FAPESP realiza reunião técnica para interessados em apresentar propostas ao programa PIPE. Projetos devem ser bem fundamentados e visar a novo conhecimento (Eduardo Cesar/FAPESP)

Reunião orienta sobre submissão ao PIPE
17 de dezembro de 2010

FAPESP realiza reunião técnica para interessados em apresentar propostas ao programa PIPE. Projetos devem ser bem fundamentados e visar a novo conhecimento, mas não precisam envolver “problemas avançados”

Reunião orienta sobre submissão ao PIPE

FAPESP realiza reunião técnica para interessados em apresentar propostas ao programa PIPE. Projetos devem ser bem fundamentados e visar a novo conhecimento, mas não precisam envolver “problemas avançados”

17 de dezembro de 2010

FAPESP realiza reunião técnica para interessados em apresentar propostas ao programa PIPE. Projetos devem ser bem fundamentados e visar a novo conhecimento (Eduardo Cesar/FAPESP)

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Qualquer pequena empresa pode apresentar proposta ao Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), contanto que se enquadre nas regras do programa e elabore uma proposta bem fundamentada, conduzida por uma equipe adequada e visando à aquisição de novos conhecimentos.

Mas, diferentemente do que muitos imaginam, não é preciso que a empresa trate necessariamente de “problemas avançados” ou que desenvolva “tecnologias de ponta”. Esse foi um dos diversos assuntos debatidos na quinta-feira (16/12), durante Reunião Técnica sobre o PIPE realizada na sede da FAPESP e voltada para empresas que apresentaram ou têm interesse em apresentar projetos ao programa.

De acordo com João Furtado, do quadro de Coordenação Adjunta de Pesquisa para Inovação da FAPESP e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), o importante não é desenvolver tecnologias de última geração, mas enfrentar, com a produção de conhecimento original, questões relevantes.

“Não se trata de enfrentar problemas avançados, mas de desenvolver soluções inovadoras para um problema científico e tecnológico bem delimitado, que seja importante para a sociedade”, disse.

Durante a reunião, que contou com mais de 90 participantes, foi apresentado um exemplo de projeto que, de acordo com Furtado, é um caso de problema científico bem delimitado.

O fisioterapeuta Jefferson Garcia contou como desenvolveu seu projeto de pesquisa que resultou em uma inovação para cadeiras de rodas. Ele não havia trabalhado com pesquisa até começar o projeto do PIPE. Sem funcionários, a empresa se resume a Garcia e a um sócio.

A equipe é completada por um grupo da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), liderada pelo professor Pablo Augustin. Garcia é o responsável pelo projeto. A proposta feita ao PIPE consistia em estudar um protótipo de propulsão invertida aplicado a cadeiras de rodas.

“A ideia inicial surgiu nos Jogos Paraolímpicos de 2004, quando assistíamos à maratona de cadeiras de rodas e observamos a flexão exagerada do tronco dos cadeirantes quando eles procuravam se mover em velocidade. Pensamos que se o movimento fosse invertido – como uma remada – ele traria benefícios à dinâmica da propulsão”, explicou.

De acordo com Garcia, as pesquisas mostraram que a maneira habitual de se locomover girando as rodas para a frente causa problemas posturais para os cadeirantes, pois força a musculatura da parte anterior do corpo. “A musculatura posterior é mais adequada, por sua extensão e por suas funções”, disse.

Com o movimento contrário ao do deslocamento, segundo ele, o cadeirante mantém as costas junto ao encosto da cadeira o tempo todo enquanto se desloca. A equipe analisou toda a literatura existente sobre o tema, estudou a biomecânica da propulsão e realizou diferentes testes.

“Desenvolvemos uma plataforma de rolo e fizemos adaptações na cadeira, para testes. Trabalhamos com 44 voluntários – incluindo o grupo de controle e 15 cadeirantes – e fizemos testes de comparação dos movimentos da roda para frente e para trás. Utilizamos uma plataforma baropodométrica para localizar e medir os pontos de pressão na cadeira durante os movimentos”, disse.

