Cientistas como Everardo Sampaio, da UFPE, alertam que o mecanismo de créditos de carbono também pode ser usado na Caatinga (foto: Eduardo Geraque)

Seqüestro na Caatinga
22 de julho de 2005

Apesar de no Brasil o assunto créditos de carbono aparecer sempre relacionado com a Amazônia ou com a Mata Atlântica, pesquisadores como Everardo Sampaio, da UFPE, alertam que esse mecanismo também pode ser usado em outro bioma

Seqüestro na Caatinga

Apesar de no Brasil o assunto créditos de carbono aparecer sempre relacionado com a Amazônia ou com a Mata Atlântica, pesquisadores como Everardo Sampaio, da UFPE, alertam que esse mecanismo também pode ser usado em outro bioma

22 de julho de 2005

Cientistas como Everardo Sampaio, da UFPE, alertam que o mecanismo de créditos de carbono também pode ser usado na Caatinga (foto: Eduardo Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Fortaleza

Agência FAPESP - Como a fotossíntese é um processo fisiológico existente em todos os vegetais, o seqüestro de carbono atmosférico pelas plantas não ocorre apenas na Amazônia ou na Mata Atlântica. Uma área de Caatinga que esteja em processo de regeneração também precisa de carbono para se desenvolver novamente.

"O potencial que existe para o mercado de carbono na Caatinga é muito grande", disse Everardo Sampaio, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), à Agência FAPESP. O pesquisador proferiu, na quinta-feira (21/7), a conferência Preservação da Caatinga: custos e responsabilidade, durante a 57ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Nas contas de Sampaio, enquanto a Caatinga fixa aproximadamente 35 toneladas de carbono por hectare num prazo de 20 anos, a Amazônia, no mesmo período, tem um rendimento dez vezes maior. Essa hipotética superioridade da floresta para o mercado internacional de carbono, entretanto, é apenas aparente.

"Temos de lembrar também que, por causa do uso que se faz do bioma Caatinga hoje, o solo dessa região é muito pobre em carbono. Em uma área em regeneração, por exemplo, o elemento químico que é preso fora da árvore também pode gerar créditos no mercado internacional", explica o cientista da UFPE.

Na avaliação de Sampaio, outra questão numérica precisa ser levada em conta quando se fala do seqüestro de carbono pelos ecossistemas brasileiros. "Essas taxas de fixação são válidas apenas para as áreas degradadas. A Caatinga tem 60% de sua cobertura vegetal já alterada", lembra o cientista. Apenas para efeito comparativo, a floresta amazônica ainda tem 80% de áreas intactas, apesar dos gigantescos índices de desmatamento dos últimos anos.

Se o seqüestro de carbono, do ponto de vista mundial, pode ser importante para preservar a altamente diversificada Caatinga, ao contrário do que pensa a maioria sobre o ambiente normalmente associado com a seca e com a baixa quantidade de vida, existem outras ações, segundo Sampaio, que precisam ser tomadas em escalas regionais e até locais.

"Quem arca com os custos da preservação normalmente é o pequeno proprietário rural, que é pobre e sem condições. E a população urbana que também se beneficia, de alguma forma, dos serviços ambientais da Caatinga? Ela também precisa ser responsabilizada", afirma Sampaio.

Para o pesquisador, nesse caso, os grandes responsáveis por construir uma ponte entre as sociedades urbana e rural são os membros da comunidade científica. "Temos que produzir os indicadores para os tomadores de opinião, fazer pressão sobre o governo, determinar a seleção das áreas prioritárias e assim por diante", explica o pesquisador, que também conhece com exatidão os grandes protagonistas da devastação da Caatinga: "A agricultura e a pecuária, feita em grande parte pelos pequenos produtores, são os dois maiores problemas".

O pesquisador defende a tese de que os governos locais e regionais desenvolvam ações que cheguem de forma direta aos donos de terra. "Mecanismos como renúncia fiscal ou prêmios simbólicos oferecidos àqueles que preservem a mata podem ter um impacto bastante positivo", acredita.


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