Zagallo e o seu inseparável escudeiro, o número 13
(foto: divulgação)

Tradição supersticiosa
17 de agosto de 2005

Mágica, religião e crendices. Três características que são parte inerente ao futebol, atividade que expressa e espelha a sociedade brasileira, segundo livro que acaba de ser lançado por pesquisadores da Unicamp

Tradição supersticiosa

Mágica, religião e crendices. Três características que são parte inerente ao futebol, atividade que expressa e espelha a sociedade brasileira, segundo livro que acaba de ser lançado por pesquisadores da Unicamp

17 de agosto de 2005

Zagallo e o seu inseparável escudeiro, o número 13
(foto: divulgação)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Os exemplos, dentro dos códigos simbólicos do mundo do futebol, existem em qualquer clube e em todos os Estados. Quem passou por qualquer vestiário antes de um jogo do futebol profissional, mesmo em estádios grandes como Morumbi ou Maracanã, já viu altares e velas – e ouviu rezas também.

Tem o número 13, fiel escudeiro de Mário Jorge Lobo Zagallo, ou a camisa vermelha e sempre igual de Telê Santana. Ou, mais recentemente, os crucifixos beijados por Antônio Lopes, técnico do Atlético Paranaense, momentos antes da cobrança de pênaltis na final da última Libertadores de América. Essa combinação, entre a tradição do mundo da bola e o contexto cultural do país, é muito rica do ponto de vista antropológico.

"Ora, se o brasileiro traz em sua dinâmica cultural características mágicas, religiosas, supersticiosas, crendices... e se o futebol expressa e espelha a cultura, então esse esporte também apresenta essas mesmas características", disse Jocimar Daolio, professor da Escola de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), à Agência FAPESP. O pesquisador é o organizador do livro Futebol, cultura e sociedade, que acaba de ser lançado pela Editora Autores Associados. Além do texto sobre superstição, do próprio organizador, a coletânea tem capítulos assinados por outros cinco pesquisadores.

"A superstição é tomada como inerente à tradição do futebol, presente em toda a sua história até os dias de hoje, apesar de todo o desenvolvimento científico que acompanha a prática do futebol atual", explica Daolio. Segundo o professor da Unicamp, a superstição não pode ser tratada como uma característica menor do futebol, ou como defeito ou distorção.

Uma pesquisa realizada por Daolio em 1993, e citada em seu artigo no livro, mostra que até mesmo os jogadores de futebol temem ser rotulados. Segundo as respostas obtidas na enquete, todos os atletas negaram seguir práticas supersticiosas. Entretanto, no decorrer do bate-papo, ficou evidente que eles tomavam algumas medidas bem calcadas na crendice popular. Entrar em campo com o pé direito, dente de alho na meia, galho de arruda, rezas e repetições de trajes antes da partida foram alguns dos exemplos citados.

Se reza ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria sempre empatado. Essa frase famosa, repetida tanto pelos torcedores como pela própria imprensa, deve continuar em voga, para o bem do próprio futebol, uma das principais manifestações culturais do Brasil, segundo as conclusões de Daolio.

"Não há por que se envergonhar da presença da superstição. Sanear o futebol, extirpando suas manifestações populares tradicionais em busca de uma modernidade, poderia torná-lo muito racional, culminando com o seu fim", afirma.


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