Antropóloga brasileira identifica a presença de sinais de luta entre índios que habitaram o deserto chileno entre os anos 700 e 900 (foto: Andrea Lessa)

Rituais de sangue no Atacama
22 de abril de 2004

Com base na análise de 226 crânios, antropóloga da Fundação Oswaldo Cruz identifica a presença de sinais de luta entre índios que habitaram o deserto chileno entre os anos 700 e 900. O golpe no nariz é uma prática que dura até hoje

Rituais de sangue no Atacama

Com base na análise de 226 crânios, antropóloga da Fundação Oswaldo Cruz identifica a presença de sinais de luta entre índios que habitaram o deserto chileno entre os anos 700 e 900. O golpe no nariz é uma prática que dura até hoje

22 de abril de 2004

Antropóloga brasileira identifica a presença de sinais de luta entre índios que habitaram o deserto chileno entre os anos 700 e 900 (foto: Andrea Lessa)

 

Agência FAPESP - A atmosfera do Deserto do Atacama, região que hoje faz parte do Norte do Chile, não se resume ao seu clima extremamente seco, às suas paisagens lunares ou ao céu quase sempre azul que se vê no local. Os rituais preservados até hoje pelo povo atacamenho, apesar da chegada da cultura européia, têm presença marcante também do ponto de vista científico.

Com base nessa premissa, Andrea Lessa, arqueóloga e especialista em antropologia biológica da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, resolveu analisar uma das áreas mais secas do mundo sob o ponto de vista antropológico.

Um conjunto de 226 crânios de homens e mulheres, escavados nos anos 60, trouxe várias novas informações. "A observação dos crânios masculinos mostrou traumas agudos, principalmente na região nasal", disse Andrea à Agência FAPESP. "A indicação é clara de que as fraturas estão relacionadas com lutas rituais."

Estudos etnográficos e iconográficos atestam a observação da pesquisadora. As lutas rituais eram comuns, entre os anos 700 e 900, em toda a região andina. "Atualmente, esses ritos ainda são praticados, em áreas da Bolívia e do Peru, sob o nome de ‘tinku’", afirma Andrea.

Um dos objetivos da luta feita pelos índios do passado – no período a etnia atacamenha estava sob influência do Estado Tiwanaku, localizado nas margens do lago Titicaca, na Bolívia – era fazer o oponente sangrar. O sangue era uma espécie de oferta aos deuses para que a procriação dos animais continuasse e a colheita seguinte fosse farta.

Os crânios analisados pela cientista brasileira foram retirados de um cemitério da fase Coyo, ao redor do oásis São Pedro do Atacama, hoje também o principal centro turístico do deserto do Norte do Chile.

As análises dos crânios, segundo Andrea, também mostraram padrões de violência contra as mulheres. "Também observei isso em outras amostras do oásis, pertencentes a períodos culturais diferentes", disse.


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