Cultura de células-tronco embrionárias sobre camada de fibroblastos embrionários. Os grumos brilhantes são grupos de dezenas de células-tronco embrionárias que crescem grudadas (foto: IB/USP)
Grupo do Instituto de Biociências da USP importa dos EUA células-tronco embrionárias humanas, proibidas de serem estabelecidas no Brasil pelo projeto de Lei de Biossegurança. O material será utilizado para dar seqüência a pesquisa feita com camundongos
Grupo do Instituto de Biociências da USP importa dos EUA células-tronco embrionárias humanas, proibidas de serem estabelecidas no Brasil pelo projeto de Lei de Biossegurança. O material será utilizado para dar seqüência a pesquisa feita com camundongos
Cultura de células-tronco embrionárias sobre camada de fibroblastos embrionários. Os grumos brilhantes são grupos de dezenas de células-tronco embrionárias que crescem grudadas (foto: IB/USP)
Agência FAPESP - Uma equipe de cientistas da Universidade de São Paulo conseguiu vencer em parte as barreiras impostas pelo projeto de Lei de Biossegurança, aprovado em fevereiro na Câmara dos Deputados e que tramita no Senado Federal. Os pesquisadores, do Instituto de Biociências (IB), importaram dos Estados Unidos quatro linhagens de células-tronco embrionárias humanas, proibidas de serem estabelecidas no Brasil.
As células embrionárias foram recebidas do laboratório do professor Douglas Melton, do Departamento de Ciências Naturais da Universidade de Harvard, um dos dois grupos norte-americanos que estão fornecendo o material para cientistas de outras instituições e países. Diferente do outro centro, ligado à Universidade de Wisconsin, que cobra pelo material, a equipe de Melton cedeu gratuitamente as células aos pesquisadores da USP.
"Estamos muito entusiasmados com o recebimento das células-tronco embrionárias humanas, pois se trata de um modelo experimental de enorme valor em termos de linhas de pesquisa que podem ser abertas", disse Lygia da Veiga Pereira, professora do IB. A equipe de Lygia foi a responsável pela criação, em 2001, das primeiras linhagens de células-tronco embrionárias de camundongos e da primeira leva de camundongos geneticamente modificados no país. A conquista foi importante por permitir o desenvolvimento de modelos para o estudo de doenças que afetam o ser humano.
Após o descongelamento do material que acaba de chegar, os pesquisadores passarão à fase de estudos, quando irão comparar resultados com os modelos conseguidos no trabalho com camundongos. Apesar de animada com a oportunidade de pesquisa que acaba se ser aberta, provavelmente a primeira do tipo no país, Lygia ressalta que o fato de não poder estabelecer suas próprias linhagens de células-tronco embrionárias no Brasil representa um grande prejuízo científico.
"Perdemos uma parte fundamental do estudo, perdemos autonomia e ficamos à mercê do desenvolvimento feito em outro país", disse. Segundo a professora do IB, a obtenção desse material de pesquisa poderia ser feito no país sem dificuldade alguma, se não houvesse impedimento legal. Como a indefinição que cerca a Lei de Biossegurança ainda é muito grande, o grupo de Lygia optou pela importação. "A ciência tem que seguir em frente, não podemos ficar parados", afirmou.
Lygia, que é também pesquisadora do Centro de Estudos do Genoma Humano, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, é autora de Clonagem: fatos e mitos (2001) e Seqüenciaram o genoma humano... e agora? (2001), ambos pela Editora Moderna.
Em fevereiro, imediatamente após o projeto de Lei de Biossegurança ter passado na Câmara dos Deputados, a FAPESP, em reunião de seu Conselho Superior, decidiu manifestar posição de preocupação e enviou ao Senado um documento em que pedia a transformação do texto da lei, de modo que pudesse servir ao desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica do país
"A lei, nos termos em que foi aprovada, criará sérios obstáculos à pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico em um setor no qual a transferência de tecnologia, da descoberta à sua aplicação, é extremamente rápida", disse Carlos Vogt, presidente da FAPESP, no apelo feito aos senadores no sentido de ouvir representantes da comunidade científica e "transformar o texto da lei em instrumento de progresso e independência tecnológica, evitando assim danos irreparáveis aos mecanismos de geração de conhecimento e de riqueza."
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