Pesquisadora da Unicamp destaca a necessidade de metodologias validadas internacionalmente e recursos humanos capacitados para aprimorar pesquisas sobre surtos causados por protozoários patogênicos (Foto: Mônica Pileggi)

Revalorização da parasitologia
22 de julho de 2011

Regina Franco, da Unicamp, destaca a necessidade de metodologias validadas internacionalmente e recursos humanos capacitados para aprimorar pesquisas sobre surtos causados por protozoários patogênicos

Revalorização da parasitologia

Regina Franco, da Unicamp, destaca a necessidade de metodologias validadas internacionalmente e recursos humanos capacitados para aprimorar pesquisas sobre surtos causados por protozoários patogênicos

22 de julho de 2011

Pesquisadora da Unicamp destaca a necessidade de metodologias validadas internacionalmente e recursos humanos capacitados para aprimorar pesquisas sobre surtos causados por protozoários patogênicos (Foto: Mônica Pileggi)

 

Por Mônica Pileggi

Agência FAPESP – Dos 5.565 municípios do país, em apenas 25% há coleta e tratamento total do esgoto, elevando os riscos de contaminação por patógenos. Mas a falta de agilidade nas ações da vigilância sanitária, a ausência de metodologias validadas internacionalmente para controlar a toxoplasmose na água e a falta de pesquisadores capacitados são fatores que podem comprometer os resultados das pesquisas sobre surtos causados por protozoários patogênicos.

Essa foi a análise feita pela professora Regina Maura Bueno Franco, do Laboratório de Protozoologia do Departamento de Parasitologia (Instituto de Biologia) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em conferência apresentada durante a 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Goiânia (GO), na qual abordou o monitoramento de surtos de protozoários patogênicos.

“O maior problema no Brasil é a poluição dos mananciais – rios, lagos, mares e oceanos. Temos diversas cidades com ETAs [estações de tratamento de água] funcionando de forma otimizada. A remoção de turbidez [matéria em suspensão presente na água] no efluente final da ETA mostra também uma eficiência de remoção de patógenos. Mas, por outro lado, há uma grande quantidade de esgoto doméstico sendo despejada quase que in natura nos mananciais”, disse Franco à Agência FAPESP.

De acordo com a professora, o simples tratamento do esgoto não é suficiente para evitar a contaminação por protozoonoses como toxoplasmose, criptosporidiose e giardiose. O maior desafio está na melhoria e disponibilidade de tratamento de esgoto do país.

Metodologias validadas

“Até parece um paradoxo, mas na história da engenharia de saneamento, o foco de tratamento de esgoto é relativamente recente. É uma visão que começa a nascer a partir de 1980”, destacou a professora.

Como exemplo, a parasitologista destacou o surto de criptosporidiose em Milwaukee, cidade de 1,5 milhão de habitantes nos Estados Unidos, onde 403 mil pessoas foram contaminadas por ingerir água de abastecimento público. “A partir daí, a legislação daquele país começou a ser mais restritiva, obrigando que o tratamento nas estações de tratamento de esgoto fosse por filtração”, explicou.

Para a pesquisadora, o Brasil deveria adotar uma posição mais rígida em relação às estações de tratamento de esgotos. “A Portaria 518 já coloca a filtração como uma etapa necessária do tratamento, mas ainda temos muitos municípios que não praticam essa filtração”, ressaltou. A Portaria 518/2004, do Ministério da Saúde, estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.

“A portaria é muito clara, mas nessas investigações de surtos é preciso ter metodologias validadas e padronizadas internacionalmente. No entanto, existem pesquisas em que métodos inadequados estão sendo utilizados para a pesquisa de protozoários patogênicos”, destacou Franco.

Mesmo com as deficiências apontadas, a professora ressaltou que hoje já há diversos grupos no Brasil atuando com a questão de parasitologia e água. A cientista destacou também a parceria realizada – desde 2002 – entre o laboratório em que trabalha e o Ministério da Saúde, visando à formação de formação de recursos humanos qualificados.

“Dentro desse esquema, posso dizer que a Sociedade Brasileira de Parasitologia tem tido um papel fundamental, pois nos últimos congressos esse problema tem sido foco da programação, que tem incluído minicursos. Mas, mesmo assim, ainda é incipiente. É importante que os cursos de medicina tenham em seu quadro de disciplinas o atendimento à questão de protozoários emergentes e oportunistas”, ressaltou.

 

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