No litoral sul de São Paulo os bosques de mangue podem chegar aos 10 metros de altura
(foto:Bioma/IO)

Riqueza em detalhes
24 de janeiro de 2006

Estudo ajuda a desvendar a formação de manguezais nos domínios do sistema costeiro Cananéia-Iguape, no sul de São Paulo. Os resultados são importantes para ajudar na preservação da área, ainda bastante conservada

Riqueza em detalhes

Estudo ajuda a desvendar a formação de manguezais nos domínios do sistema costeiro Cananéia-Iguape, no sul de São Paulo. Os resultados são importantes para ajudar na preservação da área, ainda bastante conservada

24 de janeiro de 2006

No litoral sul de São Paulo os bosques de mangue podem chegar aos 10 metros de altura
(foto:Bioma/IO)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - A exuberância de um manguezal guarda muitos segredos. Nesse ecossistema típico das zonas entremarés, que no Brasil começa a ocorrer em Santa Catarina e chega até a região Norte, não existe apenas lama e odor desagradável. São nesses locais que várias espécies de peixes vivem, que os catadores de caranguejo encontram sua sobrevivência e que uma floresta típica costuma crescer.

Entender o comportamento ecológico dos manguezais do Sistema Costeiro Cananéia-Iguape, no litoral sul do Estado de São Paulo, é um dos objetivos perseguidos pelo Centro de Ensino e Informação sobre Zonas Úmidas Costeiras Tropicais com Ênfase no Ecossistema Manguezal, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.

O Bioma, como é conhecido o centro dirigido pela professora Yara Schaeffer Novelli, acaba de dar mais uma contribuição para a manutenção da ecologia dos manguezais paulistas, ambientes ainda em bom estado de conservação.

Trata-se do estudo da bióloga Marília Cunha Lignon, que lança novos olhares sobre os manguezais. "Realizamos diversas aproximações a partir de diferentes escalas espaço-temporais", disse a pesquisadora à Agência FAPESP. O estudo foi feito como tese de doutorado.

Por meio de imagens de satélites, feitas nas décadas de 1980 e 1990, e por monitoramento de bosques de mangue in loco, agora se pode compreender melhor como os manguezais se instalam na região. E algumas informações destoam das demais publicadas na literatura científica sobre o tema.

Segundo Marília, a planta Laguncularia racemosa (mangue branco) dominou áreas com mais predominância de lama, ao contrário do que era esperado. "Na baía de Trapandé (um das áreas geográficas do sistema) a Rhizophora mangle (mangue vermelho) colonizou áreas constituídas por areia", explica.

Esses dois tipos de colonização, mostrou o estudo, são determinados pelo tamanho dos propágulos (semente que é levada pela água do mar) de cada planta e pela energia presente no local, principalmente o fluxo dos rios e das marés. "A partir da visão obtida pelos satélites e dos experimentos em campo conseguimos propor um padrão de sucessão dos bosques de mangue", diz a bióloga.

A espécie pioneira, em ambas as situações, é a Spartina altenoflora, um tipo de gramínea que consegue colonizar com eficiência os bancos de sedimento emersos. À medida que os bosques se desenvolvem, esse tipo de vegetação inicial é substituído.

As espécies que chegam em seguida, seja o mangue branco, o vermelho ou a Avicennia schaueriana (mangue preto), serão responsáveis pela exuberante paisagem dos manguezais. Bosques bem desenvolvidos podem chegar a 10 metros de altura.

"Esses dados sobre novas colonizações e desenvolvimento dos bosques de mangue, ao longo de diversas escalas espaço-temporais, darão importantes subsídios à gestão ambiental daquele trecho do litoral", afirma Marília. Segundo ela, os manguezais do sul de São Paulo são os mais conservados do Estado.

"É fundamental que eles permaneçam assim. É preciso também planejar bem as atividades de pesca e de turismo na região, para que os valores biológicos e socioculturais da região sejam preservados", defende a pesquisadora do Bioma.


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