Pesquisa mostra que o uso de energéticos por quem ingeriu bebidas alcóolicas não restabelece a plena coordenação motora (foto: Natit)

Sensação subjetiva perigosa
16 de setembro de 2004

Pesquisa realizada na Escola Paulista de Medicina, publicada na revista norte-americana Alcoholism: Clinical & Experimental Research, mostra que o uso de energéticos por quem ingeriu bebidas alcóolicas não restabelece a plena coordenação motora

Sensação subjetiva perigosa

Pesquisa realizada na Escola Paulista de Medicina, publicada na revista norte-americana Alcoholism: Clinical & Experimental Research, mostra que o uso de energéticos por quem ingeriu bebidas alcóolicas não restabelece a plena coordenação motora

16 de setembro de 2004

Pesquisa mostra que o uso de energéticos por quem ingeriu bebidas alcóolicas não restabelece a plena coordenação motora (foto: Natit)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - A cena é bastante comum. Para manter o sono longe – e sensação de euforia e de vigor físico por mais tempo –, muitos costumam juntar ao álcool ingerido certas doses das chamadas bebidas energéticas. Pelo menos do ponto de vista psicológico, esse paliativo parece funcionar. Agora, quanto aos processos fisiológicos, o resultado é definitivamente outro.

"Conseguimos mostrar com a nossa pesquisa que o uso de energéticos, apesar de realmente deixar as pessoas mais despertas, não faz com que elas, após terem ingerido álcool, tenham suas coordenações motoras restabelecidas", afirma Maria Lucia Formigoni, professora associada do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O estudo da pesquisadora foi publicado na edição de setembro da revista norte-americana Alcoholism: Clinical & Experimental Research. O primeiro autor da pesquisa é Sionaldo Eduardo Ferreira, aluno de doutorado da cientista da Unifesp.

Para se chegar a esses resultados, as pesquisadoras analisaram 14 indivíduos do sexo masculino em laboratório. Todos tomaram uma determinada dose de bebida alcoólica – equivalente a 100 ml de uísque para um homem de 70 quilos – e, depois, energéticos.

"Nessas condições, fizemos algumas experiências. Apesar de todos afirmarem que estavam bem, quando eles tiveram que fazer uma tarefa subjetiva, como colocar pinos em uma tabuleta, percebeu-se que a coordenação motora continuava alterada", disse Maria Lucia à Agência FAPESP.

Apesar de os testes indicarem que a bebida não reduz o efeito do álcool em termos de coordenação motora, sua aceitação entre os jovens parece ser indiscutível. Entrevistas feitas pelos pesquisadores da Unifesp com 136 pessoas mostrou isso de forma bem clara. Entre os entrevistados, 37% disseram que a mistura de álcool e bebidas energéticas os deixavam mais felizes. Outros 30% disseram que ficam mais eufóricos, 26% mais extrovertidos e outros 24% relataram maior vigor físico.

"Essa sensação subjetiva realmente existe", admite Maria Lucia. O problema disso, segundo a professora, é que as pessoas, por causa desse aparente bem estar, podem se julgar aptas a, por exemplo, saírem dirigindo um carro. "Tem um outro trabalho nosso, que será publicado em breve, que mostrou em animais de laboratório que os energéticos, em altas doses, inibem o sono, mas não interferem na coordenação motora, que está prejudicada por causa da ingestão de álcool. Esse resultado reforça a nossa tese", explica.


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