Santuários ineficientes
14 de fevereiro de 2005

Estrutura das grandes áreas de proteção às baleias não impede a pesca predatória, segundo estudo publicado na Science. Em entrevista à Agência FAPESP, os cientistas explicam que novas bases ecológicas precisam ser implementadas no contexto dessas zonas

Santuários ineficientes

Estrutura das grandes áreas de proteção às baleias não impede a pesca predatória, segundo estudo publicado na Science. Em entrevista à Agência FAPESP, os cientistas explicam que novas bases ecológicas precisam ser implementadas no contexto dessas zonas

14 de fevereiro de 2005

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O mundo tem apenas duas grandes áreas de proteção às baleias, uma localizada no Oceano Índico e outra ao redor da Antártica. Diversas outras foram idealizadas, mas ainda não saíram do papel. Criados em 1946 pela Comissão Internacional de Pesca da Baleia (IWC, na sigla em inglês), os dois santuários, que cobrem quase 50 milhões de quilômetros quadrados cada um, acabam de passar por uma avaliação científica. Os resultados são negativos.

Um estudo realizado por Leah Gerber, da Universidade do Estado do Arizona, e David Hyrenbach, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, em conjunto com Mark Zacharias, da Universidade de Vitória, no Canadá, levantou quatro problemas graves nos santuários. De acordo com os cientistas, as zonas de proteção têm se mostrado totalmente ineficientes, especialmente em relação às espécies migratórias.

O primeiro ponto é o das fronteiras arbitrárias dessas áreas. O segundo diz respeito ao foco estreito da política de proteção, que não se preocupa com a poluição das águas, por exemplo. Além disso, segundo a grande revisão feita a pedido da própria IWC, os desenhos dos santuários são muito estáticos e foram feitos sem considerar importantes critérios ecológicos.

"O que sugerimos como conclusão da pesquisa é que o funcionamento de tais santuários precisa estar assentado em bases ecológicas sólidas. Isso deve ser combinado com um plano de manejo também criado a partir de critérios científicos", disse Leah à Agência FAPESP. Para a pesquisadora, que afirma concordar com a moratória que está em vigor – apesar de ser falha em alguns casos –, a própria permissão científica para a pesca da baleia deveria ser suspensa.

Um dos problemas levantados pelo estudo é que alguns critérios acabam sendo mais políticos do que científicos. "Alguns países estão pescando dentro dos santuários sob a chancela científica. Em compensação, nações que não são pescadoras de baleias por tradição procuram estabelecer novos santuários como forma de criar uma espécie de reserva de mercado para o futuro", explica a cientista norte-americana.

O término da permissão científica da pesca das baleias deverá reinstalar o valor das pesquisas nos santuários criados pela IWC. Isso também facilitará o monitoramento e a comparação entre os estoques de cetáceos explorados ou não, avalia o estudo publicado na edição de 28 de janeiro da revista Science

Para chegar à conclusão de que as populações que migram bastante de dentro para fora das áreas de proteção e vice-versa estão bastante ameaçadas, os pesquisadores construíram um modelo matemático. A conclusão é que a comparação entre a aplicação do plano de manejo proposto e os santuários pode dar uma diferença de até 20 vezes no tamanho da população.

O artigo Do the largest protected areas conserve whales or whalers?, de L. R. Gerber, K. D. Hyrenbach e M. Zacharias, pode ser lido no site da Science, em www.sciencemag.org


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