José Marcos Ribeiro, do NIH, mostrou em Caxambu a complexidade molecular que existe nos insetos (foto: E.Geraque)

Salivas poderosas
18 de maio de 2004

José Marcos Ribeiro, que há oito anos está no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, marcou presença em Caxambu para mostrar a complexidade molecular que existe nos insetos, como nas glândulas salivares, cujas substâncias transmitem doenças ao ser humano

Salivas poderosas

José Marcos Ribeiro, que há oito anos está no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, marcou presença em Caxambu para mostrar a complexidade molecular que existe nos insetos, como nas glândulas salivares, cujas substâncias transmitem doenças ao ser humano

18 de maio de 2004

José Marcos Ribeiro, do NIH, mostrou em Caxambu a complexidade molecular que existe nos insetos (foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - As transformações provocadas pela era genômica estão interferindo até na forma de os cientistas escreverem seus artigos. "Existe uma ordem reversa que está presente", disse José Marcos Ribeiro, pesquisador carioca que há 20 anos vive nos Estados Unidos, durante a reunião anual da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular, em Caxambu (MG).

Talvez porque Ribeiro trabalhe no Laboratório de Malária do Instituto Nacional de Saúde (NIH) norte-americano, onde lida com dezenas de vetores – que podem transmitir doenças aos seres humanos – e suas complexidades moleculares, essa reversão esteja absolutamente sedimentada no seu dia-a-dia.

"Em uma introdução clássica, costumo gastar três parágrafos para colocar o problema, apresentar o conflito e dizer quais os caminhos a serem seguidos", explica o médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente, em alguns trabalhos que chama de "obras de garimpagem", ele não costuma usar mais do que um único parágrafo na introdução. "No caso dos insetos, por exemplo, é possível fazer o caminho inverso do que se fazia até há pouco tempo. Hoje, temos bancos de seqüências onde podem ser garimpados, por exemplo, vários tipos de peptídeos."

Essas substâncias descobertas nos bancos gerados pelos seqüenciamentos dos diferentes genomas, que deveriam estar normalmente na hipótese do trabalho, costumam aparecer, em alguns casos, no final. "Isso acaba gerando uma cadeia. Esses novos peptídeos, ou também as novas proteínas, acabam levando a novas perguntas, como quais são as funções delas ou para que elas servem."

Em seu laboratório, Ribeiro e equipe analisam as glândulas salivares de insetos e as substâncias produzidas por elas que podem transmitir doenças ao ser humano, como a malária e a leishmaniose. Os pesquisadores já descobriram assinaturas moleculares importantes nas salivas analisadas. No caso dos insetos, a maioria das substâncias também apresenta propriedades vasodilatadoras, anticoagulantes e antiinflamatórias.

O objetivo do grupo é, a partir do conhecimento de como as glândulas funcionam e de como a saliva dos insetos opera sob a pele humana, desenvolver medicamentos e até vacinas para impedir que ocorra esse processo, fruto de uma longa evolução biológica – os insetos estão sobre a face da Terra há muito mais tempo que os vertebrados.

"Em termos de vacina, um dos trabalhos que está avançado é o da leishmaniose. Nesse caso, já estão sendo feitos testes clínicos em cachorros", disse Ribeiro à Agência FAPESP.


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