Maria Cátira é uma das pesquisadoras que participa da nova síntese que tenta explicar como ocorreu o povoamento das Américas (foto:E.Geraque)
Pesquisadores brasileiros se reúnem para tentar responder a uma importante questão: "Como, afinal, ocorreu o povoamento humano das Américas?" As pistas indicam que ele foi mais antigo do que se acredita
Pesquisadores brasileiros se reúnem para tentar responder a uma importante questão: "Como, afinal, ocorreu o povoamento humano das Américas?" As pistas indicam que ele foi mais antigo do que se acredita
Maria Cátira é uma das pesquisadoras que participa da nova síntese que tenta explicar como ocorreu o povoamento das Américas (foto:E.Geraque)
Agência FAPESP - Se a polêmica já é grande, ela deve aumentar ainda mais. O motivo é que uma nova abordagem, feita por um grupo de pesquisadores brasileiros e argentinos, propõe que a migração humana da Ásia para a América teria começado ainda muito mais cedo do que se pensava. Há 20 mil anos.
Para chegar à nova data, foram analisados dados genéticos das populações e eventos geológicos-climáticos. O grupo é formado por pequisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centro Nacional Patagônico. Uma das análises mais conclusivas foi baseada em dados genéticos, retirados do DNA mitocondrial de centenas de humanos. Análises morfométricas de crânios também foram consideradas.
"Grande parte dos modelos é simplificadora. Esse povoamento foi muito mais complexo. É preciso que as similaridades também sejam identificadas", disse Maria Cátira Bortolini, da UFGRS, à Agência FAPESP. A cientista é uma das líderes do grupo que vai propor a nova síntese.
O grupo está convencido de que a Beríngia – porção de terra firme que juntou o Alasca e a Sibéria onde atualmente se encontra o estreito de Bering –, enquanto região geográfica, teve uma importância gigantesca no processo da conquista humana das Américas.
A pressão populacional naquele local pode ajudar a explicar por que a onda migratória teve seu início para o sul do continente. E, nesse deslocamento, os pesquisadores não descartam a importância da chamada "rota pacífica de povoamento".
O que precisa ser mais bem identificado, dizem os pesquisadores do grupo, é se a expansão demográfica ocorreu do lado de cá ou de lá. Mas a hipótese de que houve um fluxo freqüente durante um bom período, ou quando os dois continentes permaneceram unidos geograficamente, também não é desprezível. Apenas essa reunião interdisciplinar poderá ajudar a responder essas impertinentes dúvidas. "É preciso oferecer uma visão de mundo", acredita Maria Cátira.
Existem vários pontos de vista sobre o povoamento das Américas. O arqueólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo, por exemplo, formou sua análise em mais de sete dezenas de crânios obtidos em Lagoa Santa, nos arredores de Belo Horizonte.
Para Neves, o povoamento das Américas pelo Estreito de Bering teria começado há 14 mil anos. Luzia (crânio estudado por Neves) e seus companheiros teriam vivido no interior brasileiro há aproximadamente 11 mil anos. O modelo chamado de convencional, dado como inquestionável pelos norte-americanos, afirma que tudo começou bem mais tarde, no máximo há 11,5 mil anos.
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