Cientistas identificam o elo químico que faltava descobrir entre as emissões naturais de aerossóis da floresta e o regime de chuvas (foto: divulgação)

Regulador para o ciclo hidrológico da Amazônia
19 de fevereiro de 2004

Cientistas do Instituto do Milênio do LBA identificam o elo químico que faltava descobrir entre as emissões naturais de aerossóis da floresta e o regime de chuvas. Pesquisa, da qual faz parte Paulo Artaxo, da USP, foi publicada na edição de sexta (20/2) da revista Science

Regulador para o ciclo hidrológico da Amazônia

Cientistas do Instituto do Milênio do LBA identificam o elo químico que faltava descobrir entre as emissões naturais de aerossóis da floresta e o regime de chuvas. Pesquisa, da qual faz parte Paulo Artaxo, da USP, foi publicada na edição de sexta (20/2) da revista Science

19 de fevereiro de 2004

Cientistas identificam o elo químico que faltava descobrir entre as emissões naturais de aerossóis da floresta e o regime de chuvas (foto: divulgação)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O vigoroso sistema hidrológico da Amazônia há tempos tem instigado os cientistas. Para a produção da elevada quantidade de nuvens que existe no céu da maior floresta tropical do mundo é preciso que exista na atmosfera um grande número de partículas de aerossol, conhecidas como núcleo de condensação de nuvens. O difícil era calcular a quantidade de aerossol necessário.

"Quando se media a concentração das partículas, invariavelmente faltavam compostos químicos orgânicos que pudessem fechar o balanço. O número dos núcleos de condensação de nuvens era sempre muito baixo", disse Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, à Agência FAPESP.

O pesquisador usa o passado como tempo verbal pois um artigo publicado nesta sexta (20/2), pela revista Science, mostra que a ciência conseguiu entender por completo o balanço hídrico. Os responsáveis pela descoberta, após três anos de investigações, foram pesquisadores ligados ao Instituto do Milênio do LBA (sigla em inglês de Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia), em projeto parcialmente financiado pela FAPESP.

"O composto 2-methylthreitol (C5H7O4) auxilia no fechamento dessa importante questão e aponta para uma ligação efetiva entre as emissões biogênicas da floresta e o clima sobre ela", explica Artaxo, que também coordena o instituto e é um dos autores do artigo na Science, ao lado de outros nove cientistas europeus e um australiano.

"Esse composto orgânico é produto de oxidação fotoquímica do isopreno. Até o momento, se desconhecia a possibilidade de esse composto químico atuar como precursor de partículas", disse.

Como, para formar chuva, além do aerossol é necessário também a presença de vapor de água no ambiente, a descoberta do Instituto de Milênio tem uma relação ainda mais preocupante para a conservação da Amazônia.

Os pesquisadores já sabiam que a troca da floresta por pastagens diminui a evapotranspiração (combinação da evaporação da água do solo e das superfícies líquidas com a transpiração dos vegetais) dentro do ecossistema. "Mas, agora, podemos dizer que também o desmatamento, por causa dessa nova ligação que foi descoberta, diminui a quantidade de núcleos de condensação de nuvens", explicou Artaxo.

Apesar de ser uma pesquisa da área básica, que pretende investigar como é o funcionamento amazônico, o estudo do Instituto do Milênio mostra também uma perspectiva importante para a preservação ambiental.

"O enfraquecimento do ecossistema, provocado pela derrubada da floresta, poderá diminuir bastante o regime de chuvas na região e trazer, inclusive, períodos de seca", acredita o pesquisador da USP. Anualmente, são derrubados 25 mil quilômetros quadrados de mata amazônica. "A única saída é reduzir esse ritmo", acredita Artaxo.


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