"Dinos do Brasil" permite que visitantes façam uma expedição virtual pela pré-história e conheçam algumas das 30 espécies de dinossauros que viveram em regiões hoje ocupadas por estados como o de São Paulo ilustração: Pycnonemosaurus nevesi/Rodolfo Nogueira)

Startup apoiada pela FAPESP cria exposição para o Museu Catavento
23 de fevereiro de 2017

"Dinos do Brasil" permite que visitantes façam uma expedição virtual pela pré-história e conheçam algumas das 30 espécies de dinossauros que viveram em regiões hoje ocupadas por estados como o de São Paulo

Startup apoiada pela FAPESP cria exposição para o Museu Catavento

"Dinos do Brasil" permite que visitantes façam uma expedição virtual pela pré-história e conheçam algumas das 30 espécies de dinossauros que viveram em regiões hoje ocupadas por estados como o de São Paulo

23 de fevereiro de 2017

"Dinos do Brasil" permite que visitantes façam uma expedição virtual pela pré-história e conheçam algumas das 30 espécies de dinossauros que viveram em regiões hoje ocupadas por estados como o de São Paulo ilustração: Pycnonemosaurus nevesi/Rodolfo Nogueira)

 

Elton Alisson  |  Agência FAPESP – O Museu Catavento Cultural e Educacional, em São Paulo, inaugurou na última sexta-feira (18/02) a sala de realidade virtual Dinos do Brasil. Desenvolvido pela empresa VR Monkey em coprodução com o Museu Catavento, o projeto de pesquisa que apoiou o desenvolvimento da sala foi apoiado pela FAPESP no âmbito do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

A exposição levou três anos para ser desenvolvida e custou, aproximadamente, R$ 720 mil. “A ideia do projeto ‘Dinos do Brasil’ surgiu em 2013, quando também formamos uma equipe e apresentamos o projeto para o Museu Catavento. Em seguida, começamos a buscar patrocinadores. Felizmente, no final de 2015, conseguimos obter o patrocínio da Intel e da Ambev por meio da Lei Rouanet. E, em 2016, o projeto foi selecionado pelo programa PIPE da FAPESP”, disse Keila Keiko Matsumura Kayatt, sócia-fundadora da VR Monkey e idealizadora do projeto, à Agência FAPESP.

A exposição permite que os visitantes, em grupos de até 25 pessoas, sentadas em uma sala de 100 metros quadrados, façam uma expedição de meia hora de duração pela pré-história com o auxílio de óculos de realidade virtual e conheçam algumas das quase 30 espécies de dinossauros que habitaram regiões do país ocupadas hoje pelos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraíba, Ceará, Maranhão e Minas Gerais.

Os idealizadores do projeto recriaram digitalmente os ambientes onde viveram esses dinossauros há centenas de milhões de anos, além dos próprios animais, e simularam como caminhavam, os sons que produziam e alguns comportamentos que apresentavam, como o de predação e “furto” de ovos.

Para isso, contaram com a consultoria de Luiz Eduardo Anelli, professor de paleontologia do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGC-USP), e com a reconstrução dos dinossauros, feita pelo paleoartista Rodolfo Nogueira.

Autor de diversos livros sobre dinossauros do Brasil – um deles, para crianças, também intitulado “Dinos do Brasil” –, Anelli foi curador da exposição “Dinos na Oca e outros animais pré-históricos”, realizada em 2006, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, que registrou um dos maiores recordes de público entre as exposições realizadas em todo o país.

“A premissa da expedição virtual é que não tivesse nada sem fundamentação geológica e paleontológica”, afirmou Anelli. “Tivemos a ajuda de um ótimo ilustrador, que desenhou os dinossauros com bastante conhecimento, o que facilitou bastante. Mas também levantamos muitos dados sobre relevo e vegetação dos ambientes nas épocas retratadas na exposição”, afirmou.

Poucas espécies

De acordo com o pesquisador, embora tenha ocorrido durante toda a era Mesozoica – entre 250 milhões e 65 milhões de anos, quando surgiram os dinossauros – uma forte aridez na região onde se localiza hoje o Brasil, houve a formação pontual de ambientes muito distintos nesse período.

Entre esses ambientes estão a formação Botucatu – uma formação geológica da Bacia do Paraná, resultado da grande desertificação do continente Gondwana, há 140 milhões de anos, que deu origem a um deserto de dunas semelhante ao Saara, porém com maior extensão.

Nessa região, onde se originou o Aquífero Guarani, foi encontrado o único urólito (a marca de uma extrusão líquida preservada na rocha, causada pela urina de um dinossauro) no mundo, afirmou Anelli.

“Isso é mostrado na exposição em realidade virtual. Em um determinado momento, um dinossauro faz xixi em uma duna, representando essa descoberta”, disse.

A forte aridez que se estabeleceu na era Mesozoica suprimiu a diversidade vegetal e, consequentemente, a oferta de alimentos para os dinossauros na região onde se originou o Brasil. Por isso, o país não apresenta a mesma diversidade dessas espécies de animais pré-históricos como a Argentina, por exemplo, comparou o pesquisador.

