Salmão polêmico
29 de março de 2004

Cientistas defendem a manutenção do salmão prateado da costa do Oregon na lista dos animais ameaçados de extinção. Por causa da proximidade genética com espécies criadas em cativeiro, uma corte norte-americana havia retirado a espécie da lista

Salmão polêmico

Cientistas defendem a manutenção do salmão prateado da costa do Oregon na lista dos animais ameaçados de extinção. Por causa da proximidade genética com espécies criadas em cativeiro, uma corte norte-americana havia retirado a espécie da lista

29 de março de 2004

 

Agência FAPESP - Nos próximos dias, a comunidade científica dos Estados Unidos vai ter uma clara noção de quem é mais forte, a política ou o conhecimento científico. Deve ser divulgado até quarta-feira (31), pelo Serviço Nacional de Pesca Marinha (NMFS, na sigla em inglês), um documento contendo uma revisão científica de oito tipos de salmão ameaçados. Mas a polêmica é tão grande, que a NMFS avisou que pode demorar até junho para finalizar o estudo.

O salmão prateado que vive na costa do Estado de Oregon está na lista das espécies ameaçadas de extinção desde os anos 90. Por causa de uma ação movida por criadores, um juiz da corte distrital que cobre a área de Oregon retirou a espécie da lista em 2001. O juiz considerou que a espécie que vive em cativeiro e a encontrada na natureza eram as mesmas. Assim, não haveria porque proclamar o perigo de extinção, uma vez que a população, se incluídos os exemplares em cativeiro, estaria bem sadia.

A NMFS não acatou a decisão judicial e o salmão prateado continua na lista de espécies ameaçadas. O problema é que existem indícios de que, na próxima revisão que será feita pela entidade, ele não vai mais aparecer na lista. Em artigo publicado na edição de 26 de março da revista Science um grupo de seis influentes cientistas dos Estados Unidos e Canadá, liderados por Ransom Myers, da Universidade Dalhousie, afirmou não existirem dúvidas.

"O salmão criado em cativeiro não pode ser considerado igual ao que está na natureza. Apesar de geneticamente a espécie em cativeiro ser a mesma que a encontrada nos rios e lagos, existe uma barreira ecológica criada entre as duas populações", disse. No caso de uma reintrodução no ambiente natural dos peixes criados em cativeiro, os pesquisadores dizem que essa operação não teria sucesso a ponto de garantir a manutenção da espécie.

Os peixes criados em cativeiro, segundo o artigo, foram não apenas engordados, mas também fertilizados artificialmente. A disponibilidade de alimento que existe nos tanques de criação também é totalmente diferente do mundo real. "Todas essas alterações estão criando adaptações que podem, inclusive, estar sendo registradas na genética desses organismos. Mas isso só será perceptível em no mínimo duas gerações", afirmaram os pesquisadores.

Caso o salmão selvagem e o domesticado passem a viver juntos, no ambiente natural, a viabilidade da prole desses organismos também poderá ser altamente prejudicada, na visão dos biólogos. "O problema não é apenas com o salmão. Essa questão poderá abrir um grave precedente jurídico, que vai prejudicar a conservação de outras espécies que se encontram na mesma situação", disseram.


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