Riscos conhecidos há quatro anos
08 de novembro de 2004

Pesquisa publicada na The Lancet conclui que desde 2000 havia evidências suficientes para justificar a retirada do Vioxx do mercado. Revista médica critica duramente a FDA e a indústria farmacêutica pelo episódio

Riscos conhecidos há quatro anos

Pesquisa publicada na The Lancet conclui que desde 2000 havia evidências suficientes para justificar a retirada do Vioxx do mercado. Revista médica critica duramente a FDA e a indústria farmacêutica pelo episódio

08 de novembro de 2004

 

Agência FAPESP - Uma pesquisa publicada no site da revista médica The Lancet afirma que há quatro anos havia evidências suficientes para justificar a retirada do medicamento Vioxx do mercado. O remédio teve sua venda suspendida em todo o mundo em 30 de setembro, por decisão do fabricante Merck Sharp Dohme.

O motivo da suspensão foram os efeitos cardiovasculares negativos identificados pelo estudo Adenomatous Polyp Prevention on Vioxx (Approve), o qual verificou que pacientes tratados com o medicamento corriam riscos de ter derrames e problemas cardíacos.

Os riscos haviam sido identificados muito antes, em 2000, pelo estudo Vioxx Gastrointestinal Outcomes Research (Vigor), mas acabaram sendo atribuídos aos efeitos protetivos de outra droga antiinflamatória, o naproxeno. Para ver se havia outras indicações dos perigos do Vioxx antes de 2004, cientistas da Universidade de Berna, na Suíça, analisaram os resultados de todos os estudos já feitos sobre o medicamento.

A pesquisa foi feita no banco de dados da Food and Drug Administration (FDA) norte-americana. Os cientistas encontraram 29 estudos, os quais mostravam que, de um total de 20 mil pacientes, 52 pessoas sofreram ataques do coração. O número corresponde a mais do que o dobro do risco em pacientes que receberam placebo ou outros antiinflamatórios.

"Nós concluímos que uma suspensão voluntária poderia e deveria ter sido feita há vários anos, pois os dados estavam disponíveis. Mas, em vez disso, a Merck continuou a defender a segurança do rofecoxibe (princípio do Vioxx)", afirmou um dos autores do novo estudo, Matthias Egger.

A ênfase não se restringe ao artigo. A própria The Lancet critica duramente tanto o fabricante quanto a FDA pelo caso. "O licenciamento do Vioxx e a continuidade de seu uso diante da evidência clara de perigo representam catástrofes para a saúde pública", disse o editor da publicação, o médico Richard Horton, em texto que acompanha o artigo dos pesquisadores suíços.

"O mais importante resultado desse episódio é a profunda erosão da confiança que as instituições de saúde pública irão sofrer. A conseqüência a longo prazo é uma onda de incredulidade pública a respeito de quais interesses os fabricantes e os reguladores realmente representam", afirmou Horton.

O editor também não poupa de crítica a própria comunidade científica. "Por que os investigadores clínicos que estudaram o Vioxx não fizeram mais para difundir a preocupação sobre os riscos? Essa é uma questão que também precisa ser respondida", disse.

As vendas do Vioxx geraram US$ 2,5 bilhões para a Merck em 2003. O medicamento começou a ser vendido nos Estados Unidos em 1999 e era comercializado em 80 países.

Os artigos podem ser lidos no site da The Lancet, em www.thelancet.com


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