Para Vicente Barros, o ritmo das chuvas na Argentina já mudou devido às alterações climáticas globais
(foto: E. Geraque)

Sal no rio da Prata
11 de novembro de 2005

Cientista argentino discute o presente e o futuro das mudanças climáticas regionais sobre as bacias do Paraná e do Prata. Em 50 anos, a cunha salina do Atlântico poderá crescer perigosamente em direção ao continente

Sal no rio da Prata

Cientista argentino discute o presente e o futuro das mudanças climáticas regionais sobre as bacias do Paraná e do Prata. Em 50 anos, a cunha salina do Atlântico poderá crescer perigosamente em direção ao continente

11 de novembro de 2005

Para Vicente Barros, o ritmo das chuvas na Argentina já mudou devido às alterações climáticas globais
(foto: E. Geraque)

 

Agência FAPESP - Em abril de 2003, a província de Santa Fé, no norte da Argentina, sofreu sérias inundações causadas pelo transbordamento do rio Salado. Para Vicente Barros, da Universidade da Argentina, o episódio não pode ser considerado como algo isolado. Em conferência sobre mudanças globais organizada pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo, na quinta-feira (10), o pesquisador foi enfático.

"Antes dos anos 1960, a ocorrência de chuvas com mais de 100 milímetros em um curto espaço de tempo não passava de dez por ano. Recentemente, essas chuvas intensas foram registradas até 30 vezes por ano", disse o cientista argentino. Para ele, as mudanças climáticas precisam cada vez mais ser enfocadas do ponto de vista regional.

A alteração no ciclo de chuvas, explica Barros, deverá ter uma série de implicações tanto do ponto de vista social como do econômico. "Alterações nas vazões dos rios dessas regiões influem diretamente na disponibilidade de água para a geração de energia", afirma.

Mesmo chovendo mais, regiões próximas à província de Santa Fé, como a Grande Buenos Aires, poderão sofrer, num prazo de 50 anos, de um problema totalmente diferente: a falta de água doce. "Nossos modelos, que prevêem um aumento de 2ºC a 5ºC, mostram que o rio da Prata poderá também se tornar menos caudaloso", explica o pesquisador argentino. A chuva que cai mais ao norte, por causa da alta evaporação registrada na região, é pouco incorporada ao sistema fluvial.

Dessa forma, com menos água doce no rio da Prata, os portenhos poderão ter sérios problemas. "Se isso for associado à subida do nível do mar, a água salgada poderá chegar até Buenos Aires, que deverá ter então mais de 20 milhões de habitantes. Teremos, então, ainda mais dificuldades para obter água doce", aponta.

Mesmo diante desse quadro caótico, Barros e os diversos pesquisadores presentes na conferência no IEA saíram com duas conclusões importantes do evento: ao mesmo tempo em que os modelos apresentam incertezas muito grandes, apenas a cooperação e o intercâmbio científico poderão fazer com as nações se antecipem aos eventos extremos e, dessa forma, consigam reagir a eles.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.