O morcego raposa-voadora, que vive nas Ilhas Comoros, no Oceano Índico, é um dos animais ameaçados e desprotegidos
Estudo feito por cientistas da Conservation International, publicado na Nature, mostra que existem lacunas além das áreas de conservação ambiental, incluindo os corredores ecológicos e os corredores de biodiversidade, onde pelo menos 300 espécies estão criticamente ameaçadas
Estudo feito por cientistas da Conservation International, publicado na Nature, mostra que existem lacunas além das áreas de conservação ambiental, incluindo os corredores ecológicos e os corredores de biodiversidade, onde pelo menos 300 espécies estão criticamente ameaçadas
O morcego raposa-voadora, que vive nas Ilhas Comoros, no Oceano Índico, é um dos animais ameaçados e desprotegidos
Agência FAPESP - Um estudo feito por 21 cientistas da Conservation International (CI), uma organização não-governamental que procura aliar pesquisa e conservação, e publicado na edição de 8 de abril da revista Nature, mostra que realmente existem lacunas além das áreas de conservação ambiental, incluindo os corredores ecológicos e os corredores de biodiversidade.
O estudo Análise Global de Lacunas mostrou que há pelo menos 300 espécies criticamente ameaçadas e 267 vulneráveis, entre aves, mamíferos, anfíbios e tartarugas, que estão descobertas pelo sistema mundial de áreas protegidas.
Para realizar a análise, os pesquisadores selecionaram áreas onde vivem 11.633 espécies, entre aves, mamíferos, anfíbios e tartarugas de água doce. Em seguida, sobrepuseram a essas áreas um mapa com as 100 mil unidades de conservação existentes no mundo, de modo a identificar os lugares onde as espécies vivessem sem nenhum tipo de proteção e analisar as lacunas mais expressivas.
Descobriram que, por exemplo, 258 espécies de mamíferos podem ser consideradas "espécies-lacuna". Dessas, 149 estão ameaçadas. Entre os mamíferos criticamente ameaçados e desprotegidas está um dos mais raros morcegos frugívoros, o morcego raposa-voadora (Pteropus livingstonii), das Ilhas Comoros, no Oceano Índico, e o roedor Marmosa handleyi, da Colômbia.
Mas o estudo traz uma boa notícia, ao verificar que atualmente 12% da área total do planeta está sob alguma forma de proteção. "Isso é uma grande conquista, apesar de a análise provar que a conservação deveria privilegiar os lugares com grandes concentrações de espécies ameaçadas e endêmicas, isto é, que só existem ali e em nenhuma outra parte", afirma um dos autores do estudo, Gustavo Fonseca, vice-presidente executivo para ciência da CI e professor de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Se a princípio se falava apenas em unidades de conservação e, depois, vieram os corredores ecológicos e os de biodiversidade, além da identificação das áreas de lacunas o avanço das pesquisas no campo da conservação ambiental mostra uma tendência ainda mais clara. Um manejo integrado desse conceitos será a única forma de evitar que extinções em massa ocorram nas próximas décadas.
Corredores de proteção
Ao lado de José Marcio Ayres, um dos idealizadores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, na Amazônia, morto de forma prematura, aos 49 anos, em março de 2003, Fonseca foi um dos responsáveis pela introdução do termo "corredor ecológico" no Brasil.
"Eles foram convidados a elaborar uma proposta de abordagens inovadoras para a conservação da biodiversidade no país", explica o pesquisador paraense José Maria Cardoso da Silva, vice-presidente de Ciência da CI. "A proposta, feita em 1997, transformou-se num amplo projeto de conservação financiado hoje pelo Banco Mundial e desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente."
Segundo Cardoso da Silva, a idéia da dupla nos anos 90 era integrar unidades de conservação, terras indígenas e as áreas entre elas – os corredores – para a formação de um território mais amplo que poderia garantir a biodiversidade da região em questão. "O termo corredor ecológico foi usado pela lei que cria o Sistema Único de Unidades de Conservação para determinar faixas de ambiente natural que conectem duas ou mais unidades de conservação", disse.
Nos anos seguintes, as pesquisas relacionadas com a conservação da biodiversidade não deixaram de incorporar novas tecnologias e novos pontos de vista. Para os patrimônios faunístico e florístico continuarem relativamente intactos, principalmente no caso da Amazônia e do Pantanal, surgiram novas abordagens científicas sobre o meio ambiente. Para que uma região como a Mata Atlântica, por exemplo, não perdesse mais do que os quase 93% da sua área original que já foram derrubados, um novo conceito teórico, já implantado nesse caso, se fez necessário.
"Existe uma diferença significativa em termos de escala espacial entre os corredores ecológicos e os de biodiversidade", disse Cardoso da Silva. Com um área de abrangência mais ampla, o termo "corredor de biodiversidade" está relacionado a um território em escala regional ou sub-regional. "Nessas regiões se planeja implementar um sistema integrado de áreas protegidas, incluindo várias unidades de conservação e de terras indígenas em seus entornos", explicou o ambientalista.
Atualmente espalhados pelo Brasil – além da Mata Atlântica existem corredores de biodiversidade em outros biomas, como no Pantanal ou na Amazônia –, essa forma de conservação ambiental não é considerada a única eficiente atualmente.
"Uma outra abordagem interessante seria a da identificação de Áreas Chaves para a Conservação", disse Cardoso da Silva. "Essas regiões apresentam grandes concentrações de espécies ameaçadas de extinção e nem todas essas áreas estão dentro dos corredores".
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