“Enquanto a Argentina possui 150 espécies de dinossauros, no Brasil ainda não chegamos a 30. Mas esse número é melhor do que nada. Temos ao menos 30 espécies de dinossauros, tanto animais minúsculos, do tamanho de um beija-flor, como também dinossauros gigantes, com até 25 metros de altura e grandes predadores, que viveram em ambientes incríveis, de deserto ou vulcânicos, por exemplo, retratados na exposição”, disse.

Tecnologia revolucionária

Um dos objetivos da exposição virtual foi o de justamente divulgar os dinossauros brasileiros, disse Kayatt.

“Se você pedir para as pessoas no Brasil citarem o nome de um dinossauro, a maioria reponde T. rex”, apontou.

De acordo com ela, a ideia de criar uma exposição virtual surgiu em 2013, quando experimentou o kit desenvolvedor de óculos de realidade virtual Oculus Rift.

Considerado uma das melhores invenções dos últimos anos e comprado em 2014 pelo Facebook por US$ 2 bilhões, o Oculus Rift está revolucionando a área de entretenimento ao disponibilizar um equipamento de realidade virtual com preço acessível e qualidade muito superior aos competidores, com baixa latência, grande campo de visão e alta resolução, explicou Kayatt.

“Quando experimentamos a tecnologia, vimos que era revolucionária e começamos a pesquisar lugares onde poderíamos demonstrá-la para o maior número de pessoas possível. Ao visitar o Museu Catavento, nos certificamos de que era o lugar ideal, uma vez que recebe estudantes de mais de 60 escolas por dia e mais de 600 mil visitantes por ano”, disse.

A primeira ideia foi criar uma viagem virtual ao corpo humano. Porém, logo em seguida passaram a pensar em criar uma exposição sobre dinossauros em razão do fascínio das crianças por esse tema.

Um primo de Kayatt que é paleontólogo, contudo, sugeriu que criassem uma exposição especificamente sobre dinossauros brasileiros, ressaltando a existência destes animais no Brasil e a oportunidade de divulgar a paleontologia brasileira por meio desse tema, e sugeriu que entrassem em contato com o professor Anelli.

Em parceria com a equipe de educadores do Museu Catavento, os profissionais da empresa, juntamente com Anelli, elaboraram um roteiro para a exposição, com linguagem acessível e de fácil entendimento para o público visitante.

“Foi a primeira vez que aconteceu de uma ideia de uma exposição vir de fora do museu”, disse Pamella Freire, educadora do Museu Catavento e coordenadora da sala “Dinos do Brasil”.

“Quando o pessoal da VR Monkey nos apresentou a ideia da exposição topamos de cara por ser um tema de muito interesse do público do museu e porque não tínhamos nenhuma seção dedicada exclusivamente aos dinossauros”, afirmou.

A VR Monkey também desenvolveu com apoio da FAPESP um ambiente virtual voltado para o ensino de História, também chamado de Arqueologia Virtual, por meio do qual será possível a visitação a lugares da antiguidade.

O primeiro produto com esse objetivo – o 7VRWonders – permite conhecer as 7 Maravilhas do Mundo Antigo ( Leia mais sobre a VR Monkery em: pesquisaparainovacao.fapesp.br/79).

“Essa tecnologia de realidade virtual tem inúmeras aplicações e algumas empresas, como a VR Monkey, têm conseguido identificar nichos para aplicá-la”, avaliou Roberto Marcondes Cesar Junior, professor do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP e membro das coordenações do programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) e do Programa FAPESP de Pesquisa em eScience, que participou da inauguração da sala.

Restauro da fachada

Durante o evento, também foi apresentada a obra de restauro da fachada e elementos arquitetônicos do Palácio das Indústrias, onde está instalado o Museu Catavento.

O Palácio, construído entre 1911 e 1924, foi idealizado como um espaço aberto ao público para exposições industriais, agrícolas e comerciais, focando os avanços paulistas nessas áreas. A primeira exposição foi realizada em 1917.

“Hoje estamos testemunhando a reconstrução do passado sintonizado com o futuro, conjugando o trabalho artesanal de restauro da fachada e elementos arquitetônicos do museu com um trabalho de alta tecnologia, que é a instalação da exposição ‘Dinos do Brasil’”, disse José Roberto Sadek, secretário de Cultura do Estado, na abertura do evento.

Também participaram do evento o governador do Estado, Geraldo Alckmin, e o vice-prefeito de São Paulo, Bruno Covas, além de outras autoridades.

Exposição “Dinos do Brasil”

Faixa etária: a partir de 9 anos

Sessões: 10h, 11h, 12h, 13h, 14h, 15h e 16h ( de terça a sexta sessões para grupos agendados. Aos fins de semana, férias escolares e feriados é preciso tirar senha para participar da atividade)

Ingresso: R$ 6,00 (inteira) e R$3,00 (meia). Aposentados, crianças de 4 a 12 anos com carteirinha e pessoas com deficiência pagam meia. Aos sábados, a entrada é gratuita para todos os visitantes.

Local: Museu Catavento Cultural - Palácio das Indústrias – Avenida Mercúrio, s/número, Parque Dom Pedro II, Centro.

Mais informações: http://www.cataventocultural.org.br.

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