outras finalidades terapêuticas. “O elemento pode ser aplicado em doenças que também resultam em artropatias, como a artrite reumatóide e a artrite vilonodular. Seu uso, além da artropatia hemofílica, deve se expandir para o tratamento de articulações dessas e de outras doenças”, indicou.
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