Testemunhos da evolução vegetal
13 de setembro de 2004

Pesquisas realizadas em Pernambuco, entre Porto de Galinhas e Tamandaré, pela equipe de Marcelo Guerra, da UFPE, podem estar detectando testemunhos da especiação de grupos vegetais

Testemunhos da evolução vegetal

Pesquisas realizadas em Pernambuco, entre Porto de Galinhas e Tamandaré, pela equipe de Marcelo Guerra, da UFPE, podem estar detectando testemunhos da especiação de grupos vegetais

13 de setembro de 2004

 

Por Eduardo Geraque, de Florianópolis


Agência FAPESP - Um pedaço pequeno do litoral brasileiro, com pouco mais de 100 quilômetros de extensão, muito provavelmente está sendo testemunha do início de um processo de especiação vegetal. Essa onda evolutiva estaria ocorrendo entre Porto de Galinhas e Tamandaré, cidades do litoral sul de Pernambuco.

Pesquisas realizadas pela equipe do professor Marcelo Guerra, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), detectaram plantas tetraplóides (o dobro do número normal de cromossomos) da espécie Rhynchospora tenuis naquela parte do litoral brasileiro. O fato é raro, porque exemplares desse grupo taxonômico não costumam ter indivíduos com tais características.

"Pode ser o início de um processo de especiação ou, então, uma primeira descoberta de indivíduos com o número de cromossomos dobrados. Precisamos estudar mais essas plantas", disse Guerra à Agência FAPESP. Com distribuição ampla pelo território brasileiro a R. tenius já foi coletada em várias outras partes do Brasil, mas sempre foram encontrados apenas dois pares de cromossomos e não quatro.

Segundo Guerra, que apresentou no 50º Congresso Brasileiro de Genética, na semana passada em Florianópolis, uma série de estudos citogenéticos que mostram como funcionam os vários mecanismos de evolução cromossômica que agem sobre uma planta, existe um campo enorme no Brasil para estudos como os que estão sendo feitos no Recife. "Uma das áreas promissoras é a que relaciona a história evolutiva dos vegetais com a biologia reprodutiva e com a sistemática molecular", avalia o pesquisador.

Olhar para os cromossomos das plantas, segundo Guerra, é uma forma de estar diante de processos que, depois de gerações e mais gerações, vão gerar novas espécies. "Essa evolução cromossômica ou gera uma nova espécie ou é conseqüência do processo de especiação que acabou de ocorrer", disse.

Independente do mecanismo de evolução cromossômica que esteja agindo sobre um determinado grupo vegetal, ele sempre vai ou alterar o número de cromossomos daquela espécie ou transformar a estrutura do cromossomo. Essas alterações, entre outros tipos, podem ocorrer por causa de um processo chamado pelos pesquisadores de disploidia. "Esse é o caso da R. tenuis. Nessa planta, ocorre uma mudança gradual do número de cromossomos de indivíduo para indivíduo, que tanto pode ser para mais como para menos", explica o pesquisador do Recife.

Na genética vegetal, como mostrou os trabalhos apresentados em Florianópolis, as empolgantes ondas da evolução também existem. Se as procuras aumentarem, acredita Guerra, testemunhos como os observados no litoral nordestino também serão cada vez mais freqüentes.


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