Teoria da Higiene
28 de junho de 2004

O epidemiologista Maurício Barreto, da Universidade Federal da Bahia, apresentou na semana passada, durante o 6º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, uma das teorias mais polêmicas da saúde coletiva

Teoria da Higiene

O epidemiologista Maurício Barreto, da Universidade Federal da Bahia, apresentou na semana passada, durante o 6º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, uma das teorias mais polêmicas da saúde coletiva

28 de junho de 2004

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Contato com animais, ficar doente com sarampo ou hepatite na infância, conviver com crianças em escolinhas ou creches, tomar a vacina BCG e ainda ter algum diagnóstico positivo para algum tipo de verme. Todos esses itens, separados ou em conjunto, podem não ser tão negativos como aparentam à primeira vista.

"Toda a história da saúde pública, pelo menos nos últimos 100 anos, foi montada sobre as questões da higiene, saneamento e nutrição. Mas, agora, está surgindo uma nova teoria para explicar o aumento da asma e das alergias em geral, em todo o mundo", disse o epidemiologista Maurício Barreto, da Universidade Federal da Bahia, à Agência FAPESP.

Segundo o pesquisador, o único estudioso de epidemias a integrar a Academia Brasileira de Ciências, essa nova abordagem, se for consolidada, mudará grandes paradigmas. "Tanto nas ciências básicas quanto na epidemiologia ou na saúde pública."

O raciocínio básico de um grupo de cientistas europeus e norte-americanos, que criaram em 1989 o que vem sendo chamado de Teoria da Higiene, é provar que, ao viver em um mundo cada vez mais asséptico, as pessoas tendem a adquirir mais alergias em geral, além de doenças como a asma.

"Claro que essa teoria ainda tem muitos pontos em aberto e não consistentes, mas ela também tem alguns elementos que estão corretos", explica Barreto. Segundo ele, que não se considera um defensor da teoria, mas alguém disposto a discutir os princípios contidos nela, a questão dos vermes, por exemplo, é um desses pontos fortes.

"Estudos científicos sérios comprovaram que existe uma relação entre a diminuição de casos de asma em pessoas que tiveram vermes", disse Barreto. Além disso, explica o pesquisador, os epidemiologistas não podem mais olhar para o mundo das doenças infeciosas e crônicas, como dois grupos distintos, mas como partes de um mesmo sistema.

Dentro dos próprios estudos epidemiológicos, segundo o pesquisador, alguns conceitos foram transformados no passado. "Antes, se tinha a noção de que tudo era causado pelos chamados alergênicos, os causadores das alergias. Hoje, se entende que essas substâncias funcionam apenas como desencadeadoras de um processo mais amplo."

Enquanto um grupo cada vez maior de pesquisadores leva a sério a Teoria da Higiene, outros chegam até a ridicularizar essa posição, ao mencionar que comer sujeira, então, seria a solução para quem tem asma ou algum tipo de alergia.

"A questão é complexa e toda vez que uma nova teoria está se consolidando existem extremistas de ambos os lados. Nós somos cientistas e estamos vivendo isso, portanto, acho que pelo menos esse debate precisa ser ampliado", afirma Barreto.


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