Em debate no Fórum Franco-Brasileiro de Inovação, em São Paulo, especialistas franceses apontam que Brasil está no caminho certo para levar cientistas para as empresas (foto: CNRS)

Sentido da inovação
09 de novembro de 2006

Em debate no Fórum Franco-Brasileiro de Inovação, em São Paulo, especialistas franceses apontam que Brasil está no caminho certo para levar cientistas para as empresas

Sentido da inovação

Em debate no Fórum Franco-Brasileiro de Inovação, em São Paulo, especialistas franceses apontam que Brasil está no caminho certo para levar cientistas para as empresas

09 de novembro de 2006

Em debate no Fórum Franco-Brasileiro de Inovação, em São Paulo, especialistas franceses apontam que Brasil está no caminho certo para levar cientistas para as empresas (foto: CNRS)

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP - Estratégias para incentivar a mobilidade de cientistas para a empresa – ponto fundamental para expandir a inovação tecnológica – foram discutidas nesta terça-feira (7/11) no Fórum Franco-Brasileiro de Inovação, em São Paulo.

Segundo a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor privado brasileiro empregava, em 2002, 37% dos pesquisadores do país. A França chegou aos 53%.

Para Claire de Margueyrie, da Diretoria Geral de Pesquisa e Inovação do Ministério da Ciência da França, o Brasil está no caminho certo para aumentar a presença de pesquisadores em empresas. Na França, a mudança da academia para o setor privado é recente.

"Há poucos anos, iniciamos uma mudança de cultura envolvendo todos os atores sociais ligados à pesquisa, mais ou menos como está ocorrendo atualmente no Brasil", disse à Agência FAPESP.

Segundo Claire, a mudança no cenário francês foi fruto de um processo complexo de sensibilização dos empresários em relação à importância de desenvolver inovações. "Houve uma conjunção de fatores que incluiu a criação da Lei de Inovação, em 1999, e o surgimento de uma série de programas de fomento. Mas o processo não tem se limitado à legislação", explicou.

Este ano, o governo francês lançou o Pacto pela Pesquisa, que regulamentou uma série de dispositivos de fomento e criou redes envolvendo governo, empresas e universidades.


Iniciativas eficientes

Um dos principais mecanismos para aumentar a presença da pesquisa no setor privado foi a Convenção Cifre, como explicou Elizabeth Guillaume, da Associação Nacional da Pesquisa Técnica (ANRT), da França. "O objetivo é reforçar a atuação em empresas de quadros formados na academia, estimulando a inovação", disse.

A Cifre associa três parceiros em torno de um projeto de pesquisa: um doutorando, uma empresa e um laboratório. A empresa assina um contrato de trabalho com o estudante, que recebe um mínimo de 20 mil euros mensais para desenvolver, num laboratório, uma determinada solução tecnológica. A ANRT financia metade do valor. O laboratório, que fica na universidade, não gasta com o pesquisador e a empresa fica com os resultados.

"Verificamos que, ao fim do programa, que dura três anos, 40% dos participantes da Cifre foram contratados pelas próprias empresas. Cerca de 38% foram para outras companhias, 12% passaram a trabalhar com pesquisa no setor público e 4% começaram pós-doutorado", disse Elizabeth. Segundo ela, a Cifre cumpre um papel semelhante ao Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe), da FAPESP.

Outra iniciativa que tem surtido efeito na França são os seminários conhecidos como "doctoriales", segundo o pesquisador Patrice Raynaud, do Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS). "Em 2002, um novo decreto estabeleceu que as escolas doutorais têm que oferecer apoio à inserção na empresa. Isso levou à criação dos seminários com objetivo de fazer uma ponte com a empresa e desmistificar o setor privado", explicou.

Os "doctoriales", de cerca de duas semanas, estimulam o doutorando a construir seu próprio programa pessoal e profissional. "A idéia não é dar informação ou ferramentas, mas motivar e aproximar. A preocupação surgiu porque a França forma 10 mil doutores por ano, mas são abertos apenas 2,5 mil postos a cada ano no meio acadêmico", disse.

A iniciativa, segundo Raynaud, tem papel importante para promover uma mudança cultural. "Na França, as dificuldades da relação entre academia e empresa ocorrem devido a problemas culturais, de maneira semelhante ao que se passa no Brasil", disse.


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