Tabela de alimentos brasileiros

Primeira relação feita no país com a composição dos principais alimentos acaba de ficar pronta. O estudo, realizado pela Unicamp, é uma valiosa ferramenta para melhorar a segurança alimentar do brasileiro

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - De um simples regime por motivo estético ao planejamento das refeições de uma creche pública, onde cada nutriente é fundamental para o desenvolvimento das crianças. Conhecer cada detalhe dos alimentos, como as quantidades de proteína, lipídio ou carboidrato, é essencial para os profissionais envolvidos com segurança alimentar.

Um dos problemas para o sucesso dessas ações era que as tabelas disponíveis para consulta não haviam sido feitas com base em testes realizados totalmente no Brasil. Mas, a partir de agora, com a conclusão da primeira versão da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, está mais fácil conhecer os alimentos que chegam ao prato. O estudo, que gerou a primeira tabela genuinamente brasileira de composição de alimentos, coletou e analisou os 198 alimentos mais consumidos em todo o país.

"No caso do arroz, a partir do plano amostral desenvolvido, coletamos amostras nas nove regiões geopolíticas nacionais", explica o engenheiro agrônomo Dag Mendonça Lima, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A instituição coordenou o trabalho, que teve financiamento do Ministério da Saúde e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

"A maioria das tabelas usadas por aqui ou são baseadas em tabelas norte-americanas e européias ou são compilações de dados entre o Brasil e o exterior. Não existe nada que represente a diversidade nacional", conta Lima.

Vários são os fatores, segundo o pesquisador, que podem interferir na composição nutricional de um simples prato de arroz com feijão. "As condições edáficas (referentes ao solo), climáticas e de luminosidade, por exemplo, além da variedade escolhida, podem mudar bastante a constituição do produto", explica. Ou seja, valores para a composição de um determinado alimento podem variar dependendo do país ou região em que for cultivado.

Os pesquisadores do Nepa, a partir das informações geradas para a montagem da primeira tabela, começaram a fazer comparativos entre os valores encontrados no Brasil com os do exterior. "A expectativa é que, no caso principalmente das hortaliças e frutas, apareçam diferenças", conta Lima.

Leite, iogurtes, biscoitos, café, cereais, macarrão, farinha, enlatados diversos, arroz, feijão, carnes bovinas e de frango, frutas, verduras, legumes, sal, açúcar e pães fazem parte da lista apresentada na primeira versão da tabela. Em todos os casos, a metodologia de coleta procurou obter alimentos de várias partes do Brasil. Os produtos industrializados foram obtidos em supermercados de Manaus, Belém, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Campinas, Curitiba, Porto Alegre e Cuiabá.

"Com essas informações, tanto os nutricionistas como os responsáveis pela elaboração das refeições de creches e escolas públicas, por exemplo, poderão desenvolver um trabalho mais preciso", acredita Lima. Segundo o pesquisador, a versão publicada agora deve ser considerada apenas a primeira, por se tratar de um trabalho com necessidade permanente de atualização. "Já temos financiamento aprovado para a inclusão de 270 novos alimentos. Nessa próxima fase, vamos analisar, inclusive, preparações populares como a feijoada, a peixada com coco e a moqueca."

A tabela pode ser consultada, na íntegra, no site do Projeto Taco: www.unicamp.br/nepa/taco/home.php?ativo=home