Vista aérea de manifestações na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (foto: Juca Varella/Agência Brasil)

Ciências Humanas
Seis projetos brasileiros são aprovados em chamada para estudos sobre democracia, governança e confiança
08 de agosto de 2024

Edital lançado no âmbito da Plataforma Transatlântica reúne 11 agências financiadoras de pesquisa de nove países, incluindo a FAPESP. Objetivo é fomentar a colaboração transnacional em humanidades e ciências sociais na Europa, Américas e África

Ciências Humanas
Seis projetos brasileiros são aprovados em chamada para estudos sobre democracia, governança e confiança

Edital lançado no âmbito da Plataforma Transatlântica reúne 11 agências financiadoras de pesquisa de nove países, incluindo a FAPESP. Objetivo é fomentar a colaboração transnacional em humanidades e ciências sociais na Europa, Américas e África

08 de agosto de 2024

Vista aérea de manifestações na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (foto: Juca Varella/Agência Brasil)

 

André Julião | Agência FAPESP – Por meio da análise do engajamento nas redes sociais e de discussões em grupo, pesquisadores de três países buscarão entender a dinâmica da polarização, da confiança e dos comportamentos entre a juventude urbana de São Paulo, Nova Délhi (Índia) e Joanesburgo (África do Sul), bem como entre jovens desses países que vivem em Londres.

“Análises de grandes modelos de linguagem olhando as redes sociais e o uso de participação cidadã vão nos ajudar a entender como e em que extensão o engajamento nas mídias sociais afeta a confiança difusa na democracia e como a chamada polarização afetiva impacta o comportamento dos jovens em sociedade”, explica José Veríssimo Romão, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

A estratégia de participação cidadã usada será a dos minipúblicos, que reúne os jovens, de maneira aleatória, para deliberar sobre o fenômeno da polarização e oferecer alternativas para a sua mitigação.

O projeto, que tem como pesquisadora principal Marjoke Oosterom, do Instituto de Estudos do Desenvolvimento, no Reino Unido, é uma das propostas selecionadas na chamada “Democracia, Governança e Confiança”, lançada em 2023 no âmbito da Plataforma Transatlântica (T-AP, na sigla em inglês), uma colaboração entre os principais órgãos financiadores de ciências humanas e sociais na Europa, Américas e África, que visa incentivar a colaboração de pesquisa transnacional nessas áreas.

No total, 19 projetos serão apoiados pelo edital. Cada proposta submetida teve pesquisadores de no mínimo três países entre os nove participantes, dos dois lados do Atlântico.

Uma das propostas, que tem como pesquisadora principal no Brasil Gabriela de Brelàz, professora da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Eppen-Unifesp) e pesquisadora do Cebrap, conta com 25 pesquisadores de sete países.

O objetivo será responder, com base em um estudo comparativo envolvendo sete grandes cidades desses países, como inovações participativas urbanas estão respondendo às crises democráticas e aos desafios de confiança e governança. Segundo Brelàz, as cidades têm sido uma fonte de inovações participativas, novas práticas e mecanismos pelos quais cidadãos remodelam as instituições democráticas.

“As cidades são locais de conflitos políticos e de grandes desigualdades”, conta a pesquisadora. Segundo ela, as inovações incluem tanto o uso de espaços públicos físicos, como praças e outros locais de engajamento cívico, como de recursos digitais, no caso das redes sociais, que podem construir confiança e fortalecer a democracia ou enfraquecê-la. Incluem também iniciativas que buscam reformas institucionais, como governos abertos e o desenho participativo dessas instituições.

Confiança nos experts

As dificuldades institucionais na governança da resposta a doenças emergentes, como COVID-19 e zika, são o tema do projeto que tem o brasileiro André Luiz Sica de Campos, professor da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA-Unicamp), entre os pesquisadores principais.

“Nos últimos anos, tem ocorrido uma redução de confiança nos chamados experts e na ciência como um todo. Como podemos democratizar o conhecimento científico sem erodir a legitimidade dos experts é uma questão a ser abordada. Exploraremos como a ciência participativa pode aprofundar ou mitigar a crise de confiança na ciência”, explica Campos.

O trabalho vai coletar dados nos Estados Unidos, França e Brasil e comparar como atores dos três países lidaram e estão lidando com as consequências de longo prazo da pandemia. Nesse sentido, o Brasil tem a experiência do vírus zika, cujos impactos estão sendo percebidos nos nascidos com microcefalia, por conta da infecção, e que já são crianças.

“Contornar o problema da falta de confiança nos experts passa por democratizar o processo de construção do conhecimento científico. Quando se tem pacientes apenas como objeto de estudo, eles estão sendo excluídos desse processo. É importante inserir as famílias e os pacientes não só na construção do conhecimento como na formulação das políticas que os afetam”, encerra o pesquisador.

A lista completa de projetos selecionados no edital está disponível em: fapesp.br/16958/.
 

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