Estudo de Jaqueline Leta, da UFRJ, indica maior número de mulheres em áreas estratégicas de C&T no país (foto: Alex Salim)

Teto de cristal
26 de março de 2004

Estudo feito por Jaqueline Leta, da UFRJ, indica que a presença feminina em áreas estratégicas de C&T tem aumentado no Brasil. A má notícia é que as mulheres abandonam a atividade científica mais cedo, por escolha pessoal ou discriminação

Teto de cristal

Estudo feito por Jaqueline Leta, da UFRJ, indica que a presença feminina em áreas estratégicas de C&T tem aumentado no Brasil. A má notícia é que as mulheres abandonam a atividade científica mais cedo, por escolha pessoal ou discriminação

26 de março de 2004

Estudo de Jaqueline Leta, da UFRJ, indica maior número de mulheres em áreas estratégicas de C&T no país (foto: Alex Salim)

 

Por Kárin Fusaro

Agência FAPESP - Boa notícia para os alunos dos cursos de engenharia: está crescendo o número de mulheres na carreira. Para o público feminino, entretanto, uma má notícia: as mulheres continuam ocupando cargos mais baixos e trabalhando por menores salários.

"É o ‘teto de cristal’, como dizem os sociólogos, um fenômeno que não é exclusivamente brasileiro e está presente também em países desenvolvidos, como os Estados Unidos", disse Jacqueline Leta, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), à Agência FAPESP. A expressão mencionada pela pesquisadora corresponde a avistar o céu e jamais alcançá-lo.

Baseada na cienciometria, ou bibliometria – método que utiliza a literatura como objeto para o estudo de um tema –, a pesquisadora escreveu o artigo As mulheres na ciência brasileira: crescimento, contrastes e um perfil de sucesso, publicada em edição recente da revista Estudos Avançados, da Universidade de São Paulo (USP).

A bióloga verificou o crescimento da participação feminina em alguns cursos de graduação da UFRJ, nos grupos de pesquisa cadastrados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e no quadro de docentes da USP.

Os dados da UFRJ mostram o aumento da freqüência de mulheres em alguns cursos tradicionalmente ocupados por homens, como engenharia civil ou química e medicina. De acordo com a pesquisa, a tendência é que, num futuro não muito distante, seja ainda mais expressiva, senão majoritária, a presença da mulher nas profissões de maior reconhecimento.

No entanto, as mulheres ainda são minoria nos cargos de comando. No Centro de Ciência da Saúde da UFRJ, por exemplo, entre 15 pessoas que exercem funções administrativas apenas 4 são mulheres.

Fora dos cursos de graduação, o trabalho de Jacqueline também verificou o aumento do número de mulheres no sistema de ciência e tecnologia brasileiro. A partir de dados do CNPq, foi possível identificar a tendência crescente da fração de mulheres em posição de pesquisadoras (associadas a um grupo de pesquisa) e pesquisadoras-líderes (coordenadoras de grupos), posições mais reconhecidas e elevadas hierarquicamente.

"É importante observar que, enquanto o número de bolsistas do sexo feminino contemplados pelo CNPq cresce nas diferentes modalidades, na base da pirâmide, a proporção diminui na medida em que o nível hierárquico da bolsa se eleva", disse a cientista da UFRJ.

Nos registros feitos pelo CNPq em 2002, de 100 pessoas atuando dentro de grupos de pesquisa, 46 eram mulheres. Já entre os pesquisadores-líderes, o número de mulheres era de 41 para 100. Para se ter uma idéia, a balança pesa mais para o lado feminino quando a comparação é feita entre os bolsistas de primeira viagem na instituição federal de fomento: 55 entre 100 estudantes.

Os dados indicam que, por algum motivo, uma parcela das mulheres passa pelo estágio inicial de pesquisa (capacitação e treinamento) e se perde no caminho. Ou, então, não é reconhecida pelos pares por meio de concessão de bolsas. Porém, Jacqueline lembra que seria necessário um estudo mais aprofundado para identificar a existência de atitudes discriminatórias entre os pesquisadores. Apesar de alguns relatos aqui e ali, "faltam trabalhos que mostrem quantas mulheres abandonam a trajetória acadêmica por opção e quantas são vítimas de preconceito", disse.

A exemplo de outras atividades, por muitos anos a ciência foi vista como espaço masculino. Entre os séculos 15 e 17, período marcado por diversas transformações científicas, algumas mulheres da aristocracia européia chegaram a ser tutoras de filósofos naturais e experimentalistas. Outras, quando esposas ou filhas de pesquisadores, ocupavam-se da manutenção de coleções, da limpeza de vidrarias e de traduções de textos, tarefas mais voltadas ao suporte.

Nos séculos seguintes, enquanto a ciência se tornava uma ocupação profissional, a distância entre a mulher e as descobertas diminuia timidamente. A necessidade crescente de recursos humanos, os movimentos feministas e a luta pela igualdade de direitos entre os sexos foram bons argumentos para o ingresso definitivo da mulher no campo científico, a partir da segunda metade do século 20.

Para ler o artigo, disponível na biblioteca on-line SciELO (FAPESP/Bireme), clique aqui.


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