Nanocristais de uso farmacêutico, desenvolvidos por pesquisadora do IPT em centro na França, poderão ser usados no tratamento contra o câncer (foto: University at Buffalo)
Nanocristais de uso farmacêutico, desenvolvidos por pesquisadora do IPT em centro na França, poderão ser usados no tratamento contra o câncer
Nanocristais de uso farmacêutico, desenvolvidos por pesquisadora do IPT em centro na França, poderão ser usados no tratamento contra o câncer
Nanocristais de uso farmacêutico, desenvolvidos por pesquisadora do IPT em centro na França, poderão ser usados no tratamento contra o câncer (foto: University at Buffalo)
Por Thiago Romero
Agência FAPESP – Cerca de 40% dos novos medicamentos formulados por laboratórios em todo o mundo não são aprovados nos testes clínicos por não serem absorvidos adequadamente pelo organismo humano. Para reduzir esse problema, uma alternativa é o desenvolvimento dos nanocristais de uso farmacêutico.
O cenário foi apresentado por Maria Inês Ré, fundadora do Laboratório de Tecnologia de Partículas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), na manhã desta terça-feira (11/11), durante o Workshop Nanobio, na sede da entidade na capital paulista.
A pesquisadora, que atualmente conduz um projeto de pesquisa no Rapsodee Research Centre, vinculado à École des Mines d'Albi-Carmaux, na França, apresentou parte de seus estudos naquele país, realizados em parceria com a indústria e o governo, relacionados com a formulação de novos medicamentos para o tratamento do câncer.
“O desenvolvimento de nanocristais para a área farmacêutica é uma tendência nova que está sendo estudada em alguns laboratórios pelo mundo. As pesquisas com nanocristais em sistemas microfluídicos são bem recentes e começaram a ser conduzidas a partir de 2006”, disse Maria Inês à Agência FAPESP.
Ainda não há, segundo ela, produtos com essa tecnologia no mercado. “E em termos de desenvolvimento mundial desse tipo de processo, o Brasil está na linha de frente ao lado da China, Japão, Estados Unidos e de alguns países da Europa”, apontou a pesquisadora, que apresentou a palestra Nanopartículas e nanoencapsulação.
Além de boa parte dos fármacos lançados no mercado ser muito potente, segundo ela os problemas de má absorção podem ser explicados pelo fato de a maioria dos fármacos reprovados nos testes clínicos ser extremamente hidrofóbica, ou seja, apresenta grande dificuldade de solubilizar no organismo humano, principalmente as moléculas sintetizadas.
“Por isso é preciso reduzir o tamanho desses medicamentos até a escala nanométrica visando a aumentar sua área de contato com os fluidos biológicos do organismo e a favorecer a solubilização e a absorção correta do fármaco pelo organismo”, explicou.
De acordo com a pesquisadora, que teve apoio da FAPESP para alguns projetos de pesquisa relacionados a sistemas de micro e nanoencapsulação – capazes de identificar o órgão, tecido ou célula a ser tratado –, os resultados do trabalho desenvolvido na instituição francesa poderão ser utilizados, por meio de um convênio firmado com o IPT, pelos pesquisadores e pela indústria dos dois países.
“Assim como ocorre com a exploração das propriedades da matéria na escala nanométrica, estamos explorando as propriedades dos fluidos para a mistura de líquidos que gerem partículas de interesse farmacêutico. Estamos associando competências para a geração dos nanocristais, levando em conta todos os riscos e a compatibilidade dos materiais envolvidos no processo”, apontou.
Segundo ela, as metodologias de desenvolvimento dos nanocristais validadas durante seu intercâmbio no Rapsodee Research Centre deverão ser transferidas aos pesquisadores brasileiros, podendo gerar benefícios para a indústria farmacêutica nacional.
“O conhecimento gerado na França com a validação dos sistemas microfluídicos para a obtenção dos nanocristais permite que essas metodologias sejam posteriormente alteradas e adaptadas. Essas informações deverão ser absorvidas pelo grupo de cristalização do IPT, transformando-se em conhecimento tecnológico para o país”, disse.
Nanobiotec
O Workshop Nanobio, que apresentou aplicações da nanobiotecnologia em áreas como saúde, meio ambiente e agronegócio, teve o objetivo de discutir possibilidades de elaboração de projetos de pesquisa a serem apresentados ao edital do Programa Rede-Nanobiotec-Brasil da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O programa, que teve seu prazo para a apresentação de projetos adiado para 28 de novembro, apoiará estudos sobre as implicações de produtos, processos e serviços nanotecnológicos com foco na formação de recursos humanos, por meio da implantação da Rede de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, Cooperação Acadêmica e Acadêmica-Empresarial no país.
“A importância desse programa é que ele visa não apenas a apoiar as pesquisas científicas sobre nanobiotecnologia, mas também a analisar seus riscos, que podem eventualmente se transformar em oportunidades. Nós cientistas não podemos ter medo dos riscos”, disse no evento o físico Sérgio Mascarenhas, professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP de São Carlos, por ele fundado em 1996.
Mais informações: www.capes.gov.br/editais/abertos/2300-programa-de-nanobiotecnologia
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.