Foto: CDC

Seqüenciamento do Schistosoma mansoni gera novas ferramentas de bioinformática
15 de setembro de 2003

Trabalho de cientistas brasileiros, financiado pela FAPESP e MCT, leva ao desenvolvimento de tecnologia 200 vezes mais rápida na comparação entre as seqüências de genes geradas e as que estão em bancos públicos

Seqüenciamento do Schistosoma mansoni gera novas ferramentas de bioinformática

Trabalho de cientistas brasileiros, financiado pela FAPESP e MCT, leva ao desenvolvimento de tecnologia 200 vezes mais rápida na comparação entre as seqüências de genes geradas e as que estão em bancos públicos

15 de setembro de 2003

Foto: CDC

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - A complexidade do Schistosoma mansoni obrigou os cientistas brasileiros que participaram do seu seqüenciamento a desenvolver novas ferramentas em bioinformática. No lugar dos 3 mil genes que foram identificados no caso da Xylella fastidiosa, por exemplo, o desafio dessa vez era quatro vezes maior.

"O número de genes era enorme, algo em torno dos 14 mil", disse à Agência FAPESP o bioinformata João Setúbal, que participou do projeto que seqüenciou o genoma do verme. Por intermédio de um consórcio internacional, que incluiu os pesquisadores brasileiros, foi desenvolvido um método de classificação dos genes para facilitar o trabalho dos cientistas.

"É importante que o vocabulário utilizado em diferentes partes do mundo seja o mesmo, para que se filtrem eventuais confusões", disse Setúbal. A nova ferramenta gerada pelos bioinformatas faz exatamente isto. A partir de um banco de dados, e com um programa de navegação mais fácil de usar, ficou mais fácil classificar os genes descobertos.

"Desenvolvemos uma ferramenta que provou ser até 200 vezes mais rápida na comparação entre as seqüências geradas e as que estão depositadas nos bancos públicos", disse à Agência FAPESP Sérgio Verjovski-Almeida, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e principal autor do trabalho que será publicado na edição de outubro da revista Nature Genetics.

Com as seqüências prontas, vários caminhos se abrem no campo científico. A FAPESP está solicitando o depósito de um pedido de patente internacional para utilização de genes mais promissores no diagnóstico, vacina ou droga contra a esquistossomose. Além disso, a própria vacina de DNA está sendo testada no Instituto Butantan de São Paulo, por intermédio de um programa piloto. Os testes utilizam alguns dos genes novos recém-identificados.

O projeto do seqüênciamento do Schistosoma mansoni também levou a outras descobertas importantes, além da simples geração das seqüências. Entre os genes identificados, quatro se assemelham a quatro tipos diferentes de venenos de abelhas causadores de respostas alérgicas. Isto explica a resposta imune do tipo alérgico que é induzida pelo parasita, quando ele entra em contato com o hospedeiro. Como a reação alérgica acaba despistando o sistema imune, esta descoberta pode ajudar os cientistas a entender como ocorre o processo, do ponto de vista bioquímico.

Outra toxina secretada pelo parasita, semelhante à encontrada em veneno de serpentes, também foi identificada pelo projeto de pesquisa. Nesse caso, a substância acaba ajudando o S. mansoni a ficar na corrente sangüínea e não ser detectado pelos sistemas de defesa do ser humano. "O parasita é bem complicado. Encontrar uma vacina eficiente é algo para 5 a 10 anos de trabalho", acredita Verjovski-Almeida.


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