Surtos alimentares provocados por vírus têm sido tratados como de menor importância, quando comparados com os de bactérias, mas pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro alertam para a importância do problema
Surtos alimentares provocados por vírus têm sido tratados como de menor importância, quando comparados com os de bactérias, mas pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro alertam para a importância do problema
Para chegar ao veredito, o grupo de cientistas, liderado por Miliane de Souza, também aplicou um questionário entre os funcionários e avaliou as práticas de higiene dos responsáveis pela preparação dos alimentos. Descobriram que, no dia do surto, o responsável pela preparação dos pães estava com mal-estar, vômito e diarréia. Dias depois, o funcionário recebeu o diagnóstico de infecção por rotavírus. O mesmo ocorreu com os outros 51.
Segundo o artigo Indícios de rotavírus na etiologia de um surto de infecção de origem alimentar, publicado na revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, é sabido que pessoas infectadas por vírus que apresentam atração pelo trato gastrointestinal podem contaminar alimentos prontos para o consumo ao manipulá-los em condições insatisfatórias de higiene. Provavelmente, um simples lavar de mãos teria impedido o surto.
A literatura científica mostra que os vírus podem realmente ser causadores de doenças de origem alimentar. São conhecidos casos relacionados com o vírus da hepatite A, o vírus de Norwalk e o rotavírus. O principal sintoma dessas infecções é a gastroenterite, acompanhada de vômito e diarréia, dores abdominais e até uma febre branda. O período de incubação é de 1 a 3 dias, podendo os sintomas durar entre 4 e 8 dias. Os alimentos envolvidos no surto, normalmente, são água, gelo e os crus, além dos prontos para o consumo.
No caso específico do rotavírus, as estatísticas internacionais mostram que ele responde por 45% das doenças diarréicas graves em crianças. Nos países subdesenvolvidos, as mortes por essa infecção pode chegar aos 600 mil casos ao ano. O rotavírus também tem se mostrado viável por mais de dez dias em superfícies inanimadas, como metais, vidros e plásticos. Nos alimentos, temperaturas elevadas podem inativar esses microrganismos.
Segundo os pesquisadores do Rio de Janeiro, esses resultados são importantes como alerta. "As infecções por agentes virais são subestimadas em sua importância clínica e epidemiológica no que concerne a doenças alimentares", escreveram na conclusão do estudo.
Para ler o artigo, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.
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