Tese da Unesp recebe prêmio da Associação Nacional de Pós-Graduação em Geografia

Trabalho desenvolvido por Alessandro Donaire de Santana com apoio da FAPESP analisou os conflitos ambientais em torno da extração de petróleo e gás por meio da técnica conhecida como fracking no oeste paulista e no centro-oeste paranaense

Agência FAPESP – A técnica conhecida como fracking, ou fraturamento hidráulico, é usada para extrair combustíveis líquidos e gasosos do subsolo. O procedimento consiste na injeção, a alta pressão, de uma mistura de água, propante (areia ou outros materiais usados para sustentar a fratura) e diversos produtos químicos com o objetivo de ampliar de forma controlada as fissuras existentes no substrato rochoso que armazena petróleo e gás natural, permitindo sua saída para a superfície.

O método tem sido amplamente questionado devido aos impactos ambientais a ele associados, como elevado consumo de água e risco de contaminação de sistemas aquáticos, do ar e do solo. E isso resultou num cenário conflituoso nas regiões que tiveram blocos leiloados no Brasil. A 12ª Rodada de Licitações de Petróleo e Gás, promovida pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em 2013, abriu pela primeira vez a possibilidade de pesquisa e extração de petróleo e gás por meio do fraturamento hidráulico no país.

O tema foi estudado pelo geógrafo Alessandro Donaire de Santana durante seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente. O trabalho ganhou o prêmio de melhor tese de doutorado na área de geografia física concedido pela Associação Nacional de Pós-Graduação em Geografia (Anpege).

Intitulada “‘Fracking na nossa terra, não!’: conflitos ambientais em torno dos recursos energéticos não ocasionais no oeste paulista e centro-oeste paranaense”, a tese foi orientada pelo professor João Osvaldo Rodrigues Nunes, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp, e apoiada pela FAPESP.

Segundo o estudo, o poder econômico do agronegócio, notadamente no Paraná, se apropriou da defesa de pautas ambientalistas para barrar as extrações não convencionais de petróleo e gás em territórios historicamente dominados por esse setor, receoso de perder áreas de produção de commodities agrícolas.

“Diante do panorama encontrado no oeste paulista e centro-oeste paranaense, e visando a compreensão das resistências que se levantaram contra o fracking no Brasil, a tese se debruçou sobre os principais impactos e conflitos ambientais relacionados a essa técnica nos Estados Unidos, maior produtor mundial de recursos energéticos não convencionais [petróleo e gás], e, principalmente, na Argentina, país que possui a maior produção da América Latina”, conta o pesquisador à Agência FAPESP.

O pesquisador destaca a importância do apoio da Fundação para a pesquisa: “A FAPESP proporcionou todas as condições materiais para o desenvolvimento do trabalho, desde a compra de livros, passando pelo financiamento das viagens para a divulgação dos resultados parciais em congressos e simpósios, até o apoio para a realização dos trabalhos de campo, que aconteceram na Patagônia, Argentina, em dezembro de 2021, e resultaram na aquisição de um vasto material de pesquisa e, mais do que isso, proporcionaram a imersão em uma realidade geográfica completamente nova e repleta de particularidades, que foram apresentadas e discutidas na tese.”

O prêmio foi concedido pela Anpege durante o Encontro Nacional de Pós-Graduação em Geografia, que ocorreu em outubro na Universidade Federal do Tocantins (UFT). A lista de todos os premiados está disponível no site da associação.