Projeto da ECA-USP revela como funcionava a censura do regime militar sobre as artes cênicas em São Paulo

Resgate teatral
17 de novembro de 2004

Projeto desenvolvido na ECA-USP analisa 800 processos de liberação de peças teatrais pelos órgãos de censura do Estado de São Paulo entre 1930 e 1970. Banco de dados gerado pelo estudo está disponível na internet

Resgate teatral

Projeto desenvolvido na ECA-USP analisa 800 processos de liberação de peças teatrais pelos órgãos de censura do Estado de São Paulo entre 1930 e 1970. Banco de dados gerado pelo estudo está disponível na internet

17 de novembro de 2004

Projeto da ECA-USP revela como funcionava a censura do regime militar sobre as artes cênicas em São Paulo

 

Agência FAPESP - O escritor, dramaturgo e professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Miroel Silveira (1914-1988), é o principal responsável pela reunião das informações.

O esforço do intelectual permitiu que, no fim do período da ditadura militar, 6.136 processos de liberação de peças teatrais pelos órgãos de censura do Estado de São Paulo, abertos entre 1930 e 1970, fossem reunidos em um único arquivo. O tesouro histórico, que revela bastante o funcionamento da censura nas artes cênicas brasileiras, começa a ser desvendado.

O projeto A Censura em Cena – O Aquivo Miroel Silveira, organizado pela professora Maria Cristina Castilho Costa, também da ECA-USP, acaba de divulgar os primeiros resultados, em forma de um banco de dados disponível na internet.

Segundo Maria Cristina, foram analisados 800 projetos dos 6.136. O conjunto de documentos guarda, inclusive, os textos originais das peças referentes ao processos catalogados. "É uma verdadeira relíquia, que contribuirá para a história do teatro paulista", afirma a pesquisadora.

Entre os destaques estudado, está o processo de número 5.157, que culminou com a censura da peça A Semente, de Gianfrancesco Guarnieri. A solicitação da censura ocorreu em abril de 1961. "Estou surpreso, nunca pensei que eles guardassem as peças e os pareceres. Pensei que jogassem tudo fora", disse Guarnieri em entrevista à Maria Cristina.

Segundo os responsáveis pelo projeto, que tem apoio da FAPESP, além dos tesouros teatrais, a análise dos processos mostra uma relação complexa que existia entre artistas, censores, autoridades políticas, lideranças religiosas e a sociedade civil. Não se tratava de um simples ato burocrático. O arquivo Miroel Silveira, por exemplo, mostra, no caso de A Semente, vários telegramas da sociedade civil organizada que se mostrava a favor da proibição da peça.

"O Corpo Docente do Colégio Sacre-Coeur Marie congratula-se vossência louvável ato proibindo a peça A Semente perigosa costumes a nossa juventude". Esse é o conteúdo de uma das peças telegráficas arquivadas junto com o processo da obra de Guarnieri. O texto da peça abordava as condições de vida dos operários e os conflitos enfrentados na organização da luta política.

A análise ainda inicial dos processos permitiu ao grupo de pesquisadores da ECA-USP dividir os interesses da censura em quatro grandes temas: de ordem moral, de ordem política, de ordem religiosa e de ordem social. O trâmite de todos os processos e os diversos graus de interferência dos censores são outras informações que agora estão disponíveis.

O site do projeto é: www.eca.usp.br/censuraemcena


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