Instituto Microsoft Research-FAPESP de Pesquisas em TI apresenta, em workshop na sede da Fundação, os projetos selecionados na terceira chamada do convênio. Propostas têm foco em biodiversidade, clima e bioenergia (Foto: Eduardo Cesar)
Instituto Microsoft Research-FAPESP de Pesquisas em TI apresenta, em workshop na sede da Fundação, os projetos selecionados na terceira chamada do convênio. Propostas têm foco em biodiversidade, clima e bioenergia
Instituto Microsoft Research-FAPESP de Pesquisas em TI apresenta, em workshop na sede da Fundação, os projetos selecionados na terceira chamada do convênio. Propostas têm foco em biodiversidade, clima e bioenergia
Instituto Microsoft Research-FAPESP de Pesquisas em TI apresenta, em workshop na sede da Fundação, os projetos selecionados na terceira chamada do convênio. Propostas têm foco em biodiversidade, clima e bioenergia (Foto: Eduardo Cesar)
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – O Instituto Microsoft Research-FAPESP de Pesquisas em Tecnologia da Informação realizou nesta segunda-feira (30/11), em São Paulo, um workshop para apresentar os projetos selecionados na terceira chamada de propostas associada ao convênio estabelecido em 2007 entre as instituições.
Os quatro projetos selecionados têm foco em pesquisas aplicadas nas áreas de biodiversidade, clima e bioenergia. Nas três chamadas publicadas desde 2007, 11 projetos foram contemplados, com investimentos totais da ordem de R$ 3,5 milhões.
Nas duas primeiras chamadas, foram financiados projetos nas áreas de saúde, educação, inclusão digital, agricultura e governo eletrônico. Na nova seleção foram contempladas propostas que propunham o uso de técnicas computacionais para a gestão de grandes volumes de dados relacionados a mudanças climáticas, sistemas de informação biológica e produção de energia.
De acordo com Paulo Iudicibus, diretor de Inovação e Novas Tecnologias da Microsoft Brasil, o convênio faz parte da estratégia da empresa de expandir a pesquisa colaborativa com instituições que fazem pesquisa de ponta em vários países.
“Acreditamos muito na inovação por meio da pesquisa feita não apenas nos nossos laboratórios em Redmond, nos Estados Unidos, mas também em conjunto com institutos e organizações em outros países. Além da parceria com a FAPESP, em São Paulo, temos iniciativas semelhantes em 17 locais do mundo”, disse Iudicibus à Agência FAPESP.
O objetivo das colaborações, segundo ele, é fomentar a inovação, que não precisa necessariamente ser utilizada pela empresa. “A prioridade é criar inovação para o país, com retorno em diversas áreas – em especial meio ambiente, gestão pública, saúde e educação –, aprendendo com as abordagens locais. Além disso, os convênios são uma forma de estreitar nosso relacionamento com a comunidade acadêmica”, afirmou.
Segundo Celso Lafer, presidente da FAPESP, os projetos contemplados na terceira chamada dão mais uma demonstração da importância do convênio. “Essa iniciativa conjunta representa um apoio relevante à pesquisa de classe mundial em tecnologias da informação, que produz o avanço do conhecimento”, afirmou.
Bombardeio de dados
De acordo com Jaime Puente, diretor de Pesquisa Externa da Microsoft Research, os trabalhos em colaboração com a academia são coerentes com o paradigma atual da pesquisa científica, fundamentado na exploração de quantidades imensas de dados.
“Há mil anos, o conhecimento era integralmente experimental, descrevendo fenômenos naturais a partir da observação. Nos últimos séculos emergiu a ciência teórica, que buscou acomodar esses dados experimentais em equações”, disse.
“Nas últimas décadas, com a ciência computacional, passamos à era da simulação de fenômenos complexos. Agora, chegamos ao quarto paradigma: os cientistas são esmagados por imensos conjuntos de dados de diversas fontes. Para tratar esses dados, precisamos de novos recursos e ferramentas”, ressaltou.
Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, explicou que o acordo com a Microsoft faz parte de duas estratégias da Fundação: desenvolver oportunidades de pesquisa com parceiros do mundo empresarial e internacionalizar a pesquisa paulista.
“A primeira estratégia, mais antiga e estabelecida, consiste em incentivar colaborações nas quais a pesquisa ocorre na academia, mas o tema de pesquisa é escolhido pelo parceiro empresarial, que também cofinancia os estudos”, disse Brito Cruz.
Essa estratégia passou a ser concretizada pela FAPESP a partir de 1995, com a criação do Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE).
“Em 1989, a FAPESP teve sua receita anual dobrada, graças à mudança na Constituição articulada pela comunidade científica. Ao mesmo tempo, teve seu escopo ampliado: sua missão passou a ser a de apoiar não apenas a pesquisa científica, mas também o desenvolvimento tecnológico no Estado de São Paulo. Além da pesquisa fundamental, passamos a investir também na pesquisa inovativa”, disse.
