Neice Faria, da Universidade Federal de Pelotas, apresentou estudo sobre toxicidade na Serra Gaúcha no Congresso Brasileiro de Epidemiologia (foto: E.Geraque)

Trabalho tóxico
22 de junho de 2004

Pesquisa apresentada no 6º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em Olinda, por Neice Faria (foto), da UFPel, revela tensão que existe entre o trabalho nas vinícolas da Serra Gaúcha e a intoxicação por agrotóxicos

Trabalho tóxico

Pesquisa apresentada no 6º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em Olinda, por Neice Faria (foto), da UFPel, revela tensão que existe entre o trabalho nas vinícolas da Serra Gaúcha e a intoxicação por agrotóxicos

22 de junho de 2004

Neice Faria, da Universidade Federal de Pelotas, apresentou estudo sobre toxicidade na Serra Gaúcha no Congresso Brasileiro de Epidemiologia (foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Olinda

Agência FAPESP - As belas paisagens do filme O Quatrilho (1994) não revelaram uma relação conflitante presente na região do município de Antônio Prado (RS), onde a maior parte das imagens foram feitas.

Um estudo apresentando nesta segunda-feira (21/6), no 6º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em Olinda (PE), mostrou que a cada ano 2% dos trabalhadores de parte da região da Serra Gaúcha sofrem com intoxicações por agrotóxicos.

"O fato de toda a região ser formada por vínicolas faz com que os índices não sejam tão elevados", explicou Neice Faria, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), uma das autoras do estudo. "O que mais ataca as uvas são fungos e os fungicidas apresentam uma baixa toxicidade, quando comparados com outras substâncias."

O baixo índice revelado pelo estudo não significa que o problema não existe ou muito menos que ele está sob controle. Segundo Neice, o uso de equipamentos de proteção individual, obtido na mesma pesquisa, mostra que a segurança dos 1.479 agricultores familiares analisados está sempre ameaçada.

Pelas tabelas apresentadas pela pesquisadora, 86% dos homens e 68% das mulheres não usam nenhum tipo de proteção para a pele. "O que é uma questão basicamente cultural", afirma. Um dos grandes problemas identificado é que as roupas, desenvolvidas para países de clima frio, além de caras são muito quentes e desconfortáveis.

Outro dado revelado pelo Grupo de Saúde do Trabalho da UFPel mostra que o problema pode crescer de dimensão de forma considerável. "Conseguimos detectar que 12% dos trabalhadores investigados apresentam sintomas relacionados com a asma", disse Neice.

Segundo ela, as correlações estatísticas feitas não deixam dúvidas de que essa incidência de problemas respiratórios é causada pelos agrotóxicos. "Além disso, outros pesquisadores verificaram que essa exposição no campo também está causando problemas de má formação de fetos", alertou a cientista.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.