Rotas tortuosas
28 de novembro de 2005

Livro da UFMG revela os caminhos do ouro no Brasil entre os séculos 17 e 19. Em muitos casos, as dificuldades de construção e da manutenção de alguns trechos apresenta semelhanças com o que ocorre nos dias de hoje

Rotas tortuosas

Livro da UFMG revela os caminhos do ouro no Brasil entre os séculos 17 e 19. Em muitos casos, as dificuldades de construção e da manutenção de alguns trechos apresenta semelhanças com o que ocorre nos dias de hoje

28 de novembro de 2005

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O Centro de Referências Cartográficas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) continua firme no propósito de resgatar a memória do Brasil. E, como a história agora está focada no ouro e nos caminhos que fizeram esse metal se espalhar pelo Brasil e depois pelo mundo, não é possível fugir da geografia mineira, dos percursos que ligavam Minas à capital federal, Rio de Janeiro e, no caso dos tempos coloniais, à metrópole Portugal.

"A obra não é apenas sobre a Estrada Real, apesar de ela aparecer como um caminho importante no livro. Resgatamos vários caminhos, e muitos existem até hoje", disse o geólogo Antônio Gilberto da Costa, professor do Instituto de Geociências da UFMG e organizador do livro Os caminhos do ouro e a Estrada Real, lançado na sexta-feira (25/11) em Belo Horizonte. A obra, fartamente ilustrada, é uma coedição da UFMG e da portuguesa Kapa Editorial. Por conta dessa dupla nacionalidade haverá um lançamento do livro em Lisboa, no dia 16 de dezembro.

Apesar de o estudo evidenciar o período compreendido do fim do século 17 até o fim do século 19, em muitos momentos o leitor é trazido para os dias atuais. "Resolvemos usar imagens de satélites, além de mapas de relevo, para mostrar, por exemplo, a dificuldade que havia para se trafegar por uma determinada serra", explica Costa, que assina um dos quatro capítulos do livro.

No caso da história da estrada União e Indústria, que fazia parte da primeira rodovia brasileira feita com uma espécie de pilão usado para aplainar o chão, as semelhanças com o presente englobam até os aspectos políticos e econômicos. Esse caminho, que ligava Juiz de Fora a Petrópolis, foi concedido ao comendador e empresário Mariano Procópio Ferreira Lage por 50 anos.

"Por causa das inúmeras dificuldades, a estrada foi até construída, mas o empresário acabou falindo", explica Costa. O jogo de empurra-empurra, de como fazer a manutenção da via, ou de quem iria construir o quê também já existia naqueles tempos. "Guardadas as devidas proporções, os processos tinham muita semelhanças com o que vemos hoje", concorda o pesquisador da UFMG.

Outro revelação. No capítulo Os caminhos para a região das minas, também escrito pelo organizador do livro, o leitor poderá conhecer ou saber mais do Guia dos caminhantes, editado em 1817. "Costumo brincar que esse talvez seja um dos primeiros guias de viagem feitos no Brasil", diz Costa.

A antiga obra, que guia o viajante por meio de passos a serem dados ao longo dos caminhos, faz referências a diversas províncias da época. Alguns mapas, incluindo dos atuais estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, estão reproduzidos no livro lançado agora.

Os outros quatro capítulos, que também comparam em muitos momentos o passado com o presente, abordam os aspectos botânicos dos caminhos, os transportes ao longo dessas rudimentares rodovias e, claro, a busca pelo ouro. O livro é encerrado pelo pesquisador português Miguel Telles Antunes, com o ensaio Os caminhos do ouro segundo algumas perspectivas referentes a Portugal.

Mais informações: www.editoraufmg.com.br


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