Debate no Memorial da América Latina discute a inovação tecnológica no Mercosul

Transferência tecnológica contextualizada
22 de setembro de 2006

Debate de encerramento no 2º Simpósio Internacional do Fórum Universitário Mercosul delineou um quadro sombrio dos processos de inovação na região. Ainda assim, um caminho possível foi apontado

Transferência tecnológica contextualizada

Debate de encerramento no 2º Simpósio Internacional do Fórum Universitário Mercosul delineou um quadro sombrio dos processos de inovação na região. Ainda assim, um caminho possível foi apontado

22 de setembro de 2006

Debate no Memorial da América Latina discute a inovação tecnológica no Mercosul

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - No quadro macro, a situação da inovação tecnológica em países do Mercosul é parecida. Nesta quinta-feira (21/9), esse quadro, pintado com cores bastante sombrias, emergiu do debate de encerramento do 2º Simpósio Internacional do Fórum Universitário Mercosul (Fomerco), realizado no Memorial da América Latina, em São Paulo.

"Diante de muitas variáveis, os processos de inovação tecnológica locais que existiam no Brasil, na Argentina e no Uruguai eram mais significativos nos anos 1960 e 1970 do que os vistos atualmente", disse o historiador Hernán Thomas, da Universidade de Quilmes, na Argentina. Ele foi um dos debatedores da sessão, ao lado do economista José Eduardo Cassiolato, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A linha mestra da exposição de Thomas foi baseada no "déficit sociotécnico" encontrado nas nações do Mercosul. Como o modelo tecnológico escolhido pelos países estudados é o de se adequar ao que é oferecido de fora, os grandes hiatos na inovação, na visão de Thomas, só tendem a aumentar.

"É por isso que precisamos construir processos baseados naquilo que podemos chamar de condições periféricas", disse o pesquisador argentino. Para ele, é necessário que a região desenvolva ações inovadoras do ponto de vista tecnológico, voltadas para a solução de problemas sociais, ambientais e técnicos locais. "Esses seriam os motores fundamentais da inovação."

Segundo Thomas, não adianta repetir o que foi feito pela Repsol, petrolífera espanhola que participou da privatização do setor na Argentina. "Eles compraram a YPF e, logo em seguida, fecharam todos os laboratórios de tecnologia que estavam funcionando", contou.

Na linha do colega argentino, Cassiolato também partiu para a condenação de uma espécie de segunda onda de colonialismo. "Estamos ainda, muitas vezes, comprando ilusões científicas e tecnológicas", disse o professor da UFRJ.

Como exemplo, citou o caso da privatização da telefonia no Brasil. "Nossa tecnologia de comunicação, há 20 anos, era mais moderna do que aquela que nos foi vendida recentemente em alguns estados", afirmou o economista.

"A política liberal vem desde o tempo da ditadura. Isso gerou uma perda de capacitação em vários segmentos. Hoje, por exemplo, não somos capazes de construir automóveis, mas temos uma empresa tecnológica na área de aeronáutica, a Embraer, bastante competitiva", disse.

Outro problema central, ligado diretamente com a falta da inovação tecnológica no Brasil, segundo Cassiolato, é o domínio do capital financeiro.

Apesar de concordar que desenharam um quadro pesado da situação atual do Mercosul, em termos de inovação tecnológica, os dois debatedores, ao serem provocados pela professora Helena Lastres, também da UFRJ, a comentarista da mesa, concordaram que existe uma saída possível para que o impasse tecnológico seja solucionado.

"É preciso montar estruturas locais dos sistemas de inovação. E isso pode ser feito tanto em todas as regiões do Brasil como entre os países do Mercosul", disse Cassiolato. Segundo o economista, a integração econômica feita entre Brasil e Argentina, baseada na inovação, é absolutamente nenhuma hoje.


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