Relógio impresso
26 de junho de 2006

A partir de estudos sobre a idade das mutações genéticas em seres vivos, biólogo desenvolve método simples para datação de obras antigas, impressas a partir de blocos de madeira ou chapas metálicas

Relógio impresso

A partir de estudos sobre a idade das mutações genéticas em seres vivos, biólogo desenvolve método simples para datação de obras antigas, impressas a partir de blocos de madeira ou chapas metálicas

26 de junho de 2006

 

Agência FAPESP - Polêmicas sobre a idade de determinados livros impressos na Europa, a partir do século 15, costumam se estender por décadas ou mesmo séculos. Para tentar colaborar com o fim desses debates técnicos, Blair Hedges, da Universidade Penn State, nos Estados Unidos, acaba de apresentar um método de datação bastante simples e que surgiu a partir da experiência em uma área que nada tem a ver com o mundo das letras.

O pesquisador norte-americano é biólogo, mas tem como hobby o estudo de mapas e impressões feitos no Renascimento. Por conta disso, surgiu o interesse em datar determinadas publicações sem momento definido de origem.

Assim como os seres vivos têm uma espécie de relógio molecular, que ajuda muito os cientistas a determinar as taxas das mutações genéticas ao longo da vida de determinada espécie, as obras impressas há séculos poderiam ter assinaturas feitas pelo tempo. E é exatamente isso que Hedges conseguiu identificar.

Todo o trabalho de impressão feito ao longo dos séculos 15 e 16, por exemplo, foi confeccionado sobre matrizes de madeira ou de metal. E, como esses dois materiais deixam marcas permanentes nas páginas dos livros, Hedges achou que poderia obter alguma marcação temporal a partir da análise dessas impressões.

Como na época era muito caro trocar os blocos de madeira ou chapas de prata, uma mesma matriz era usada por muito tempo. A conseqüência é que as linhas impressas do papel podiam ficar mais quebradas (no caso da madeira) ou mais finas (no caso do metal) ao longo do tempo.

A partir disso, Hedges fotografou as marcas e, depois, por meio de um programa de computador, conseguiu calcular uma espécie de taxa de degeneração das matrizes. Ele analisou 23 cópias de uma mesmo livro. Como cada um tinha 112 impressões diferentes, teve que analisar 2.576 marcas de matrizes de madeira.

Para o método ser aplicado é necessário que existam pelo menos duas imagens feitas em datas conhecidas e pela mesma matriz de madeira. No caso da obra estudada, um atlas de ilhas do mundo feito por Isolario Bordone, Hedges tinha em mãos quatro edições, datadas de 1528, 1534 e 1547. A idade da quarta era motivo de debates acadêmicos.

Depois de milhares de análises, feitas entre as figuras, mas também a partir do logo da editora – sabidamente feito por muitas décadas a partir de uma mesma matriz –, veio o veredicto. O livro havia sido impresso em 1565, com um erro máximo de 1,3 ano para mais ou para menos.

Para Hedges, a obtenção de um mesmo resultado a partir de duas aproximações diferentes é suficiente para mostrar a importância do método. O biólogo afirma estar ansioso para usar essa nova forma de datação em outros grandes mistérios, como peças de Shakespeare ou quadros de Rembrandt.


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