José Mindlin recebe da USP o título de doutor honoris causa
(foto: E. Geraque)

Situação legalizada
01 de setembro de 2005

Bibliófilo José Mindlin, aos 90 anos, recebe da USP o título de doutor honoris causa. Em discurso bem-humorado, o homenageado disse que, pelo menos agora, suas colaborações poderão ser feitas de forma oficial

Situação legalizada

Bibliófilo José Mindlin, aos 90 anos, recebe da USP o título de doutor honoris causa. Em discurso bem-humorado, o homenageado disse que, pelo menos agora, suas colaborações poderão ser feitas de forma oficial

01 de setembro de 2005

José Mindlin recebe da USP o título de doutor honoris causa
(foto: E. Geraque)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - "Sempre fiz tudo de forma séria, apesar de nunca ter me levado a sério." A frase da abertura do discurso de José Ephim Mindlin, o homenageado da noite da terça-feira (30/8) na sessão solene do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP), deu o tom bem-humorado de sua fala. O jornalista, advogado, empresário e bibliófilo, que completa 91 anos no próximo dia 8, recebeu o título de doutor honoris causa.

"Sempre estive perto da universidade e colaborando com ela, mas agora posso fazer isso de forma oficial. Minha situação está legalizada", continuou Mindlin, de forma agradável, seu discurso solene. A proximidade com os livros continua, apesar de alguns problemas de visão. "Estou lendo no momento o novo livro do Milton Hatoum [o escritor amazonense acaba de colocar no mercado seu terceiro romance, Cinzas do Norte]", disse à Agência FAPESP.

Para o plenário lotado no auditório Francisco Romeu Landi, na Escola Politécnica – o pedido aclamado pelos acadêmicos para a homenagem saiu da Escola de Comunicações e Artes da USP –, Mindlin contou outras histórias de uma vida bastante ativa. "Conheci os professores franceses que participaram do início da USP. Sou 20 anos mais velho que a universidade", disse.

Apesar de ter lembranças positivas daquele tempo, Mindlin não se furtou a uma confidência. "A única recordação negativa que tenho é do professor Roger Bastide. Ele me pediu um volume da Revista do Brasil, que era editada pelo Monteiro Lobato e tinha um artigo do Lasar Segall, e nunca mais me devolveu", contou bem-humorado. Disse ainda ter conseguido outro exemplar num sebo paulistano, vários anos depois. "A coleção está completa", comemora.

Desde a primeira metade do século passado, o homenageado pela USP carrega outras presenças muito mais fortes em seu dia-a-dia. "Nos anos 30, quando estudava direito no Largo São Francisco, conheci uma caloura." A referência feita é para introduzir a companheira de sempre, Guita Mindlin, que estava sentada na primeira fila do auditório. "Peço a permissão de dividir esse título com ela", falou antes dos aplausos de amigos como Paulo Egydio Martins, ex-governador de São Paulo, e Carlos Vogt, presidente da FAPESP – Mindlin foi conselheiro da Fundação na década de 1970.

Sobre o período mais recente da história do país, as lembranças não são mais tão empolgantes. Durante os anos de chumbo, já empresário na Metal Leve, Mindlin foi secretário de Cultura do Estado quando o regime militar assassinou o jornalista Vladimir Herzog, então chefe de jornalismo da TV Cultura. Naquele momento, Mindlin começaria a se distanciar do governo e da política. "O único exemplo de fidelidade partidária é entre eu e Guita", brincou.

Sobre o país, a receita de sucesso, segundo o bibliófilo, não precisa sair do básico. Além de fazer com que as universidades acompanhem mais de perto o ritmo de mudança que o mundo vem sofrendo, é preciso preparar mais os alunos antes que eles cheguem aos cursos superiores. "A universidade brasileira poderia ter mudado mais. Mas isso é um assunto para outra ocasião", comenta.

Para os jovens, o recado não poderia fugir do universo literário. "Como forma de prazer intelectual, todo adolescente deveria ler Memórias Póstumas de Brás Cubas, do Machado de Assis, e Grande Sertão Veredas, do Guimarães Rosa." Livro para se conhecer melhor o país em que se vive, segundo Mindlin, basta um: História do Brasil, de Boris Fausto.


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