Segundo Brito Cruz, a segunda estratégia surgiu a partir da análise de indicadores da produção científica paulista. “Observamos que a qualidade da pesquisa em muitas áreas é superior à sua visibilidade internacional”, afirmou.
Em parte, segundo o diretor científico, isso se deve ao fato de São Paulo ter montado um robusto sistema de pós-graduação. “Isso foi benéfico, mas teve uma consequência paradoxal: a partir de 1990, os estudantes passaram a fazer doutorado aqui mesmo e as conexões com o mundo científico diminuíram. E é importante relacionar nossa pesquisa com o que se faz no mundo, pois a ciência é um ato social”, destacou.
Clima e biodiversidade
Durante o workshop, os coordenadores das quatro propostas contempladas apresentaram brevemente seus projetos. Agma Traina, do Departamento de Ciências de Computação e Estatística do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos (SP), falou sobre o projeto “Desenvolvimento de métodos e técnicas de mineração de dados para apoiar pesquisas em mudanças climáticas, com ênfase em agrometeorologia”.
O projeto procura aperfeiçoar estudos sobre os efeitos das mudanças climáticas na agricultura. “Temos acesso a um grande volume de dados produzidos pela aplicação de modelos climáticos internacionais, por estações meteorológicas, sensores, satélites e radares. A ideia é calibrar os modelos e integrar esses dados”, explicou.
A utilização dos novos métodos previstos no projeto, com abordagem baseada na teoria de fractais, deverá permitir, segundo Agma, o monitoramento de mudanças climáticas regionais com mais precisão e frequência diária ou semanal, facilitando o trabalho da defesa civil e o tratamento de recursos hídricos para a agricultura, por exemplo.
Carlos Alfredo Joly, coordenador do Biota-FAPESP e professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apresentou o projeto “Sinbiota: pensando os próximos dez anos”, que incluirá novos modelos e ferramentas computacionais no Sistema de Informação Ambiental (SinBiota) do Programa Biota-FAPESP.
Segundo Joly, que divide a coordenação do projeto aprovado com João Meidanis, do Instituto de Computação da Unicamp e presidente da Scylla Informática, o objetivo é transformar o SinBiota em uma comunidade virtual de pesquisadores, educadores e formuladores de políticas ambientais.
“A ideia é criar um SinBiota 2.0, já que a versão atual teve grande impacto positivo – permitindo que dados do Biota-FAPESP fossem usados para orientar políticas públicas –, mas tem limitações, como o fato de não poder ser expandida a novos módulos, nem ser replicável para outros Estados”, explicou.
Além de tornar o sistema modular, permitindo, por exemplo, adicionar dados socioeconômicos para melhor entendimento do funcionamento de biomas em áreas próximas às cidades, o projeto prevê a inclusão de auditoria de dados para evitar erros como as incompatibilidades de ortografia. “Vamos importar os atuais 160 mil registros de 11 mil espécies para o novo sistema”, disse Joly.
Sensores e bioenergia
Rafael Santos, do Laboratório Associado de Computação e Matemática Aplicada do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apresentou o projeto “Desenvolvimento e aplicação de uma rede de geossensores para monitoramento ambiental”. O projeto será coordenado por Celso Von Randow, do Centro de Ciências do Sistema Terrestre do Inpe.
“A proposta consiste no desenvolvimento de uma rede de sensores para coletar dados sobre as interações entre a biosfera e ambiente da superfície da Terra, que tem um papel central no sistema climático e para a compreensão dos ciclos hidrológico e biogeoquímico do planeta”, disse.
Segundo Santos, um software específico será desenvolvido para integrar as informações obtidas em diversas torres em áreas florestais e distribuir dados para os pesquisadores interessados. O experimento terá uma rede de cerca de mil sensores espalhados por uma área de pesquisa do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA). “A rede irá medir temperatura, umidade do ar, concentração de dióxido de carbono a custo relativamente baixo”, afirmou.
Ricardo Zorzetto Vencio, do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, apresentou o projeto “Tecnologia da informação aplicada à genômica para bioenergia: anotação probabilística usando inteligência artificial”.
“O objetivo é desenvolver um software amigável para atribuir funções para genes cujo papel é desconhecido. Faremos isso estimando a probabilidade de que um dado gene tenha uma determinada função”, disse.
Os métodos irão atribuir funções a genes identificados pelo Projeto Genoma Cana (Sucest), que teve apoio da FAPESP. Os resultados, segundo Vencio, irão apoiar as pesquisas desenvolvidas no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) .
O método de probabilidades utilizado, segundo Vencio, será a técnica de rede bayesiana. “É uma técnica conhecida de inteligência artificial. Com ela, vamos extrapolar as informações de genes com funções definidas para genes cujas funções são desconhecidas, mas que têm a mesma origem evolutiva”, disse.
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