A relação maturidade da ciência brasileira versus dependência estrangeira foi apontada por Ruben George Oliven, da UFRGS e Anpocs (foto: arq.pessoal)
"Antes, as teorias eram feitas na América do Norte e na Europa, mas o Brasil, assim como os outros países da América Latina, pode criar teorias para explicar fenômenos atuais", afirma o antropólogo Ruben George Oliven
"Antes, as teorias eram feitas na América do Norte e na Europa, mas o Brasil, assim como os outros países da América Latina, pode criar teorias para explicar fenômenos atuais", afirma o antropólogo Ruben George Oliven
A relação maturidade da ciência brasileira versus dependência estrangeira foi apontada por Ruben George Oliven, da UFRGS e Anpocs (foto: arq.pessoal)
Agência FAPESP – O primeiro dia do encontro "Avanços e perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe", que a Academia Brasileira de Ciências sedia até sexta-feira (7/12), no Rio de Janeiro, reuniu renomados especialistas para discutir desafios das ciências sociais e humanas na atualidade.
José Murilo de Carvalho, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentou dados da distribuição de programas de pós-graduação em história segundo levantamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
De acordo com os dados, o número de programas de pós-graduação na área aumentou significativamente nas três últimas décadas: eram apenas dois em 1971, passando para 18 em 1990 até chegar aos 53 em 2007. Antes centralizados na região Sudeste (que ainda detém a maior parte, 46%), observa-se atualmente uma maior distribuição nas outras regiões: 22% são realizados no Sul do país, 17% no Nordeste, 11% no Centro-Oeste e 4% no Norte.
"Devemos destacar como fatores que contribuíram para o crescimento da área a descentralização regional e o aumento da produção. Hoje há também um diálogo maior com o exterior, mas ainda temos que superar o paradigma da dependência", ressaltou Carvalho, que, junto com Celso Lafer, presidente da FAPESP, é o único membro tanto da Academia Brasileira de Letras como da Academia Brasileira de Ciências.
A relação maturidade da ciência brasileira versus dependência estrangeira também foi apontada por Ruben George Oliven, professor titular do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como um dos desafios a serem superados.
"O brasileiro precisa começar a fazer teorização. Antes havia uma divisão: as teorias eram feitas na América do Norte e na Europa, a citar como exemplos Foucault, Lévi-Strauss e Bourdieu. Mas o Brasil, assim como os outros países da América Latina, podem criar teorias para explicar fenômenos atuais", disse o também presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs).
Segundo o antropólogo, outros dois desafios são a internacionalização das ciências sociais brasileiras e uma maior interação desta área com as outras ciências. "Hoje em dia, observamos uma tendência dos cientistas sociais brasileiros de estudar fenômenos que ocorrem no exterior", apontou.
Oliven lembrou que, no passado, as ciências sociais explicavam a construção da nação seguindo uma lógica de subdivisões: "A sociologia e as ciências políticas pensavam a parte mais complexa do Brasil, enquanto a antropologia estudava tribos e comunidades indígenas. Porém, fenômenos novos surgiram e tiveram que ser explicados. Foi nesse momento que a antropologia teve que entrar para explicar o que outras ciências não podiam explicar: novas formas de religiosidade, novas orientações sexuais, a preocupação com o corpo ou com o meio ambiente e o ressurgimento do regionalismo."
O antropólogo lembrou que fenômenos pouco estudados, como o Carnaval, o futebol e as telenovelas, começaram a ser estudados nesse período. "O Brasil, considerado um país atrasado, exportador de produtos rurais e agrícolas, mudou. Exportamos café, mas também commodities e serviços. Várias empresas brasileiras se tornaram multinacionais", disse.
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