Os pesquisadores utilizaram ainda um sistema de análise cinemática dos movimentos, com câmeras e softwares apropriados para analisar os detalhes da propulsão. “Concluímos que o movimento invertido melhorava a postura, o rendimento do movimento e até mesmo as funções vitais, como respiração e digestão. As lesões em membros superiores tendem a diminuir”, afirmou.

O dispositivo de inversão do movimento das rodas, desenvolvido pelos pesquisadores, inclui uma chave bloqueadora. Com isso, o cadeirante pode optar por alternar o uso da propulsão convencional, ou invertida. Com as duas opções, ele pode trabalhar a musculatura de forma variada, sem sobrecarregar apenas a parte anterior ou posterior do corpo.

“Já tínhamos a patente mesmo antes do PIPE. Agora, pretendemos desenvolver o produto e, futuramente, comercializar no Brasil e no exterior. A ideia não é produzir exatamente as cadeiras, mas sim as rodas, que poderão ser adaptadas a qualquer cadeira”, disse Garcia.

Propostas aperfeiçoadas

Furtado explicou que o processo de avaliação dos projetos submetidos ao PIPE é composto de diferentes etapas. Primeiro, verifica-se se a documentação está completa e é consistente. Em seguida, uma análise preliminar avalia se a proposta poderá se configurar em um projeto de pesquisa. Depois, os coordenadores de área indicam assessores para avaliar as propostas.

“A partir daí começa o processo mais complexo: consultar os consultores indicados e descobrir quem está disponível para ler, investigar e emitir opinião sobre uma proposta em um curto prazo de três ou quatro semanas”, disse.

Passada essa fase, quando os pareceres são obtidos, todos os assessores que foram designados para avaliar propostas em uma mesma área temática são convocados para uma reunião, na qual discutem profundamente as propostas de suas áreas, a partir dos pareceres. Se uma delas for aprovada nessa fase, os coordenadores entrevistam os proponentes.

“Às vezes, as respostas obtidas por diferentes pareceristas são contraditórias. Mas na reunião com os assessores nós debatemos isso até formar uma opinião. Algumas vezes, a conclusão é que a proposta tem certas deficiências, mas que é muito boa. Outras vezes, avalia-se que tem grandes qualidades, mas não tem condições porque não atende a critérios importantes”, afirmou.

Eventualmente, segundo Furtado, uma proposta é denegada, mas tem qualidade suficiente para ser aprovada com algumas reformulações. “As próprias indicações dos pareceristas podem servir de base para uma reformulação”, afirmou.

Esse foi o caso da bióloga Jussara Bertho Fantinatti, que coordena um projeto PIPE relacionado ao desenvolvimento de fertilizantes de liberação lenta.

“Fizemos uma submissão de proposta em novembro de 2008. Depois da análise, ela foi denegada. Entre setembro de 2009 e fevereiro de 2010, fomos buscar respostas para todas as dificuldades que os assessores tinham levantado em relação a nossa proposta”, disse.

A pesquisadora afirmou que as principais críticas eram relacionadas à estrutura da equipe e a questões metodológicas. “Nessa revisão, ampliamos a equipe, com pesquisadores de nível nacional e internacional, e refizemos toda a metodologia, para que ela ficasse mais clara. Consultamos vários pesquisadores da área, para aprimorar as respostas. Apresentamos nova proposta que foi aprovada com elogios”, disse.

O projeto trata do desenvolvimento de fertilizante de distribuição lenta a partir de produtos da pirólise de resíduos agroindustriais.

“Utilizamos resíduos de frigoríficos para fazer uma pirólise. O produto disso é um bio-óleo que vamos levar a um laboratório e transformar em um fertilizante de distribuição lenta – para fornecer à planta os nutrientes de forma gradativa de acordo com sua necessidade. O processo vai garantir uma nutrição em tempo mais amplo para a planta, diminuindo a necessidade de aplicar frequentemente o produto no solo, diminuindo os custos de insumos”, disse Jussara.
 

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